Tempestade e oração*
Maria Ligia M. Pina
Lá fora
Tudo são terror e escuridão:
O negrume da noite prematura,
Faz tremer o coração.
Existe no ar
Um prenuncio de tempestade
Prestes a rebentar.
Repentinamente,
Os elementos se enfurecem:
O vento geme, dolorosamente,
Como um carpir
De almas penando.
O trovão espoca,
A todos amedrontando,
Os relâmpagos se sucedem,
Num feérico clarão.
Um raio corta o espaço,
Espalhando confusão,
Ali, uma árvore tomba,
Ferida pela sua luz,
Como Saulo em Damasco
Ao se encontrar com Jesus.
Além, na mata,
Um incêndio ateia,
Deixando a multidão estarrecida.
Lá dentro,
Na choupana humilde,
De pavor transita
Uma menina meiga e bela,
Alma pura como um lírio.
Acende uma vela
Junto a Virgem Maria.
Lágrimas rolando, límpidos cristais
Singela prece balbucia,
Tão pura e comovente,
Capaz de aquecer a estátua fria.
“Ò Mãe do Céu,
Virgem Aparecida!
Ouve a minha oração,
Atende a minha súplica sentida
Pede ao teu Filho, meu Irmão,
Ao bom Jesus de Narazareth
Que aplaque o furacão
Como fez outrora em Genezareth.
Lá, no campo,
Está o paizinho trabalhando,
Para nos dar o pão,
Para que eu possa ir à escola
Receber a luz da instrução”.
*Inspirada no quadro da pintora Rosa Faria, ‘Tempestade e Oração”