Maria da Conceição Ouro Reis
Agora que o passado não existe,
sendo remota a farsa de ser triste,
eis-me, aqui, face a face com meu “eu”.
A coisa que não vive, que morreu.
-Não pode andar de lança sempre em riste.
Em coro gritaram: ensandeceu!
Se conhecessem a força que resiste,
o granito do cérebro, só meu.
Esse aniquilamento me apavora:
sem seiva, a planta morrendo, acabou-se,
a abóboda celeste é inatingível.
Escuridão total cobrindo a aurora...
folhas caindo... o vendaval que trouxe,
somente de criança um riso audível.
ARTELITERATURA, n. 419 - 04.12.1988.