Translate

segunda-feira, 23 de maio de 2016

SOBREVIVENTE


Maria da Conceição Ouro Reis


Agora que o passado não existe,
sendo remota a farsa de ser triste,
eis-me, aqui, face a face com meu “eu”.
A coisa que não vive, que morreu.

-Não pode andar de lança sempre em riste.
Em coro gritaram: ensandeceu!
Se conhecessem a força que resiste,
o granito do cérebro, só meu.

Esse aniquilamento me apavora:
sem seiva, a planta morrendo, acabou-se,
a abóboda celeste é inatingível.

Escuridão total cobrindo a aurora...
folhas caindo... o vendaval que trouxe,
somente de criança um riso audível.

 ARTELITERATURA, n. 419 - 04.12.1988.