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quarta-feira, 8 de março de 2017

MARIA...MARIA...

Mulheres, nossa homenagem! 
8 de março de 2017


                                          

Maria Lígia Madureira Pina

Maria da praia
Maria do morro
Maria do campo
também do sertão.
Maria chorando
Maria lutando
com o filho no colo
sem roupa e sem pão.
Maria das Dores
Maria das Graças
Maria do Carmo
ou da Conceição
Maria com fome
sem lar e sem nome
Maria apertando
o magro filhinho
Junto ao coração.
x






Maria sofrida
retrato da vida
retrato do mundo
cruel  e sem Deus
que  joga no lodo
sem  dor  e sem pejo
mocinhas singelas
florinhas tão belas
nos campos nascidas
caídas no engodo
de moço granfino
de alma ferina
ou de um pobretão
sem eira nem beira
mas rico de lábia
de astúcia felina
de imensa maldade
no seu coração.
         x

Maria doente
Maria tão pálida!
à míngua morrendo
na rua, esmolando.
Maria morrendo
morrendo no chão
sem leite sem cama
e sem cobertor.
Maria morrendo
a alma tremendo
transida de dor.    
         x
Maria sofrendo
Maria lutando
para não morrer
Maria chorando
ao filho abraçada
temendo deixá-lo
no mundo sozinho.
Maria morrendo
sem remédio e médico
e sem hospital.
Maria gemendo
Maria em suspiros
morrendo afinal.
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Maria Lígia escreveu esta poesia em 29 de outubro de 1965. Contudo, ainda hoje percebemos que isso tudo ainda continua acontecendo. Infelizmente, as mulheres ainda terão que batalhar muito por igualdade de direitos. Que esse dia seja para nos lembrar que das guerreiras partem as glórias. Parabéns a todas que não se deixam dobrar e abrem caminhos para elas, filhas, netas, bisnetas...

Declaração dos Direitos Universais da Mulher 

Ilma Fontes

Toda mulher tem o direito de pensar por si mesma
sem precisar concordar com tudo que já foi dito.
Toda mulher tem o direito de menstruar em paz
sem precisar dar explicações a ninguém.
Toda mulher tem o direito de ser alguém, com idéias próprias
e ser dona do seu destino e do seu silêncio.
Toda mulher tem o direito de dizer bobagens e cometer erros
sucessivos até acertar, na poesia ou na vida.
Toda mulher tem o direito a comer o pão que o diabo amassou
desde que seja por amor.
Toda mulher tem o direito de ser querida, ao menos uma vez na vida
e de ouvir “eu te amo”, mesmo que seja mentira.
Toda mulher tem o direito de tentar e realizar, querer e fazer,
casar e descasar, experimentar e ousar.
Toda mulher tem o direito de decidir se tem ou não um filho
Principalmente antes de fazê-lo.
Toda mulher tem o direito pleno e absoluto do seu corpo
podendo inclusive envelhecer com ou sem cirurgia plástica.
Toda mulher tem o direito aos seus cabelos brancos, mesmo que os pinte.
Toda mulher tem direito a ter medo de cobra, aranha, barata, rato e fotógrafos.
Toda mulher tem direito ao recato de não precisar expor seus segredos.
Toda mulher tem direito a ter segredos.
Toda mulher tem o direito de dizer Não, seja ao marido, à amiga ou ao patrão.
Toda mulher tem direito a ter um caso de amor, seja lá com quem for.
Toda mulher tem direito a gostar de seda e cetim,
de vinho, whisky, vodka ou gim.
Toda mulher tem direito a uns quilinhos a mais nos quadris.
Toda mulher tem direito a “fechar” o trânsito,
desde que seja funcionária do Detran.
Toda mulher tem direito a gastar mais do que pode, uma vez por ano.
Toda mulher tem direito a férias de si mesma, para o seu próprio bem
e dos outros também.
Toda mulher tem direito a uma cama macia, em boa companhia,
seja de noite ou de dia.
Toda mulher tem o direito de sonhar.
Toda mulher tem o direito de ser única.
Revogam-se as disposições em contrário.
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  Ilma Fontes, poeta  e escritora sergipana, psiquiatra e legista, trocou a medicina pelo jornalismo, cinema e ativismo cultural.