sexta-feira, 19 de julho de 2024

Uma viagem familiar...

 ... destino São Raimundo Nonato/Piauí

 

 

Era uma manhã chuvosa, saímos as quatro e vinte com destino ao povoado onde minha mãe nasceu, Mocó, em São Raimundo Nonato no Piauí - uma viagem de 810km. Nessa viagem fomos eu, minha mãe e os seus dois irmãos, meus tios. Tudo estava repleto de expectativas e recordações da infância de cada um deles. A viagem estava prestes a começar. A estrada estava supertranquila, o asfalto ajudou bastante. Algumas paradas para abastecer, o almoço, paramos em um local muito legal sobre o leito do rio São Francisco na cidade de Remanso, na Bahia, na verdade, no largo que faz parte da barragem, fotos e comida deliciosa. Acomodei-me na poltrona, dirigindo e ouvindo as histórias que cada um deles levavam em memória, histórias diversas, tudo se resume em aventura garantida.


     Chegando na cidade de São Raimundo, já tínhamos ligado e estava lá a prima de minha mãe pronta para seguir conosco para o povoado que fica a cerca de 20km da cidade. O lugar agora teria uma paisagem diferente do sertão ensolarado, terra vermelha e uma turma já nos aguardava superfelizes com essa visita. As cores, os cheiros, as falas diferentes, porque no Brasil cada região, tem um jeito de se pronunciar diferente. Caminhar por ali, observando a paisagem, as maneiras de cultivo da roça, onde se preserva toda mata nativa, onde se cerca plantio de legumes, se criam os animais soltos pelo povoado, onde nem se imagina por onde eles andam o dia todo, mas eles voltam ao final do dia para dormir, em frente à casa do dono; alguns deles já fizeram seus currais de tetos baixo, feito para as ovelhas, os porcos ficam na lama e muitos com um cambão no pescoço, são os chamado de “ladrão de roça”. A noite, uma novena na igreja do povoado Mocó, onde cada noite tínhamos uma pessoa diferente dirigindo e fazendo uma homilia. Esse momento promovia vários encontros com as pessoas que, há muito tempo, minha mãe e meus tios não tinham contato.



Cada dia um passeio diferente, pelo dia a prima da cidade, conhece a todos e faz questão de apresentar, cada um revivendo momentos de outrora, sempre uma prosa boa e cada povoado revelava uma surpresa: um tanque, uma casa de farinha, uma barragem, um local de dança, que é o clube dos que ali vivem, poucas crianças, na grande maioria pessoas de melhor idade, os jovens vão embora a procura do progresso, outros vão e vem a cada 3 meses ou até mais, alguns só voltam para visitar quem deixou para trás. Eu me sentia parte daquele cenário, absorvendo cada detalhe. As refeições eram uma experiência à parte. Experimentei pratos exóticos, sabores que dançavam na minha língua. À noite, o som ao longe, porque estavam em festa: músicas, risadas, e nós ficávamos na missa e voltávamos para a casa da prima para novas conversas, muitas risadas, desfile das primas, tudo era motivo de gargalhadas. Eu me sentia feliz, conectada com o mundo delas. Conheci pessoas incríveis: primas que contavam histórias através de suas lembranças, uma senhora bem velhinha de quase 100 anos. Cada encontro era uma lição, uma troca de culturas, unidas a emoção dos tios avôs, dos primos em terceiro grau, a simplicidade da vida dura e os sorrisos marcantes, isso se resume ao que chamamos de família.



As lembranças dessa jornada são como pérolas guardadas em um colar da memória, cada uma brilhando com intensidade. Permita-me compartilhar algumas das mais marcantes: O Nascer do Sol na Serra: Certa manhã, acordei cedinho. O céu estava tingido de rosa e laranja, e o sol emergiu lentamente, iluminando toda região. A sensação de estar no topo do mundo, cercado por essa beleza, é algo que nunca esquecerei. Entre idas e vindas na cidade, fomos ao mercado de Especiarias: encontrei no mercado de municipal. As cores vibrantes, os aromas exóticos e as vozes dos comerciantes criaram um cenário mágico. Comprei saquinhos de farinha de borra, frasquinhos de mel, além da tapioca alvinha, e até hoje, quando abro um deles, sou transportado de volta àquele lugar. O Encontro com um Artesão: Em uma olaria, vivenciamos cada detalhe do belíssimo trabalho que eles fazem com tanto capricho. O silêncio e a concentração de cada um ali foram o que mais me impressionaram. Além dos traços com tanta perfeição daquelas imagens rupestres em cada peça, ele capturava a essência da região em sua arte. Conversamos sobre os processos ali utilizados, sonhos e a busca pela expressão.





A novena é um marco do local e o leilão é bem planejado. Durante o dia, nas nossas visitas, fomos à casa das mulheres, que ficaram o dia todo a cozinhar as galinhas e depois assar cada uma com suas especiarias, dando um sabor diferenciado; bolos, beiju de tapioca, amor notoriamente visto em cada olhar e sabor. Foi uma noite quente, fui à missa cumprir minha parte da promessa, que foi feita por minha mãe, o que nos levou a retornar ao Piauí. Ao final da missa começa o tão esperado leilão, muitas coisas deliciosas foram oferecidas. A cada lance, o mais divertido era ver que tinham muitas pessoas envolvidas em dar lances e arrematar seu prêmio. Eu mesma garanti um bolo de coco delicioso! Ficamos atentas aos detalhes e, quando chegamos em casa, o assunto foi o leilão e seus diversos lances.



Todos os dias tínhamos uma novidade e uma casa diferente para visitar. Fomos conhecer um novo local, voltamos à Pedra Furada na Serra da Capivara, conhecemos lugares lindos, fui ao sítio, onde acontece a revoada das andorinhas. O sol se punha, tingindo o céu de tons dourados e vermelhos. Eu me senti parte da história daquele povoado com sua simplicidade e detalhe do sertão do Piauí. Fim de tarde embaixo da figueira, depois colher laranja no pé, limão, comer coalhada e requeijão, feito fresquinho para agradar por demais nosso paladar; comer uma rosca de tapioca ou um doce de umbu, quantas delícias locais.

Essas lembranças são como páginas de um livro que folheio com carinho. Elas me lembram que a vida é feita de momentos preciosos, e cada viagem é uma oportunidade de colecionar essas pérolas. O tempo voou e chegou a hora de partir. As malas foram fechadas com lembranças e saudades. No carro, olhei para trás, através do retrovisor, o povoado se afastando. Prometi a mim que voltaria um dia. Essa viagem não foi apenas geográfica; foi uma jornada interior. Aprendi sobre mim, sobre raízes profundas, sobre a humanidade, sobre a beleza do desconhecido. E, ao escrever essa crônica, sei que ela nunca será esquecida. Afinal, as melhores viagens são aquelas que deixam marcas no coração. 05/07/2024.


Edilene de Oliveira Silva – formada em Administração, empresária, acadêmica fundadora da Academia Literária de Vida de Propriá –cadeira 09.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Nasceu em São Paulo. Hoje cidadã Propriaense.

Empresária. Formação em Administração, MBA em Gestão

e Empreendorismo, Mulher Sebrae de Negócios 2011/SE,

Presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Propriá 2018/2020,

Presidente do Comitê Gestor de Negócios Propriá,
Líder do Baixo São Francisco, coordenadora do Eixo Turismo (2024/2026), ADBASF (Agência de Desenvolvimento do Baixo São Francisco)

Acadêmica fundadora pela ALVP –Academia Literária de Vida de Propriá –cadeira 09

 

Sonho e meta:

Criação de um Museu Cultural

                                                                          

 Interação Socioeducativa,

 Resgate da cultura local