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domingo, 3 de agosto de 2014

A menina que roubava livros

O título chamou minha atenção. Uma menina roubando livros? Fosse doce, boneca, bijuteria, lápis de cor... Mas livros? A capa imprime um vulto negro de uma pessoa, carregando uma sombrinha vermelha, entre a vastidão da neve e algumas árvores negras com galhos retorcidos no horizonte. O título original é THE BOOK TRIEF.
Digo logo: o tal vulto negro é a Morte! É ela que conta a estória da menina, Leisel  Meminger. O autor, Markus Zusak, famoso escritor australiano, buscou unir a idéia de um ladrão de livros e as coisas que seus pais tinham visto, ao viverem, na Alemanha da época nazista e na Áustria. Ele é o autor também de Eu sou o Mensageiro, outro livro acolhido muito bem pelos críticos. Nesse a tradução é de Vera Ribeiro, com 382 páginas, impresso pela Editora Intrínsica Ltda, Rio de Janeiro em 2008, embora o livro tenha sido escrito em 1975.
Para quem viveu, teve parente ou amigo morto naquele tempo ou conhece através da história o que foi o período nazista, os fatos narrados só acrescentam detalhes. Mas o envolvimento de uma criança participando de tanta coisa tenebrosa, conseguindo ultrapassá-los movida pela certeza de que valia a pena chegar ao dia seguinte, nos prende à leitura. É leitura fácil, convidativa.
“Eu tento ignorar, mas sei que tudo isso começou com o trem, a neve e meu irmão tossindo. Roubei um primeiro livro naquele dia. Era um manual para cavar sepulturas, e eu o roubei quando estava a caminho da rua Himmel...”, pensava Leisel.
Ela tinha acabado de enterrar seu irmão mais novo e deixado a mãe, para viver sob os cuidados de um casal desconhecido, numa cidadezinha da Alemanha. Ela enfrentou a Morte por três vezes.
A pessoa começa a roubar movida sempre por uma vontade, quer satisfazer alguma coisa dentro de si. Laise tinha sede de família, de perspectiva, de futuro. Na leitura ela encontrava alento para esperar o amanhã. Num mundo que queimava livros em praças públicas, seu recurso, uma aventura que mexia na sua adrenalina, era roubar livros. O primeiro, como ela mesma confessa, quase lhe chegou às mãos, foi deixado, negligenciado pelo coveiro enquanto ele enterrava seu irmão. Era apenas um manual de coveiro: tamanho da cova para um adulto, para uma criança, o que deve acompanhar o morto etc...  Não era nem uma leitura interessante, mas lhe dava assunto para pensar... Bastava não ter nada sobre a guerra, tiros, alemães, judeus... Era apenas um meio de aguardar o amanhã, esperando que ele fosse diferente. 
Para nós é bom renovar a lembrança de um período tenebroso da história, que a gente não quer ver mais nunca, para não deixar acontecer mais nunca, pois infelizmente, ainda tem gente que diz que tudo aquilo foi mentira.
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Shirley Maria Santana Rocha