Por Sandra Natividade
Adquiri
recentemente a obra literária Alma Poética de autoria do confrade Otoniel
Almeida professor e advogado, iniciei leitura, entretanto, entrecortada em
razão dos inúmeros afazeres diários que ainda me toma o pouco tempo que tenho,
gosto de sentar e ler avidamente os livros que me chegam as mãos; paro, mas assim
que posso reinicio para não perder a sequência. Foi gratificante este primeiro
contato com a obra, parecido com o que fiz semana passada ao ler “Portugal e
minha avó cega” do caríssimo confrade Saracura. Alma Poética me fez conhecer um
pouco da verve literária do escritor Otoniel, até então, conhecido na década de
1980 excelente docente da disciplina Legislação Trabalhista lecionando a época
no Instituto Brasileiro de Mecanografia - IBM, onde trabalhei por mais de uma
década, instituição que oferecia a seus alunos qualificação e/ou
aperfeiçoamento através dos cursos profissionalizantes, formação e colocação de
mão de obra. Anos se passaram e reencontrei dr. Otoniel, agora meu confrade na
União Brasileira de Escritores/Aracaju, que alegria!
Alma Poética é um
primor pode-se colocar na estante ao lado dos bons e eternizados poetas que
conhecemos a exemplo de Mário Quintana, Drumond, Cecília Meireles, Fernando
Pessoa e tantos outros, então, coloque sem demora Alma Poética em sua estante e
não o perca de vista, porque creio outros livros serão publicados pelo novel
poeta Ubeano. A boa temática literária do romantismo é carro chefe em seus
escritos, não deixando de encontrar e se unir à prosa constante e ao lirismo
latente em seus poemas. O escritor
aborda com propriedade o romantismo que inunda sua Alma Poética por natureza,
os elementos bucólicos lhe saem velozes caindo no papel com galhardia sem
perder a elegância.
MÃE
À minha mãe, com eterno amor
e saudades intermináveis...
Mãe, que alegria
eu estar contido
Neste momento tão
maravilhoso!
E ao beijar a face
com carinho,
Querida mãe, como
me faz ditoso.
Contemplo o brilho
das manhãs mais claras
Abençoadas pelo
azul do céu,
Nos teus conselhos
de sabedoria
Sinto o teu rosto
bem juntinho ao meu!
Mulher bendita que
me trouxe à vida,
Maior presente que
Jesus me deu.
Rosa cheirosa de
um jardim florido,
A flor mais linda
que já floresceu!
Luz que ilumina o
meu caminho escuro,
Que me protege, me
conduz e guia.
Recebe o beijo do
teu filo amado
Neste domingo do
teu grande dia!
Os tipos apresentados
em sua poesia identificam-se claramente: lírico, narrativa, o sentimentalismo
filial, paternal, nota-se muito amor à família, a musa inspiradora Lenilva. E assim,
a prosa romântica envolve o leitor seguindo caminho com a prosa urbana e
regionalista com os poemas cordelistas e o grande amor que o escritor devota a
sua Bahia. Filho de Ubaitaba não nega as raízes discorrendo com propriedade em
seus versos toda a beleza da Cidade das Canoas. Outras vezes o romantismo se
expressa na geração social e nas pessoas que o cercam.
RIO DAS CONTAS
Diante de ti, meu Rio de Contas,
Escuto silente a
sonoridade
Das tuas águas
tranquilas
Deslizando
suavemente
Sobre o teu leito
extenso
Em direção ao mar.
E cheio de
saudade,
Inebriado de
lembranças
Que me invadem a
alma,
Recordo no coração
a paliar
Meus velhos tempos
de rapaz!
“Tempos idos e
vividos”
Que não voltarão
jamais”
ENLEVO
O que me deixa
alegre e feliz
E me faz viver o
amor da vida
É a certeza de que
o sol brilhará novamente
Ao alvorecer de um
novo dia.
E que os pássaros,
ao deixar seus ninhos,
Despertados pelo
sol da manhã nascida,
Regerão alegres e
triunfantes
A mais bela e sonora sinfonia.
O CEGO
Senhor Deus,
Por que tiraste de
mim
Tão precocemente a
luz da vida?
Concedei-me
novamente a graça de ver
O azul sem fim das
ondas do mar,
O verde exuberante
das florestas,
As águas serenas
dos rios
E a brancura
eterna do luar.
Senhor Deus,
Deixai-me
contemplar uma vez mais
O roso angelical
da mulher amada,
as manhãs de sol
ao despertar o dia,
as flores
coloridas a exalar perfume,
e o sorriso da
criança cheio de alegria.
Conduzi-me pela
vossa estrada
Deserta, imensa e
sem fim.
Permita que eu
caminhe ao vosso lado
Em busca da
palavra divina da salvação.
E se verdes que
mereço a vossa piedade,
Não me façais sofrer
tanto assim, Senhor!
Aplacai meu
desgosto!
Abrandai meu
coração!
Sede compassivo na
vossa misericórdia
E me restitui,
Senhor Deus, a minha visão!
RÉQUIEM DE
DESPEDIDA
Quando eu morrer,
Não chorem por mim.
Enxuguem as
lágrimas
que surgirão na
faze
e as transformem
em lenços brancos de adeus
no instante triste
do desenlace.
Tragam-me flores!
Muitas flores
coloridas!
Convidem mulheres
bonitas,
Perfumadas e bem
vestidas,
Quero vê-las
passando sempre amiúde,
Circulando,
elegantemente, em volta do ataúde,
Aos acordes de um
réquiem de despedida.
Inerte no meu sono
profundo e derradeiro,
hei de guardar pra
sempre no meu peito amante,
No fundo do
coração, sem sangue, exultante,
as mil mulheres
que amei na vida.
Conduzam-me,
carinhosamente, ao Campo Santo!
Batam palmas,
digam versos,
Cantem loas e
canções...
Depositem rosas
brancas e vermelhas
Sobre meu corpo
aniquilado pela morte!
Façam preces,
rezem orações
E escrevam, em
minha lápide solitária e triste,
O seguinte
epitáfio:
“Aqui jaz aquele
que viveu,
Amou imensamente a
vida
E repousa para
sempre
Na solidão deste
sepulcro frio!”
Com esta obra Otoniel faz um belo convite aos que gostam do gênero poético, lendo uma vez e descobrindo essa Alma Poética transbordante, certamente que o leitor atento ficará buscando nas boas livrarias mais uma produção desse que é poeta nato. Parabéns confrade Otoniel, desde já aguardo o próximo exemplar. Deus o bendiga.