Translate

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

As portas da Percepção

Maria da Conceição Ouro Reis, do livro inédito: “A Casa cujo lixo são pétalas de rosas”
  
A Busca do Fio

... Não é uma nuvem de fumaça...
...Não é um limite transparente...
Não se trata de SER ou de (do) não SER.
_

É um tênue fio
Inquebrável - iquebrantável
que liga
a Literatura à Psicanálise
e a Psicanálise à Literatura.


Conexão entre Literatura e Psicanálise?
Dúvida?
Certeza?
Convicção?

Maria da Conceição Ouro Reis


“Se as Portas da Percepção se abrissem, tudo apareceria como realmente é.”
William Black

“Quando a pessoa é insatisfeita com o mundo real e possui aquilo que chamamos de dotes artísticos, pode transformar suas fantasias não em sintomas, mas em criações artísticas, fugindo, assim, da “neurosis”  e voltar a encontrar por esse caminho indireto, a relação com a realidade”.
“Esquema de Psicanálise”- Freud

 ...E um grito abafado acordou a senhora W!
 ...E como um passe de mágica, na sua mente se delineou o sonho ou pesadelo que a maltratara durante aquela noite:
“Um Portal cor de bronze destacava-se no horizonte e ela corria para alcançá-lo e conseguir transpô-lo; porém, o horizonte era o próprio infinito. Lembrou-se, também, que havia lido em algum lugar, que, nas matemáticas transcendentais, demonstra-se, praticamente, que ZERO multiplicado pelo infinito é igual a UM. Na ordem das idéias absolutas ZERO significa o SER indeterminado. O INFINITO, o ETERNO na linguagem dos Templos marcava-se por um círculo ou uma serpente mordendo a cauda, que significava o INFINITO  movendo-se sobre si mesmo.” Onde ela teria lido tais palavras e aprendido tais idéias?
Naquele momento, ela se movia sobre si mesma. Então, ela era INFINITA?!
Conseguiu, enfim, no sonho, aproximar-se daqueles portais e leu a seguinte inscrição: - ESKATO BEBELOI (para longe os profanos)- Tal inscrição pertencia ao “Instituto de Pitágoras”. E a senhora W  pensava: “Estaria sonhando ou teria retrocedido no TEMPO?”
Por fim, transpôs os portais e encontrou-se no início de uma floresta densa, escura e amedrontadora; leu o seguinte cartaz: ”Ciência dos Números”. O número não era considerado uma quantidade abstrata, mas uma virtude intrínseca e ativa do UM supremo, o DEUS, a origem da harmonia universal. Deduziu, então, que estava muito longe daquela PAZ tão sonhada e acalentada por todos os mortais. Era preciso atravessar aquela mata horripilante e tenebrosa. Tudo estava, completamente, despovoado de seres vivos. E o primeiro passo foi dado; entretanto, ela não reparou que se tratava de uma areia movediça e a perna que dera aquele passo foi tragada até acima do joelho. Com um esforço sobre humano, ela se soergueu e conseguiu andar um pouco. As folhas secas sobre aquele terreno lodoso encobriam perigos. No vislumbre de um momento, a senhora W percebeu sons desconexos, vindos não se sabe de onde, e, parou... Teve medo. Seria a morte? O desconhecido? Não lhe importava; porém, fosse o que fosse, para ela, seria sempre aquele pesadelo.
Eis que dos sussurros e ais, um baque milenar ecoou na floresta. E pela vez primeira um Ser Humano defrontou-se, vis a vis, com um FAUNO. Trêmula, nervosa, receosa de tudo, mesmo assim, ela divisou aqueles olhos cheios de ternura, com os quais, um dia, sonhara e desejara. Pobre senhora W! Foi a visão de um segundo, pois de imediato o silêncio voltou e a solidão também... Mas ele deixara cair a sua flauta encantada. Ainda receosa, a senhora W curvou-se e a pegou; só o fato dos seus dedos entrarem em contato com o instrumento, foi o suficiente para que uma melodia nova e milenar, lenta e em “stacatto” se fizesse ouvir.
Abriu-se uma clareira... Vegetação rasteira... E bem no meio de tudo: “A Lagoa do Fauno”.
Com o coração aos saltos, ela mergulhou de cabeça. Foi quando emitiu aquele grito que a despertou.
Até hoje, séculos decorridos, a estórica, a lenda, o mito da senhora W se repete.
MORAL DA ESTÓRIA: Feliz daquele que mesmo em Sonho conhece a “Lagoa do Fauno”.