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segunda-feira, 22 de outubro de 2012

ESCOLA NORMAL


Uma trajetória de lutas, glórias e sonhos

Yvone Mendonça de Souza

Todas as coisas, seres, instituições, surgem, têm sua gênese e têm sua finalidade. É o princípio científico e também filosófico da Etiologia, ciência das causas, da origem das coisas. Até mesmo no verdor dos nossos anos, em nossa infância, descobrimos o sentido etiológico da criação do homem na célebre e repetida pergunta e resposta do catecismo: 

- Para que Deus criou o homem? Para sua própria glória.

Assim, senhores professores, educadores convidados, alunos, distinta platéia, sabendo-se passados 130 anos da criação desta modelar e histórica Instituição Educacional que tanto orgulha Sergipe, avocamos o direito de perguntar, ainda embasados no princípio etiológico: - Por que e para que criaram a Escola Normal? É claro que, a priori, todos conhecemos os seus elevados e reais objetivos. Porém só depois de um volver de olhos à sua retrospectiva histórica, iremos encontrar sem tergiversações a razão lógica e teleológica dessa resposta como também do título que demos a esta reflexão que faremos agora: Escola Normal, uma trajetória de lutas, glórias e sonhos. E quando falo de glórias eu traduzo por realizações e quando me refiro as lutas eu invoco o passado de trabalho, o idealismo e dedicação de todos os diretores, vice-diretores, corpo técnico e administrativo e a douta congregação do passado e do presente, esta que aqui se encontra, labutando no dia a dia e que é testemunha viva do terrível e difícil status que estamos atravessando agora. E ainda eu me permito falar nos sonhos e realizações dos que já se foram, que por aqui passaram e que se perpetuam hoje no assento etéreo de que fala Camões e “que memória desta vida se consente” e que se encontram a destra de Deus, e entre os anjos e não são poucos, constituem uma imensa galeria, felizes pela certeza do dever cumprido. E os que aqui se encontram agora e continuam a sonhar com uma educação de qualidade não só para as elites, mas para todos, reivindicando o direito de ensinar e educar para o favelado, o menor carente e abandonado e vilipendiado por uma política educacional de estatística e jamais direcionada para que a criança e o adolescente exercitem de direito e de fato a plena cidadania.  

Estamos cansados e saturados de tanto esperar, mas nunca deixaremos de sonhar: “Sem sonho nada se faz. Mas não basta sonhar. É preciso perseguir o sonho, trabalhar por ele, lutar, fazer sempre. Não parar. Não esperar” dizia Victor Civita.

Conheçamos agora, um pouco desta Escola Normal ou Instituto de Educação Rui Barbosa, em rápidas pinceladas, um pouco da sua história eivada de sucessos, fracassos, lutas e glórias, conseqüência do momento histórico e político do País e do Estado, até o presente:

Acreditavam os homens que fizeram a Independência Nacional, em 1822, na eficácia do Método Lancaster, ou ensino mútuo, para resolver o problema da ignorância da quase totalidade dos brasileiros. “Em 1825, as autoridades imperiais já haviam oficializado aos Presidentes das Províncias e para o então Presidente, um dos mais esclarecidos homens que teve Sergipe Del Rei, Manuel Clemente Cavalcante de Albuquerque seria importante a criação de uma Escola Normal, pedindo, na ocasião, o ensino de professores da Corte para habilitarem os professores daqui. Não foi, porém acatada a sugestão, mas cabe-lhe a primeira tentativa de implantação do Ensino Normal em terras sergipanas nos idos de 1825.

O Ato Adicional de 1834 legava às Províncias a responder e organizar o Ensino Público fazendo eclodir inusitado interesse pelo problema da formação pedagógica do professor.
Em 1835, nasceu em Niterói, a primeira Escola Normal do País, sendo também a primeira Escola Normal Pública de toda a América.

A pequena Província de Sergipe não permaneceu à margem desse movimento. Em sua fala de 1836, à Assembléia Provincial, o Dr. Manoel Fernandes de Barros, salientou pela primeira vez a necessidade do Ensino Normal em Sergipe. Dois anos depois, o então Presidente da Província, Cel. José Elói Pessoa, sugere aos legisladores sergipanos a criação de uma escola de formação de mestre de primeiras letras. Aceita a sugestão, foi criada a Escola Normal pela Resolução nº 15 de 20 de março de 1838. Segundo dispunha a Resolução nº 15, podia freqüentar a Escola Normal os professores públicos designados pelo Governo e os que desejassem conquistar o diploma de normalista. A Escola Normal desempenharia desse modo as funções de órgão de formação e de centro de aperfeiçoamento do corpo docente do ensino primário. Esta Escola teve como diretor o Pe. Antônio Bastos depois de ir ao Rio de Janeiro onde se encontrava a Corte, objetivando atualizar-se para implantá-la em dois anos. O Pe. Basto veio a falecer e deu-se a vacância do cargo. A Resolução nº 15 foi revogada pela de nº 130.

Sergipe passa por um período de dificuldades financeiras, impedindo a implantação da primeira Escola Normal. Porém, esse período foi marcado por discussões sobre o sistema pedagógico que convinha ao país. Iam buscar modelos em outras terras, daquilo que deveria ser implantado no Brasil.
 
Várias tentativas foram feitas é bom que se frise no período de 1848 a 1870, para organizar o Ensino Normal em Sergipe.

O artigo nº 723 de 1865 decreta que, o patrono da escola Normal é Rui Barbosa.

Foi criado o Regulamento Orgânico nº 024 de 24 de outubro de 1870, sob o nº 893 e instalado a 03 de fevereiro de 1871, o curso normal, no prédio onde hoje é o Fórum Desembargador Vasconcelos, na Praça da Conceição (atual Parque Teófilo Dantas ou Praça Olimpio Campos), funcionando oficialmente anexo ao Atheneu Pedro II. Este acontecimento foi importante, sobretudo, pelos novos rumos que abria à Educação Sergipana ao determinar o Art. Nº 16: “A instrução pública será dada:

1. Em estabelecimento público de línguas e ciências preparatórias, o qual fica criado nesta capital com a denominação de Atheneu Pedro II. 
2. O Atheneu se comporá de dois cursos diferentes: de Humanidade e de Escola Normal.

Não era ainda a Escola Normal, mas um curso Normal que somente entrou em funcionamento em 1871, conjuntamente com o de Humanidade no velho Atheneu. Criou-os o Presidente da Província, tenente Coronel Francisco Cardoso Júnior, 36° Presidente da Província de Sergipe. Ao eminente educador Dr. Manuel d'Araújo, criador do Atheneu, deve-se a criação da Escola Normal. O novo curso Normal foi instalado solenemente, contudo os resultados colhidos no primeiro ano de funcionamento foram mínimos. “Há cinco cadeiras vagas, precisando de mestre e a expectativa de outras vacâncias”, assinalava com amargura, o Dr. Manuel Luiz Azevedo D'Araújo, então diretor da Instrução.

O magistério tido e havido como profissão de iletrados e incapazes, em vista do favoritismo político, do regime do pistolão, no recrutamento do pessoal docente, não oferecia atrativos. Dizia o professor Calazans que o Dr. Manuel Luiz ouvira de alunos dos quais procurava aliciar para o curso Normal que “quando quisessem ser professores públicos se preparariam em 15 dias e um mês”. Este absurdo é coisa do passado. Não se pode admitir mais hoje, com os avanços pedagógicos e o nível de conscientização das Universidades e das Escolas Normais, que têm desenvolvido pesquisas no sentido de descobrirem e detectarem o nível da clientela que a elas se dirigem, objetivando melhorar o preparo dos docentes e sensibilizá-los ao comprometimento com o processo educativo. E não poderia ser diferente. Enquanto a história que na afirmação de Cícero  “é a mestra da vida” registrou os períodos antropocêntrico, teocêntrico com a cibernética chegando ao apogeu, permitindo que informações sejam transmitidas numa velocidade digamos assim, de infinita grandeza, que não se pode admitir tal atraso nas questões da informação e do saber.

Retomando a cronologia histórica da Escola Normal em 1873, em relatório apresentado ao Presidente da província, o Dr. Manuel Luiz confessava entusiasmado: “A Escola Normal progride e revela bastante aumento de suas matrículas”.

Na história da educação de Sergipe houve por vários momentos quem defendesse a junção dos cursos de Humanidade e Normal. Houve também uma forte ala de políticos e educadores que defendeu a autonomia do Ensino Normal. Nessa ala destacou-se o então Presidente da Província, Passos Miranda, em 1875 e o professor, Brício Maurício de Azevedo Cardoso, mestre ilustre a quem fora entregue a direção da Escola Normal.

Entre 1875 e 1876 a situação da Escola Normal foi precária. Entrou em crise. O desinteresse do elemento masculino pelo magistério primário foi uma das principais causas dessa crise, traduzida no decréscimo das matrículas.

Mas foi, porém, a idéia de Horace Mann, de entregar o Magistério primário à mulher, até então privilégio masculino, e vitoriosa nos Estados Unidos durante a guerra da Secessão que salvou o Ensino Normal em Sergipe de outra derrocada.

De crise em crise, o ensino primário em Sergipe continuava preso à rotina, lecionado por professores leigos, escolhidos em sua grande maioria por ter boa conduta moral, porém sem preparo suficiente para o cargo. Faltava aos dirigentes tomar medidas políticas que estimulassem aos estudantes perspectivas de aproveitamento nos cargos de professor e com remuneração condigna. 

A organização das Escolas Normais iniciada na terceira década do século XIX trouxe pequena melhora, devido à instabilidade de tais cursos pela não garantia de profissionalização e mau preparo dos professores.

Seria o Presidente Herculano Inglês de Souza (18/05/1881) a (22/02/1882) o mais atingido pela pressão da estrutura social dominante, ao procurar implantar em Sergipe inovadoras reformas educacionais.

O jovem paraense, de 31 anos, chegava a Sergipe, precedido da projeção alcançada nos meios literários do país, com a publicação de seus famosos romances que introduziram o Naturalismo no Brasil, nos quais era visível a influência de Eça de Queiroz e Emile Zola. Imbuído de idéias progressistas, procurou reformular o sistema educacional vigente através de atos que esbarraram, porém, na realidade social da terra. Neles estava incluída a Escola Normal destinada a habilitar indivíduos de ambos os sexos, na teoria e na prática do magistério primário, conforme determinava o Regulamento de 05 de junho de 1881. O curso seria dado em três anos com um excelente currículo.

Por conta desse Regulamento, somente os professores diplomados pela Escola Normal poderiam exercer o Magistério nas primeiras classes.

Ao tomar atitudes que contrariavam os valores na sociedade sergipana da época, como por exemplo. a não obrigatoriedade do ensino religioso, quer nas Escolas Primárias quer nas Escolas Normais, Inglês de Souza foi bastante questionado. A própria criação de uma Escola Normal mista escandalizaria os estreitos limites da sociedade provinciana, desafiando tradições e preconceitos arraigados. Atingia o que a sociedade patriarcal, hipocritamente, considerava um dos seus suportes, a segregação da mulher. Assim, o novo estabelecimento passou a ser visto como “uma casa de hermafroditas”. Combatido pela preconceituosa sociedade da época, o Dr. Inglês de Souza passou apenas 10 meses no Governo. Logo após sua saída apressaram-se adversários em demolir a obra educacional deixada.

Enquanto fracassava a Escola Normal destinada aos homens, por falta de clientela, adquiria importância a feminina, que começava a atrair as jovens da classe média de Aracaju, contando em 1883, com 55 alunas, sendo 20 no 1º ano, 11 no 2º e 24 no 3º. Da turma diplomada em 1884, destacar-se-á Etelvina Amália de Siqueira, poetisa, contista, jornalista, estando seu nome ligado à campanha abolicionista em Sergipe, notabilizando-se pela atuação na imprensa e na Cabana do Pai Tomás, centro abolicionista que funcionava em Aracaju.. Educadora emérita, distingue-se como professora catedrática de Português da Escola Normal. Podemos considerá-la como a pioneira das mulheres sergipanas nas atividades intelectuais.

Continuou promissora, a marcha da Escola Normal feminina, fornecendo professores que foram ocupando as cadeiras de curso primário, contribuindo para melhorar o nível do magistério primário até então improvisado sem qualquer formação pedagógica.

A trajetória histórica da Escola Normal tem destacados momentos de lutas, glórias e sonhos. O momento de Etelvina Amália de Siqueira é, sem sombra de dúvida, um período fecundo e de orgulho para uma escola que tem como patrono aquele que foi o símbolo da inteligência brasileira, Rui Barbosa, a Águia de Haia. Repleta de meandros em sua história, nova derrocada surge na Escola Normal. Em 1898, o Presidente Martinho Garcez extingue a Escola Normal sem justificativa, permanecendo os professores em disponibilidade. Seria restaurada em novembro de 1900 na administração do Monsenhor Olímpio Campos através do Decreto 494, que ao mesmo tempo procurou garantir os direitos do professorado e os interesses do estado, evitando a sua demissão em massa e remoção a bem do serviço público, fato que fazia da professora um joguete dos chefes políticos interioranos.

A Escola Normal foi mais uma vez reorganizada com a Reforma Benjamin Constant. E do seu corpo discente saem professores que ilustrarão a Congregação da Escola Normal de Sergipe na primeira metade do século XX, a exemplo de Leonísia e Olga Fortes, Norma Reis (de quem tive o privilégio de receber os primeiros ensinamentos da língua de Victor Hugo, Lamartine, Chateaubriand e Moliére); Leonor Teles de Menezes, Maria da Conceição Melo Costa entre outras que estão a exigir da Escola Normal a valorização do trabalho que realizaram.

No governo do Dr. José Rodrigues Dória (1908-1911) o ensino normal foi finalmente reorganizado no estado, passando a ter a duração do curso quatro anos, destinados a ambos os sexos e o seu currículo ampliado. Outra iniciativa deste governo se verificou quando construiu um prédio próprio para funcionamento da Escola Normal, na Praça Olímpio Campos, dotado de material importado sofisticado para a época (BERGER,1995,p.13), fato que representou uma nova dimensão na história dessa instituição e da educação sergipana.

Na administração do Governo Graccho Cardoso (1922-1926) um dos mais destacados do período, o ensino normal sofreu mais uma alteração. Além da denominação de Escola Normal Rui Barbosa, homenagem ao precursor da reforma do Ensino, institui novo Regulamento de Ensino, em 1926, alternando o seu plano de estudo e determinando a duração do curso de cinco anos, objetivando fornecer um melhor preparo ao professor das primeiras letras.

Por força da Lei Orgânica do Ensino Normal, Lei nº 8530 de 2 de janeiro de 1946 as Escolas Normais do País tinham seus cursos modificados, tendo que adaptar-se com a Lei nº 30 de 04 de dezembro de 1947. Passou a denominar-se Instituto de Educação “Rui Barbosa” com a duração de dois anos, mantendo os seguintes cursos: ginasial, de formação de professores primários, de especialização e de administração escolar; contudo, só funcionaram efetivamente os dois primeiros. Foi previsto o funcionamento de uma Escola de Aplicação e de um Jardim de Infância que funcionaram por um determinado período.

Com auxílio federal recebido por intermédio do INEP, iniciou o Governador Arnaldo Garcez, no quadriênio do seu Governo, a construção do prédio atual da Escola Normal, o qual foi concluído no Governo de Leandro Maciel. Dessa forma o Instituto de Educação “Rui Barbosa” foi transferido da Praça Olimpio Campos, para a rua de Laranjeiras onde funciona atualmente. Esse fato representou mais um marco na história da Instituição. Vários foram os motivos para que ocorresse a mudança do prédio, dentre eles estavam a questão do espaço físico e a necessidade de dotar o prédio de características mais modernas que a nova pedagogia exigia e até a oportunidade de oferecer às alunas dos bairros periféricos o acesso a esse ramo de ensino.

A Lei nº 4024 de 20 de dezembro de 1961 ao fixar as Bases da Educação Nacional, determinou pelo Artigo 53  “A formação dos docentes para o ensino primário far-se-á”:
a) em escola Normal de grau Ginasial no mínimo de quatro séries anuais onde, além das disciplinas obrigatórias do curso Secundário e Ginasial, será ministrada preparação Pedagógica;
b) em escola Normal de grau Colegial de três séries anuais no mínimo, em prosseguimento ao grau Ginasial.

Nesse pêndulo natural da história, o Instituto de Educação “Rui Barbosa” sofreu as transformações que o momento histórico, social, político e econômico a impingiu, sendo dirigido por ilustres mestres, comprometidos com o processo educacional em nosso Estado e com a Educação como um todo.

Ao completar 100 anos, a Escola Normal tinha à frente de sua direção, a professora Maria das Graças Azevedo Melo que iniciara no ano de 1965. Desde o início de sua gestão diretiva e com seu elevado espírito de liderança, pôs em mais alto grau o nome do estabelecimento, justificando assim a sua escolha pelas autoridades responsáveis pela educação em nosso Estado. Em sua administração a escola conheceu várias reformas e criações de cursos necessários ao bom aprendizado dos alunos. Foi criada e administrada corretamente uma biblioteca como também uma sala de música, além da restauração do gabinete médico e do laboratório.

Por ocasião da promulgação da Lei 5692/71 infundiu-se um caráter profissionalizante a esse curso, passando a constituir-se apenas mais uma habilitação profissional entre tantas outras, o que fatalmente veio contribuir tanto para a sua descaracterização quanto para a proliferação do mesmo.

Em novembro de 1998 o Conselho Estadual de Educação aprovou o Regimento do IERB e aos 24 de outubro de 1990 o Conselho expede o seu Reconhecimento com louvor.

Nestes últimos 30 anos a Secretaria de Estado da Educação fez algumas tentativas de revitalização do ensino normal, enviando docentes a centros diversificados de estudos do centro e sul do País, os quais ao retornarem deveriam aplicar as novas idéias e experiências, no entanto a maioria esbarrava com a falta de recursos e apoio da própria Secretaria na implementação das novas metas.

Ao completar 120 anos de existência sob a administração da ilustre mestra Marlene Silveira Queirós, o Instituto de Educação Rui Barbosa promoveu alguns momentos de reflexão, repensando os objetivos e compromissos desta agência de formação de docentes.

E hoje, ao completar 130 anos de existência de lutas, sacrifícios, glórias e sonhos, rendemos as mais justas homenagens a todos que por aqui passaram acompanhando e fazendo história com a Instituição. Homenageamos todos os professores através dos nomes de Arthur Fortes, Abdias Bezerra, José Bezerra, Cecílio Cunha, Júlia Teles, Rosália Bispo, Elodi, Maria Augusta Moura, Adelci Figueiredo, Maria Lígia Pina, Vilma Santana, Antônio Joaquim Filho, José Fonseca Gesteira, Maria Hermínia Caldas, Elisabete Novais, Maria de Lourdes Ribeiro, Maria da Glória Portugal e Maria Augusta Lobão.

Homenageamos agora todos os diretores que prestaram relevantes serviços a esta Instituição através dos nomes de Manuel Luiz Azevedo d'Araújo, Franco Freire, Severino Pessoa Uchoa, José Gesteira, Maria da Graças Azevedo Melo, Marlene Rosa Montalvão, Cláudia Lima, Marlene Silveira Queiroz e agora esta brava equipe diretiva e docente destes últimos dez anos e da atualidade com o Professor José Edvaldo dos Santos e coordenadores, que carregam em seus ombros e nos sonhos a vontade de transformar esta Escola de formação de professores na mais qualificada e modelar instituição, um verdadeiro centro de excelência e referência no Estado e na região.

Sem querer ser catastrofista podemos afirmar que a educação vive nesta última década do século momentos de profunda crise. Há uma perda de controle da disciplina natural nas escolas ainda que admitamos um certo liberalismo. O professor é cada vez mais desprestigiado, ocasionando greves e paralisações justas até certo ponto, ante as péssimas condições de trabalho, desilusões, falência. E a Escola Normal dentro desse contexto também se ressente dos mesmos problemas.

Mais recentemente esta Instituição foi alvo de mais uma modificação, quando por iniciativa do Governo Estadual, através da Secretaria de Estado da Educação propôs a extinção do Curso Normal e a implantação do Instituto de Educação Superior. Repete-se mais uma vez o pêndulo da história de fechar a Escola Normal. Na condição de então Conselheira, vi com certa reserva a imediata implantação do citado Instituto, advogando tempo e ponderação para implementação do Instituto e extinção do IERB, lavrando quase que isoladamente o meu protesto que deve figurar nos anais daquele Egrégio Conselho. Também pude acompanhar atentamente a mobilização dos que fazem esta brava equipe docente e técnica ao reivindicar e defender mais tempo para repensar os objetivos desta Escola dentro da nova Lei. Todavia, considere uma vitória, pois a iniciativa não se efetivou e o Curso Normal foi mais uma vez implantado nessa Instituição, encontrando-se já em funcionamento as primeiras turmas dessa nova proposta.

Professor Edvaldo, senhores coordenadores, professores, equipe técnica que abraçaram e continuam abraçando a causa pela luta de um ensino de qualidade, de uma profissionalização por excelência e que são a testemunha viva destes 130 anos de lutas, glórias, sonhos e idealismo, eu os concito cada vez mais ao exercício da Força de Vontade, comprometimento e determinação, essa força hercúlea que, à semelhança da alavanca de Arquimedes, abala o mundo. Perscrutem a essência da vontade de todos os gênios que assombraram o mundo com a majestade grandiosa de suas obras e verão que foi o poder da vontade que os fortaleceu nas suas numerosas conquistas. E é essa mesma força que os fortalecerá hoje, amanhã e sempre na consecução do trabalho que com amor e desprendimento realizam em prol dos futuros profissionais do magistério e da educação.

E, em que pese todos os percalços do magistério como a negação do poder público à valorização do professor, há um lado pessoal que nos gratifica. É o ato da convivência. A convivência com a juventude nos torna jovens. “Conviver é a nossa condição de homens. Quem não convive empobrece. Acolher os outros é o segundo grande passo para ser feliz”. O professor exercita no seu dia-a-dia o ato da convivência.

“Ninguém é feliz sozinho. Há sempre uma partilha. Ela vem de alguém por causa de alguém e vai para alguém. Nenhum egoísta é perfeitamente feliz”. E o professor é um semeador de felicidade. Ele sempre dá, ensina, estende a mão, ajuda a palmilhar caminhos. “O homem precisa saber que é útil. Que faz alguém sorrir... Ter esperança de novo... que faz alguém levantar... que faz alguém prosseguir”. O professor é tudo isso e muito mais. È um sonhador. E aqui eu avoco a mensagem do D. Quixote do musical “O homem de La Mancha” - “Devemos ter sonhos impossíveis, sonhos de um mundo melhor em que a Educação com qualidade e para todos seja o meio e o caminho para esses sonhos se tornarem realidade”.

Aracaju. 24 de outubro de 2000.

Fontes de consulta:
ESCOLA NORMAL- Texto de Sergio Lima;
NUNES, MARIA THETIS. História de Educação em Sergipe - Rio de Janeiro, Paz e Terra - Aracaju - SEEC - UFS, 1984
BREVE HISTÓRICO DO INSTITUTO DE EDUCAÇÃO RUI BARBOSA - Arquivo do IERB - Plano de Pesquisa – SEEC.

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Discurso de posse da professora Yvone Mendonça de Souza como diretora da Escola Normal


“Não são os lugares que honram os homens, mas os homens que honram os lugares”

O ato de posse que Vossa Excelência acaba de executar, decorrência da elevada função da Secretaria de Estado da Educação e Cultura, investindo-nos no honroso cargo de diretora da modelar, vetusta e tradicional Escola Normal ou Instituto de Educação “RUI BARBOSA”, instituição que carrega em seu bojo na história educacional sergipana, 113 anos de profícua e gloriosa existência, é marcante.
Senhor Secretário, este ato não apenas nos gratifica e nos desvanece como educadora, não só pelo fato de estarmos ocupando um lugar, um espaço importantíssimo na educação, mas sobretudo pelos laços culturais e intelectuais de nossa vida, ligados a esta escola.
Ex-aluna que fomos da Escola de Aplicação Padre Gaspar Lourenço, escola vinculada ao Instituto de Educação Rui Barbosa, há anos pretéritos, um campo de aplicação das técnicas pedagógicas, dela saímos para prestar exame de admissão na Escola Normal.
Assim, passamos os mais doces e agradáveis momentos da nossa infância e adolescência, haurindo conhecimentos com os mais renomados mestres da época, conhecimentos que serviram de suporte e alicerce para o fabuloso mundo das verdades culturais e para o descortinar dos horizontes que vislumbravam em nosso espírito de menina inquieta e sequiosa de saber.
Concursada e aprovada com distinção no 1º Concurso Público para o magistério em Sergipe, concurso este que foi uma luta nossa, e de um grupo abnegado junto ao Governo da época, fomos distinguidos com a escolha de uma escola onde quiséssemos lecionar. A liberdade de opção nos fez retornar ao nosso 1º lar cultural, a Escola Normal, a mais reputada agência de formação de profissional do magistério em Sergipe.
Com esta retrospectiva queremos mostrar o quanto nos sentimos à vontade, especialmente após esses quatro últimos anos onde trabalhamos lado a lado na condição de vice-diretora, com as queridas congregação e equipe técnica e mais proximamente, com duas colegas e amigas por quem nutro um profundo respeito como profissional e figura humana. Refiro-me às professoras Marlene Rosa Montalvão e Vânia Maria de Souza Cruz.
Se a primeira pautou sua ação administrativa pelo diálogo, trabalho incansável, diplomacia e tolerância limitada para um resguardo de um trabalho sério, equilibrado, a segunda o fez com a segurança dos seus conhecimentos técnicos e vivência nos diversos setores onde esteve anteriormente engajada à educação. Houve, acima de qualquer hipótese, um denominador comum entre todas: a liberdade, o companheirismo no trabalho, o entusiasmo, o amor pela educação e a confiança férrea na perspectiva de que somente a educação transforma o homem e o encaminha ao seu verdadeiro destino na sociedade. E o trabalho frutificou porque foi realizado com maturidade, humildade e a consciência das limitações humanas.
E a maturidade, elemento essencial para um trabalho de tamanha envergadura, “começa quando nos damos conta de que nosso interesse pelos outros é maior do que nossa preocupação por nós mesmos”.
Permitam-nos que façamos aqui um importante registro que consideramos histórico: reconhecendo o relevante papel desta escola, como a maior agência de formação de profissional do magistério de 1º grau, a Professora Marlene Rosa Montalvão envidou toda sua força e ideal de educadora, toda sua dialética junto aos que podiam ajudá-la. Não podemos deixar de citar o Professor Antônio Fontes Freitas, este homem de larga visão no setor educacional do nosso Estado; a equipe de revitalização da SEEC, a quem muito devemos, para implantar aqui a Escola de 1º grau Professor Valmir Chagas, com a finalidade precípua de servir de campo de práticas e técnicas pedagógicas, a fim de que a citada escola se constituísse numa Escola Laboratório.
Fomentou-se uma constante sensibilização para a revitalização e realimentação dos processos e técnicas aqui desenvolvidos. E toda a preocupação foi sempre voltada para o papel histórico que uma escola com o nível de competência e responsabilidade da Escola Normal possui no contexto sócio-cultural da nossa comunidade.
Lutamos e lutaremos por uma escola, modelo não do ponto de vista arquitetônico, mas no sentido de para aqui convergir o profissional consciente da sua missão, para trabalhar numa escola que é a maior responsável pelo lançamento do profissional que entrará no mais importante setor da força do trabalho a primeira etapa do Ensino Fundamental do nosso Estado.
Assim, a Professora Marlene Rosa Montalvão despede-se desta escola, deixando não apenas a saudade, mas a profunda marca do seu labor, tirocínio e entusiasmo. Por esta razão, receba dos seus colegas esta lembrança com esta mensagem: “Homem de êxito é aquele que procurou o que há de melhor nos outros e deu o melhor de si mesmo”.

Senhor Secretário, Dr. Martinho Bravo, agradecemos a confiança em nós depositada para prosseguir um trabalho tão importante. Faremos por onde dignificar o lugar, o cargo no qual nos investimos neste momento com o testemunho do nosso trabalho. E saiba que o magistério sergipano confia nos altos propósitos que V. Exª pretende demonstrar com a larga vivência testada nos diversos setores da vida pública do nosso Estado.

Colegas professores e amigos, ninguém jamais pôde e poderá trabalhar sem o trinômio: apoio, amizade e responsabilidade. Nós queremos de vocês a continuação do apoio, da amizade e da já comprovada responsabilidade de todos.
Estamos atravessando a mais crucial crise social, política e econômica da nossa história, cientes, dos flagelos e das calamidades nacionais. Mas não devemos e nem podemos perder a esperança.
A época é de desafios e é enfrentando os desafios que marchamos para o nosso crescimento. Invoquemos as luzes do Espírito Santo para que possamos mesmo em meio às adversidades administrar em tempo de crise. Acreditemos na educação como forma de libertação.
A eminente mestra e Ministra Dr. Ester Figueiredo Ferraz, fez, há poucos dias, uma veemente afirmação que é também um apelo ao bom senso dos educadores e dos que fazem o poder: “Ou levantamos este país graças à educação ou não haveremos mais nada a fazer.” E ainda: “Só conquistaremos nossa liberdade com a educação”.
Todos nós somos responsáveis. Façamos, pois, daqui para frente, uma grande ciranda de mãos dadas fortalecidos pelo sublime ideal de servir à educação, imbuídos dos valores que professamos e vivenciamos como honestidade, pontualidade, dizendo presente à nossa escola e ao nosso alunado, provando aquela categórica afirmação do grande Exupéry: Ser homem é ser responsável. Parodiando o mesmo, possamos dizer: “Ser professor é ser responsável. É sentir que colocando uma pedra no alicerce se colabora na construção de um mundo melhor e mais feliz”.

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Palavras proferidas na despedida da Professora Marlene Rosa Montalvão do Instituto de Educação Rui Barbosa.