... destino São Raimundo Nonato/Piauí
Era uma manhã chuvosa, saímos as
quatro e vinte com destino ao povoado onde minha mãe nasceu, Mocó, em São
Raimundo Nonato no Piauí - uma viagem de 810km. Nessa viagem fomos eu, minha
mãe e os seus dois irmãos, meus tios. Tudo estava repleto de expectativas e
recordações da infância de cada um deles. A viagem estava prestes a começar. A
estrada estava supertranquila, o asfalto ajudou bastante. Algumas paradas para
abastecer, o almoço, paramos em um local muito legal sobre o leito do rio São
Francisco na cidade de Remanso, na Bahia, na verdade, no largo que faz parte da
barragem, fotos e comida deliciosa. Acomodei-me na poltrona, dirigindo e
ouvindo as histórias que cada um deles levavam em memória, histórias diversas,
tudo se resume em aventura garantida.
Cada dia um passeio diferente, pelo dia a
prima da cidade, conhece a todos e faz questão de apresentar, cada um revivendo
momentos de outrora, sempre uma prosa boa e cada povoado revelava uma surpresa:
um tanque, uma casa de farinha, uma barragem, um local de dança, que é o clube
dos que ali vivem, poucas crianças, na grande maioria pessoas de melhor idade,
os jovens vão embora a procura do progresso, outros vão e vem a cada 3 meses ou
até mais, alguns só voltam para visitar quem deixou para trás. Eu me sentia
parte daquele cenário, absorvendo cada detalhe. As refeições eram uma
experiência à parte. Experimentei pratos exóticos, sabores que dançavam na
minha língua. À noite, o som ao longe, porque estavam em festa: músicas,
risadas, e nós ficávamos na missa e voltávamos para a casa da prima para novas
conversas, muitas risadas, desfile das primas, tudo era motivo de gargalhadas. Eu
me sentia feliz, conectada com o mundo delas. Conheci pessoas incríveis: primas
que contavam histórias através de suas lembranças, uma senhora bem velhinha de
quase 100 anos. Cada encontro era uma lição, uma troca de culturas, unidas a emoção dos tios avôs, dos primos em terceiro grau, a simplicidade da vida dura
e os sorrisos marcantes, isso se resume ao que chamamos de família.
As lembranças dessa jornada são como pérolas guardadas em um colar da memória, cada uma brilhando com intensidade. Permita-me compartilhar algumas das mais marcantes: O Nascer do Sol na Serra: Certa manhã, acordei cedinho. O céu estava tingido de rosa e laranja, e o sol emergiu lentamente, iluminando toda região. A sensação de estar no topo do mundo, cercado por essa beleza, é algo que nunca esquecerei. Entre idas e vindas na cidade, fomos ao mercado de Especiarias: encontrei no mercado de municipal. As cores vibrantes, os aromas exóticos e as vozes dos comerciantes criaram um cenário mágico. Comprei saquinhos de farinha de borra, frasquinhos de mel, além da tapioca alvinha, e até hoje, quando abro um deles, sou transportado de volta àquele lugar. O Encontro com um Artesão: Em uma olaria, vivenciamos cada detalhe do belíssimo trabalho que eles fazem com tanto capricho. O silêncio e a concentração de cada um ali foram o que mais me impressionaram. Além dos traços com tanta perfeição daquelas imagens rupestres em cada peça, ele capturava a essência da região em sua arte. Conversamos sobre os processos ali utilizados, sonhos e a busca pela expressão.
A novena é um marco do local e o leilão é bem planejado. Durante o dia, nas nossas visitas, fomos à casa das mulheres, que ficaram o dia todo a cozinhar as galinhas e depois assar cada uma com suas especiarias, dando um sabor diferenciado; bolos, beiju de tapioca, amor notoriamente visto em cada olhar e sabor. Foi uma noite quente, fui à missa cumprir minha parte da promessa, que foi feita por minha mãe, o que nos levou a retornar ao Piauí. Ao final da missa começa o tão esperado leilão, muitas coisas deliciosas foram oferecidas. A cada lance, o mais divertido era ver que tinham muitas pessoas envolvidas em dar lances e arrematar seu prêmio. Eu mesma garanti um bolo de coco delicioso! Ficamos atentas aos detalhes e, quando chegamos em casa, o assunto foi o leilão e seus diversos lances.
Todos os dias tínhamos uma novidade e uma casa diferente para visitar. Fomos conhecer um novo local, voltamos à Pedra Furada na Serra da Capivara, conhecemos lugares lindos, fui ao sítio, onde acontece a revoada das andorinhas. O sol se punha, tingindo o céu de tons dourados e vermelhos. Eu me senti parte da história daquele povoado com sua simplicidade e detalhe do sertão do Piauí. Fim de tarde embaixo da figueira, depois colher laranja no pé, limão, comer coalhada e requeijão, feito fresquinho para agradar por demais nosso paladar; comer uma rosca de tapioca ou um doce de umbu, quantas delícias locais.
Essas lembranças são como páginas de um livro que folheio com carinho. Elas me lembram que a vida é feita de momentos preciosos, e cada viagem é uma oportunidade de colecionar essas pérolas. O tempo voou e chegou a hora de partir. As malas foram fechadas com lembranças e saudades. No carro, olhei para trás, através do retrovisor, o povoado se afastando. Prometi a mim que voltaria um dia. Essa viagem não foi apenas geográfica; foi uma jornada interior. Aprendi sobre mim, sobre raízes profundas, sobre a humanidade, sobre a beleza do desconhecido. E, ao escrever essa crônica, sei que ela nunca será esquecida. Afinal, as melhores viagens são aquelas que deixam marcas no coração. 05/07/2024.
Edilene
de Oliveira Silva – formada em Administração, empresária, acadêmica fundadora da Academia
Literária de Vida de Propriá –cadeira 09.
Nasceu
em São Paulo. Hoje cidadã Propriaense.
Empresária.
Formação em Administração, MBA em Gestão
e
Empreendorismo, Mulher Sebrae de Negócios 2011/SE,
Presidente
da Câmara de Dirigentes Lojistas de Propriá 2018/2020,
Presidente
do Comitê Gestor de Negócios Propriá,
Líder do Baixo São Francisco, coordenadora do Eixo Turismo (2024/2026), ADBASF
(Agência de Desenvolvimento do Baixo São Francisco)
Acadêmica
fundadora pela ALVP –Academia Literária de Vida de Propriá –cadeira 09
Sonho
e meta:
Criação
de um Museu Cultural
Interação Socioeducativa,
Resgate da cultura local