terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

ALMA POÉTICA, PASSEIO NOS PRIMEIROS POEMAS DE OTONIEL

 



Por Sandra Natividade

Adquiri recentemente a obra literária Alma Poética de autoria do confrade Otoniel Almeida professor e advogado, iniciei leitura, entretanto, entrecortada em razão dos inúmeros afazeres diários que ainda me toma o pouco tempo que tenho, gosto de sentar e ler avidamente os livros que me chegam as mãos; paro, mas assim que posso reinicio para não perder a sequência. Foi gratificante este primeiro contato com a obra, parecido com o que fiz semana passada ao ler “Portugal e minha avó cega” do caríssimo confrade Saracura. Alma Poética me fez conhecer um pouco da verve literária do escritor Otoniel, até então, conhecido na década de 1980 excelente docente da disciplina Legislação Trabalhista lecionando a época no Instituto Brasileiro de Mecanografia - IBM, onde trabalhei por mais de uma década, instituição que oferecia a seus alunos qualificação e/ou aperfeiçoamento através dos cursos profissionalizantes, formação e colocação de mão de obra. Anos se passaram e reencontrei dr. Otoniel, agora meu confrade na União Brasileira de Escritores/Aracaju, que alegria!

Alma Poética é um primor pode-se colocar na estante ao lado dos bons e eternizados poetas que conhecemos a exemplo de Mário Quintana, Drumond, Cecília Meireles, Fernando Pessoa e tantos outros, então, coloque sem demora Alma Poética em sua estante e não o perca de vista, porque creio outros livros serão publicados pelo novel poeta Ubeano. A boa temática literária do romantismo é carro chefe em seus escritos, não deixando de encontrar e se unir à prosa constante e ao lirismo latente em seus poemas.  O escritor aborda com propriedade o romantismo que inunda sua Alma Poética por natureza, os elementos bucólicos lhe saem velozes caindo no papel com galhardia sem perder a elegância.

 

MÃE

À minha mãe, com eterno amor

 e saudades intermináveis...


Mãe, que alegria eu estar contido

Neste momento tão maravilhoso!

E ao beijar a face com carinho,

Querida mãe, como me faz ditoso.

 

Contemplo o brilho das manhãs mais claras

Abençoadas pelo azul do céu,

Nos teus conselhos de sabedoria

Sinto o teu rosto bem juntinho ao meu!

 

Mulher bendita que me trouxe à vida,

Maior presente que Jesus me deu.

Rosa cheirosa de um jardim florido,

A flor mais linda que já floresceu!

 

Luz que ilumina o meu caminho escuro,

Que me protege, me conduz e guia.

Recebe o beijo do teu filo amado

Neste domingo do teu grande dia!

 

Os tipos apresentados em sua poesia identificam-se claramente: lírico, narrativa, o sentimentalismo filial, paternal, nota-se muito amor à família, a musa inspiradora Lenilva. E assim, a prosa romântica envolve o leitor seguindo caminho com a prosa urbana e regionalista com os poemas cordelistas e o grande amor que o escritor devota a sua Bahia. Filho de Ubaitaba não nega as raízes discorrendo com propriedade em seus versos toda a beleza da Cidade das Canoas. Outras vezes o romantismo se expressa na geração social e nas pessoas que o cercam.


RIO DAS CONTAS


Diante de ti, meu Rio de Contas,

Escuto silente a sonoridade

Das tuas águas tranquilas

Deslizando suavemente

Sobre o teu leito extenso

Em direção ao mar.

 

E cheio de saudade,

Inebriado de lembranças

Que me invadem a alma,

Recordo no coração a paliar

Meus velhos tempos de rapaz!

 

“Tempos idos e vividos”

Que não voltarão jamais”

 

 Um pouco da Alma Poética de Otoniel Almeida:


ENLEVO

 

O que me deixa alegre e feliz

E me faz viver o amor da vida

É a certeza de que o sol brilhará novamente

Ao alvorecer de um novo dia.

 

E que os pássaros, ao deixar seus ninhos,

Despertados pelo sol da manhã nascida,

Regerão alegres e triunfantes

A mais bela e sonora sinfonia. 


O CEGO


Senhor Deus,

Por que tiraste de mim

Tão precocemente a luz da vida?

Concedei-me novamente a graça de ver

O azul sem fim das ondas do mar,

O verde exuberante das florestas,

As águas serenas dos rios

E a brancura eterna do luar.

 

Senhor Deus,

Deixai-me contemplar uma vez mais

O roso angelical da mulher amada,

as manhãs de sol ao despertar o dia,

as flores coloridas a exalar perfume,

e o sorriso da criança cheio de alegria.

 

Conduzi-me pela vossa estrada

Deserta, imensa e sem fim.

Permita que eu caminhe ao vosso lado

Em busca da palavra divina da salvação.

 

E se verdes que mereço a vossa piedade,

Não me façais sofrer tanto assim, Senhor!

Aplacai meu desgosto!

Abrandai meu coração!

Sede compassivo na vossa misericórdia

E me restitui, Senhor Deus, a minha visão!

 

RÉQUIEM DE DESPEDIDA


Quando eu morrer,

Não chorem por mim.

Enxuguem as lágrimas

que surgirão na faze

e as transformem em lenços brancos de adeus

no instante triste do desenlace.

 

Tragam-me flores!

Muitas flores coloridas!

Convidem mulheres bonitas,

Perfumadas e bem vestidas,

Quero vê-las passando sempre amiúde,

Circulando, elegantemente, em volta do ataúde,

Aos acordes de um réquiem de despedida.

 

Inerte no meu sono profundo e derradeiro,

hei de guardar pra sempre no meu peito amante,

No fundo do coração, sem sangue, exultante,

as mil mulheres que amei na vida.

 

Conduzam-me, carinhosamente, ao Campo Santo!

Batam palmas, digam versos,

Cantem loas e canções...

Depositem rosas brancas e vermelhas

Sobre meu corpo aniquilado pela morte!

 

Façam preces, rezem orações

E escrevam, em minha lápide solitária e triste,

O seguinte epitáfio:

“Aqui jaz aquele que viveu,

Amou imensamente a vida

E repousa para sempre

Na solidão deste sepulcro frio!”


Com esta obra Otoniel faz um belo convite aos que gostam do gênero poético, lendo uma vez e descobrindo essa Alma Poética transbordante, certamente que o leitor atento ficará buscando nas boas livrarias mais uma produção desse que é poeta nato. Parabéns confrade Otoniel, desde já aguardo o próximo exemplar. Deus o bendiga.