sábado, 2 de novembro de 2024

EU PROFESSORA, DE CLÉA BRANDÃO

 

 


Em 24 de outubro de 2024 -

 Durante a 251º reunião ordinária da Academia Literária de Vida.

    No ano de 1971, fui convidada pelo diretor do antigo GA (Ginásio de Aplicação), da Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe, Dom Luciano Duarte, para lecionar Educação Moral e Cívica e OSPB,  que à época exigia professor afinado com a filosofia educacional reinante. Em seguida, fui indicada para substituir a professora de História, Maria de Lourdes Amaral e assumi as três disciplinas. A escola funcionava ali na rua Campos, local do atual Instituto de Previdência do Estado de Sergipe.

    Viera de lecionar no Colégio Salvador, de onde migravam os alunos para fazerem o ensino médio no GA. Encontrei, então, muitos ex-alunos já conhecidos. Estudiosos com muita tendência para a área científica. Foi um tremendo aprendizado para mim. Com a mudança, para o Campus de São Cristóvão, após a implantação da UFS, nos transferimos para um novo endereço e aqui ocupamos o 2º andar do prédio de Didática 3.

    As dificuldades de adaptação aqui foram enormes. Não tínhamos passarelas cobertas, e estávamos sujeitos a assaltos, roupas grudadas de carrapichos e outras ameaças. Enfim, nos adaptamos não sem sofrimentos. Nunca é demais lembrar da secretária do Colégio Alene Oliveira, de saudosa memória e nossos diretores: professores Rivas, Iara Mendes, Luza Mabel, Terezinha Belém. Colegas, como as saudosas professoras Lígia Pina e Conceição Ouro Reis, que anteriormente foram minhas mestras no Colégio Nossa Senhora de Lourdes. Foi um encontro histórico, que afinou a nossa amizade desde o Colégio das Freiras.

    E os alunos? Tipos inesquecíveis.

    Permitam-me perfilar alguns. 

    Tive diante de mim durante esses anos, Políticos, Poetas, Mestres, Juristas, Cientistas, Militares, Comerciantes, Artistas e Outros.

    Os Políticos: logo se distinguiam: loquazes, discursivos, combativos! Lideravam quaisquer movimentos eleitorais na escola, eram os presidentes do grêmio. Monopolizavam as discussões nas aulas, realmente ocupavam cargos políticos e outros.

    Os Poetas: todos os dias uma poesia nova, e tínhamos de apreciar, apesar de nem sempre nos agradar. Continuaram poetas lançando livros.

  Os Mestres: logo eram monitores e auxiliares, quando os encontro, agradecem à professora pela influência exercida na escolha da profissão. Alguns muito entusiasmados.

    Os Juristas: sempre consultando o regimento escolar para defender os seus direitos. Eram os da lei. É uma honra encontra-los nos Fóruns da cidade. Bons advogados. Promotores e Juízes.

   Os Cientistas: estão em todos lugares, como hospitais, consultórios odontológicos, médicos, psicólogos. A ciência era seus sonhos apesar de valorizarem o estudo da História, graças a Deus. É confortante encontra-los em ocasiões oportunas.

    Os Militares: disciplinados. Impediam os embates entre os desafetos, protegiam-me.

    Os Comerciantes: tipos característicos, sempre implicando com os preços das coisas na cantina. Não muito dados aos estudos e cumprimento de tarefas. É gratificante encontrá-los bem sucedidos nos negócios.

 Os Artistas: inquietos, simpáticos, quase sempre filósofos, cantores, instrumentistas e pintores. Continuam artistas e felizes.

    No grupo dos Outros aqueles que fugiram a qualquer previsão. Os  encontramos em altos escalões, até na diplomacia internacional. houve também alunos viciados em drogas em pequeno número, graças a Deus.

    E foram tantos por todos esses anos. Eu espero tê-los ajudado. Discutimos as influências da Revolução Francesa na História, mas o que realmente eu gostaria de ter-lhes inculcado nas mentes os verdadeiros significados das palavras: Liberdade, Igualdade e Fraternidade. 

    Vai-me alta esta honorabilidade visto que, a vida é feita ritos e esse é mais um porque passo.

    Que a aridez do deserto, a falta de amor e de reconhecimento dos bons valores, sejam combatidos pelo professor em sua sala de aula.

Obrigada.

Cléa Brandão - É membro fundadora da Academia Literária de Vida desde 1992, cadeira n. 5, cuja Patrona é a professora Maria da Conceição Melo Costa - Cecinha Melo; é membro do Movimento Cultural Antônio Garcia Filho da Academia Sergipana de Letras, cadeira n. 5, Patrono Severino Pessoa Uchôa e membro da Academia de Letras de Aracaju-ALA, cadeira n. 23, Patrono José Bezerra dos Santos.