Rosa recebendo o carinho do seu passarinho. (Foto André Moreira) |
Foto Real -Acervo ALV |
ROSA FARIA – A jornalista
Era membro da Associação sergipana de Imprensa e como tal foi recebida na congênere brasileira, no Rio de Janeiro, em 1971. Sobre essa visita escreveu o Diretor da ABI, Pedro Coutinho, na Revista da Associação:” Este Brasil é o País das surpresas...Rosa Faria entra no meu gabinete e me entrega um ofício da ASI. Era uma apresentação.Conversamos.Em poucos minutos compreendi que estava à frente com uma extraordinária artista, esbanjadora de beleza e cultura.Quanto lhe ficará a dever o pequeno e glorioso Sergipe! A Galeria “Rosa Faria” é um orgulho não apenas para a terra de Fausto Cardoso, mas para todo o Brasil.Merece a compreensão e o apoio de todos, principalmente dos administradores.Pedro Coutinho”. Escrevia para alguns jornais da cidade durante datas comemorativas em artigos conclamando o fervor cívico ou argumentando temas polêmicos em determinados períodos.
ROSA FARIA – A escritora
Além do pincel e das tintas, Rosa gostava de Literatura. Publicou em 1947 a biografia de Dom José Thomaz Gomes da Silva na forma de calendário. Em 1948 publicou Sinopse Biográfica do Monsenhor Carlos Costa. E culminou em 1995 com o álbum histórico “Sergipe Passo a Passo pela sua História”. Tudo com recursos próprios. Nunca contou com qualquer ajuda, pública ou particular. Nem as visitas ao Museu ela cobrava. Seu único interesse era divulgar a sua arte e vê-la reconhecida. Rosa é também a autora do Hino do 4º Centenário do início da Colonização de Sergipe. A música é do professor e maestro Leozírio Guimarães.
ROSA FARIA – A artista plástica
Rosa Faria em seu atelier |
Peças com detalhes pintados com ouro |
Porcelanas reproduzem paisagens e prédios |
Espalhados pela nossa Aracaju e interior existem painéis da autoria de Rosa. Muitos deles doados para instituições pela generosidade da artista. Nas Igrejas de N. S. do Rosário, na de São Judas Tadeu, na Catedral Metropolitana, na de São Francisco, no Conjunto Inácio Barbosa, na de Santa Rita, na de N. S. de Loreto, no bairro Rosa Elze e na de N. S. do Perpétuo Socorro, no Conjunto Orlando Dantas. Este é o segundo. O original foi mal assentado pelo pedreiro e ruiu sob a trepidação causada por um caminhão/caçamba. A artista ficou desesperada... Mas logo se refez do choque pintando outro painel. Na Casa do Trabalhador Menor, na Rua Porto da Folha. Na minha residência a tela a óleo Canavial em Fogo; na casa da Dra. Cássia Barros, outra tela com o mesmo motivo. Na da professora Yvone Mendonça de Souza a tela Primavera, todos presenteados pela amiga generosa que ela sabia ser. E tantos outros doados aos parentes e amigos: Romance Eterno, Espelho da Natureza, Nostalgia Sertaneja etc. Na Associação Sergipana de Imprensa encontram-se vária telas a óleo. Muitas delas foram danificadas, quando do serviço de pintura do prédio. A nossa artista restaurou-as gratuitamente. Na cidade de Capela encontram-se vários painéis, por exemplo, no Colégio Imaculada Conceição e na Igreja de N. S. do Amparo. Criou as Comendas “Gumercindo Bessa” para o tribunal de Contas e a de “Tobias Barreto”, para a Procuradoria da Justiça.
Era patriota por excelência. Amava apaixonadamente o Brasil e em particular a Sergipe. Angustiava-se com as injustiças, a corrupção, o descaso para com os vultos históricos. Foi ela quem sensibilizou o Prefeito Wellington paixão para recolocar a estátua de Tobias Barreto no pedestal, que tinham colocado sobre a calçada durante uma reforma anterior. E acompanhou todo o trabalho até a hora da reinauguração.
No dia 17 de março comemorava o aniversário da Capital com a presença de autoridades, professores, estudantes, ao som da Banda de Música do corpo de Bombeiros ou da Polícia Militar. Fazia discursos inflamados de civismo e no final presenteava os convidados com peças em azulejo lembrando fatos históricos.
Recebia visitantes do Brasil e do exterior. Doa livros de presença constam assinaturas de vultos importantes do mundo cultural: Graziella Cabral, Aurélio Buarque de Holanda, Carmem Viana, Aristheu Bulhões, Monsenhor Carlos Costa, Severino Uchôa, Sebrão Sobrinho, Leyda Regis, Cônego Domingos Fonseca, Dom Luciano Cabral Duarte; os repórteres da Globo Cid Moreira e Alexandre Garcia, só para exemplificar. E todos deixaram isso registrado. O Dr. José Calazans ficou tão surpreendido e encantado que parafraseando o poeta Gonçalves Dias escreveu numa exclamação: “Meninos eu vi!...”
Por tudo quanto realizou foi homenageada em vida com os títulos de Amiga da Marinha, Amiga do Exército, Medalhas do Mérito Serigy nos graus de Cavaleiro e Comendador, Título de Cidadã Aracajuana pela Câmara Municipal, pelo Programa TV Memória da Fundação Aperipê, pelo Jornal da Cidade, na página Memória, do jornalista Osmário Santos.
Falecimento
No dia 1º de maio de 1997 Sergipe foi surpreendido com a notícia do falecimento dessa extraordinária mulher, dessa guerreira incomparável que, no dizer do reitor da Universidade Tiradentes Joubert Uchôa de Mendonça “ fez com as mãos uma obra inédita que só uma máquina poderia realizar”.
Com a sua morte física o “Museu de Arte e História Rosa Faria” fechou as portas. Mas foi apenas uma fase, um ciclo que se completou porque a sua obra, o seu nome permanecerão entre nós. A posteridade poderá conhecer a obra gigante no Memorial de Sergipe, graças a sensibilidade do Reitor Joubert Uchôa de Mendonça. Ele acolheu todo o acervo histórico, num contrato com a irmã e herdeira da artista Maria Carmelita Moreira Faria.
Naquele 1º de maio Sergipe lamentou a perda da artista da sua História. O Corpo de Bombeiros prestou-lhe a última homenagem, conduzindo o esquive envolto na bandeira de Sergipe e em carro aberto. O sepultamento digno do seu valor pelo muito que fez em prol da perenidade da História de Sergipe.
A arte era a vida de Rosa Faria, tanto que ela afirmava: “Quero morrer com o terço numa mão e o pincel na outra. Lá de cima eu quero ainda pintar o sete”. Estas palavras são o epitáfio da sua sepultura.
ACERVO DO MUSEU ROSA FARIA VAI PARA O MEMORIAL DE SERGIPE
Shirley Rocha
Maria Lígia e Ofenísia Freire no ato da assinatura (Fotos SR:Arquivo da ALV) |
Na ocasião da assinatura, a relações públicas do Museu declarou que a transferência servirá para resguardar a história de Sergipe, retratada por Rosa Faria e também a preservação da sua obra. Segundo ela, o interesse do Reitor da UNIT, Joubert Uchôa de Mendonça, naquele acervo já vem de longa data, inclusive, o professor Du muito apoio à pintora, sempre prestigiou as festividades do Museu, e logo após a morte da historiadora, demonstrou imediato interesse na preservação da obra. “Tenho certeza absoluta e concreta, que Rosa Faria, onde ela estiver, está exultante por saber que o seu trabalho irá para mãos cuidadosas, e vai Sr realmente divulgado como gostaria que fosse”, disse.
Ressaltou que o professor Uchôa foi amigo de Rosa Faria na vida e na morte, e que ele sempre registrava na Universidade obra e a vida da pintora Rosa Faria. “Ele foi realmente um admirador, e de certa forma hoje se coloca como protetor da obra dela para perpetuar a sua história”, salientou, afirmando que Sergipe está de parabéns pelo gesto do magnífico Reitor da Unit, que com carinho e o zelo que tem, fará com que a obra de Rosa Faria se perpetue”.
Reitor da Unit, Joubert Uchôa |
Uchôa disse que Rosa Faria levou consigo grande frustração por não ver as autoridades valorizarem a sua obra, declarando ter sido sempre um protestante, no sentido de revolta, dessa desvalorização e que todas as vezes que teve oportunidade fez referência a isso, pela falta de respeito que as autoridades tinham para com ela, principalmente quando tinha que sair de porta em porta convidando governadores e perfeitos, “e eu não sei quantos prefeitos compareceram às memoráveis festas que ela fazia no dia 17 de março, para deixar a juventude comprometida, dedicada e apaixonada pelos valores morais e intelectuais e pela nossa história que ela sempre defendeu”.
Assegurando que por razões como essa fez questão de que todos os presentes assistissem àquela assinatura para “amanhã ou depois nenhum desavisado venha a dizer que nós da UNIT quisemos tirar proveito de Rosa Faria, o que não é verdade, pois nós não iremos vender nada de Rosa, vamos cultuar o seu trabalho, nós fizemos questão de até o papel, o diploma dela, qualquer peça que esteja aqui, seja referenciada lá, preservada, e fazemos questão de nos famosos 17 de março continuar dando sequência ao que ela fez em nome de nosso Estado”.
Destacou ainda que “Rosa Faria dedicou toda a sua vida a preservar a memória do Estado, essa pessoa, que era de uma situação econômica e financeira pequena, deixou e renunciou aos prazeres, para que a história de Sergipe ficasse registrada e marcada por esse monumento que nós temos aqui”. Disse que para o Estado de Sergipe, é o único indicador que nós temos com marcos vivos, de tudo o que aconteceu na sua história. “E digo mais, isso me realiza particularmente, porque além de amiga, ela foi a minha professora”.
Dra. Cássia, Dr. Lauro e Yvone Mendonça. Sentados: Reitor Uchôa, Carmelita Faria, Cléa e Shirley Rocha |
Disse que o memorial a ser inaugurado servirá para preservar a história do Cangaço, da importância do Estado na Segunda Guerra, e principalmente a cultura sergipana, “onde nós vamos ter mostras desde o folclore, os hábitos, tipo de alimentação, vestuário, arquitetura e principalmente a literatura dos autores sergipanos; tudo já está previsto lá. Então, tudo o que diz respeito à cultura e a memória de Sergipe, nós estamos colocando no memorial, onde serão para nós muito mais expressivos porque Rosa Faria estará viva em cada peça trabalhada por ela”.
O professor Uchôa finalizou declarando que as condições para a assinatura deste contrato estão impressas em documento de cessão, onde a irmã da pintora, Carmelita Moreira Faria, está fazendo doação com cláusula de obrigatoriedade por parte da UNIT. “A Universidade vai estabelecer uma pensão que a sucessora receberá enquanto viver, e irá depositar o valor acertado, em conta bancária de Carmelita”.
De Shirley Rocha - Matéria publicada no Jornal Diário de Aracaju - 15 de julho de 1997- caderno A- pág 05.
Alguns registros do Memorial de Sergipe-Universidade Tiradentes-UNIT-Fotos: Shirley Rocha
Estátua de Rosa Faria na entrada |
Pintura em azulejos- A Catedral |
Porcelanas que retratam praças, ruas, prédios da cidade antiga |
Atendimento aos pesquisadores |
Personalidades homenageadas por Rosa-Porcelanas com arte em ouro |
Matéria jornal Cinform -27 de março a 2 de abril de 2000 |