Dia 7 de junho,
marca a data natalícia de Tobias Barreto de Menezes,
o genial sergipano
nascido na Vila de Campos,
(hoje cidade Tobias Barreto) Sergipe, em 1839.
Faleceu no dia 26 de junho de 1889, em Pernambuco.
(hoje cidade Tobias Barreto) Sergipe, em 1839.
Faleceu no dia 26 de junho de 1889, em Pernambuco.
Tobias Barreto e a Educação da Mulher
Parte da vida cinquentenária de Tobias Barreto foi dedicada
à educação. Ainda em Sergipe, em Lagarto e Itabaiana, foi professor de Latim,
com uma titulação passada para toda a Província. No Recife dedicou-se ao
magistério particular e tentou, por três vezes, o ingresso no ensino
secundário: duas vezes concorreu à cadeira de Latim, do Curso Preparatório da
Faculdade de Direito, perdendo para seu conterrâneo e parente, o padre Felix
Vasconcelos Barreto, e uma vez à cadeira de Filosofia do Ginásio Pernambucano,
passando em primeiro lugar, mas sendo preterido pelo Governo, que deu
preferência ao professor José Soriano de Souza, que obteve o segundo lugar,
pelo fato de ser casado e Tobias solteiro. Nos seus jornais, dedicou atenção
especial ao problema da educação da mulher e, em geral, à condição feminina,
como um pioneiro ainda hoje atual com sua visão inovadora e algumas vezes
revolucionária. Seu trabalho sobre A Alma
da Mulher, de comentário a Die Psyche
des Weibes, de Adolfo Jellinek, judeu alemão, pregador da sinagoga de
Berlim, editado em 1873, é um libelo em favor da educação feminina, tema
familiar ao autor nº. 129, na Assembleia Provincial de Pernambuco, criando o Partenogógio[M1]
do Recife.
Quando deputado, representando o Partido Liberal e o
eleitorado de Escada, no Biênio 1878/79, Tobias Barreto se envolveu na
discussão parlamentar, principalmente com o médico Malaquias Antônio Gonçalves,
em defesa de um auxilio, a ser dado pelo Governo da Província, no valor de cem
mil réis, para que Josefa Felisbela de Oliveira pudesse estudar medicina nos
Estados Unidos ou na Suíça. Além de defender a concessão de auxílio, Tobias
Barreto apresentou uma emenda em favor em favor de outra moça, Maria Amélia
Florentina, para o mesmo estudo no exterior. No calor da discussão, Tobias
Barreto refutou, um a um, os argumentos utilizados pelo Dr. Malaquias para
vetar o auxílio, todos eles inferiorizando a mulher.
Para realçar sua defesa, Tobias Barreto chama a atenção do
Plenário e especialmente do Dr. Malaquias, dizendo: “Nós sabemos da grande importância,
do grande desenvolvimento, que tem tido a doutrina da Seleção Natural de Darwin, sobretudo reformada e engrandecida em
mais de um ponto por Ernest Haeckel. Pois bem: entre as leis da conformação ou adaptação indireta, de
que fala Haeckel, está em primeiro lugar aquela que ele chama da adaptação individual, segundo a qual os indivíduos de uma mesma espécie,
nunca são totalmente iguais.” E arremata: “E sendo assim, como querer-se,
comparando a mulher com o homem, deduzir de pequenas diferenças no órgão do
pensamento uma enorme distância entre um e outro na capacidade intelectual? É
inadmissível.” Tobias Barreto ganhara a questão e sua emenda, aprovada,
garantia a Maria Amélia Florentina o direito ao auxílio da sua Província para
estudar medicina no exterior.
Enquanto discutia, em várias sessões legislativas, o Projeto
61/79 dos auxílios, Tobias Barreto apresentou, debaixo de longas
justificativas, o seu Projeto de Lei, nº. 129, criando o Partenogógio do Recife,
estabelecimento público, de cultura literária e profissional para moças,
dividido em duas Escolas: Escola Média, ao modelo alemão das Mittelschuele, e a
Escola Superior, a Honere Schule. O Projeto lido na sessão de 28 de março de
1879 e aprovado em primeira discussão no dia 2 de maio do mesmo ano. O que
movia Tobias, segundo ele próprio, era os ensinamentos de Frederico Diesterweg,
que com Pestalozzi e Froebel, integrava uma tríade de pedagogos modernos, ao
dizer que “A liberdade do povo, e a felicidade do povo, pela cultura do povo,
não pode ser conseguida por meio de instrução parcial, ministrada a um só sexo.”
A novidade não estava na criação de uma escola feminina, pois
já existia em Recife a Escola Normal, atendendo, naquele ano de 1879, a 42 alunas.
Mas, sim, na criação de uma Escola Superior, ao lado de uma Escola Média, pois
equivaleria a libertar a mulher daquela condição de portadora de uma certa
cultura da vaidade, formada por um pouco de música, um pouco de desenho e pelo
gaguejar de uma ou duas línguas estrangeiras, como fixa, em sua justificativa,
o próprio Tobias, abonado por Eduardo von Hartmann.
Quando o Projeto voltou ao Plenário da Assembleia para a
segunda discussão, em 5 de março de 1880, já Tobias Barreto não era deputado, A
defesa coube ao Barão de Nazaré, também signatário do Projeto, que enfrentou a
reação forte do deputado Ermírio Coutinho, para quem o projeto não acautelava
suficientemente a moralidade do sexo feminino. O deputado baseava-se no fato de
que o Projeto autorizava, num dos seus artigos, que o Governo da Província,
enquanto não dispusesse de condições para construir o Partenogógico, matriculasse
as suas alunas no prédio do Ginásio Pernambucano. A proximidade das moças do
Partenogógico do Recife com os poucos alunos, crianças e rapazes, do Ginásio
Pernambucano representava, na visão do deputado Ermírio Coutinho, uma
promiscuidade. Utilizando-se de teoria sobre a influência do clima no desenvolvimento
físico e nas paixões, o crítico demove o Plenário e faz aprovar requerimento do
deputado Ayres Gama, remetendo o Projeto do Partenogógico do Recife para a Comissão
de Instrução Pública, de onde nunca mais voltou.
... no conjunto de sua obra, Tobias Barreto põe a mulher em
lugar destacado, tanto pela ótica da poética, como da filosofia, da ciência, e
do direito.