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1-Maria Marieta Telles de Menezes

Nasceu em Aracaju (17/09/1900), filha de José Teles de Meneses e Maria Sales Meneses. Realizou o curso primário em Frei Paulo com a sua tia, professora Rubina Francisca de Sales. Em 1917 prestou exames para o Atheneu, tendo causado admiração à Banca Examinadora pela gama de conhecimentos demonstrados, especialmente na prova oral de Língua Portuguesa. Um dos examinadores perguntou-lhe quem a havia preparado para os exames, ao que ela respondeu: “a minha tia, professora Rubina Francisca de Sales”. Fez com brilhantismo o curso no Atheneu. Desejava estudar Medicina e estava preparada para prestar o Exame de Madureza, quando o pai, que era tabelião, perdeu o cartório, em consequência da mudança de Governo. Nada mais restava senão procurar um emprego. Marieta deu aulas particulares até que um dia resolveu procurar algo melhor. Na época não havia concursos, valia o pistolão. Marieta não o tinha. Tomou uma decisão. Pediu audiência ao Presidente do Estado, Capitão Augusto Maynard Gomes, e lhe pediu a cadeira de Geografia da Escola de Comércio “Conselheiro Orlando”, que soubera estar disponível. Entusiasmado com a boa palestra, a correção de linguagem da pleiteante, prometeu nomeá-la e cumpriu a palavra, embora pessoas influentes tivessem na mira o mesmo emprego. Lecionou Geografia e Corografia do Brasil, na mesma escola, durante mais de trinta anos, pois antes de deixar o Governo, o Presidente decretou a sua efetivação na Cadeira.
Na Escola de Comércio “Conselheiro Orlando”, Marieta foi professora dedicada, procurando sempre dar o melhor dos seus conhecimentos aos alunos, atualizando-os constantemente através da leitura de bons livros e, sempre que podia, viajava para viver a disciplina “in loco”. Conheceu grande parte do Brasil, é uma das pioneiras em viagem ao exterior, o que naquela época só os ricos faziam. Mas, no Ano Santo de 1950, um grupo de peregrinos, muitos de classe média (professores, sacerdotes), teve a oportunidade de participar de uma excursão a Roma. Marieta, tendo por companheira de viagem a professora Maria Thétis Nunes, Afra Vieira, D. Avelar Brandão Vilela etc., embarcaram no porto do Recife, no navio de nome Geni, rumo à Europa. Em Roma, os passageiros ficavam hospedados no próprio navio. Após conhecer Roma e outras cidades da Itália, como Veneza, Milão, Florença e Pisa, Marieta e Afra resolveram excursionar por outros países da Europa. Entraram em contato com uma companhia de turismo e foram à França, passando um mês em Paris, conhecendo também Marselha, Bordéus, Lourdes e outras cidades francesas. Na Suíça visitou Genebra e Lusaka. Andou pela Espanha, visitando Madrid, Sevilha, Toledo. Em Portugal conheceu Lisboa, Porto, Braga, Fátima, a Ilha da Madeira etc. De todos estes lugares trouxe lembranças para amigos e colegas, cartões-postais, livros com que ilustrava as suas aulas.
Cristã por excelência, Marieta sempre primou pela caridade e pela justiça. Os alunos a chamavam (ocultamente) de “mamãe”, em consequência de um fato ocorrido com um colega. Um desses alunos que “nada querem”, além de perturbar as aulas com brincadeiras, ia ser expulso da escola. O Conselho se reuniu e todos os professores votaram pela sua eliminação. Quando interrogada, Marieta votou contra e justificou: o aluno não perturbava as suas aulas e era um rapaz pobre, filho de uma lavadeira. E lançou aos colegas a seguinte pergunta: “Se fosse um rapaz de família rica, seria expulso?” Então aconteceu o imprevisto: os professores, um a um, retiraram o voto pela expulsão. Marieta, entretanto, não parou aí. Chamou o aluno rebelde, conversou com ele e fê-lo prometer emendar-se. E ele cumpriu a palavra empenhada. Alguns anos depois, encontrou-se casualmente com o ex-aluno que lhe disse ser gerente de uma grande firma, aqui, em Aracaju, e que tudo lhe devia pela lição que dela recebera. Assim é Marieta: simples, caridosa, amiga, uma personalidade forte, superior.
Com a morte dos pais e da tia Rubina, sustentáculos da numerosa família, Marieta assumiu a responsabilidade, criando e educando os irmãos menores: Heribaldo, Paulo, Josefa, Lourdes, Samuel e Hunald e mais três sobrinhos, filhos de um dos irmãos que continuou residindo em Frei Paulo, no sítio da família.
Marieta não é apenas a professora de Geografia. Eclética, é também romancista, poetisa e artista plástica. Possui quatro romances inéditos: O Faroleiro de Catupan, mais de trezentas páginas de grande beleza literária, retratando uma época e costumes, romance que levado ao cinema teria efeitos de Assim Caminha a Humanidade e Show Boat, de Edna Ferber. Uma Consciência Remordida, de cunho psicológico e Eu e Você, filosófico, espiritualista.

Acervo de Lígia Pina
Artista plástica, suas telas são marcadas pela firmeza dos traços, harmonia de cores; repousam a vista e transmitem paz. A residência do seu irmão Heribaldo é decorada com telas de Marieta, entre as quais Jesus e a Samaritana no poço de Jacó, Rosas, Os Cães etc.
Simpática, sempre alegre, mas sem afetação, Marieta fez amigos por onde quer que andasse. Na Europa, por exemplo: Em Capri, numa excursão à Gruta Azul, conheceu um grupo de franceses, entre os quais Madame de Jourdan e Pièrre Bourbon. Ela, viúva de um oficial e heroína de guerra. Ele, descendente de nobres, criador de cavalos de corrida. Corresponderam-se durante longos anos, até a morte dos dois. Em Paris, o garçon do hotel, impressionado porque ela não comia carne (carne de cavalo), sempre lhe servia um ovo ou um pedaço de frango. Em Portugal, conheceu em um parque uma professora de nome Dolores, que estava em excursão com as alunas. Marieta correspondeu-se com ela, também, durante muitos anos. Um dia recebeu uma carta de uma colega de Dolores dizendo que ela estava muito doente e em difícil situação econômica. Marieta dividiu com ela o seu salário, ajudando a uma pessoa a quem vira apenas uma vez. Recebeu depois a notícia do falecimento de Dolores. Quando da morte de Pièrre Bourbon ela recebeu a comunicação pelo Consulado Brasileiro, em cartão tarjado. Assim é Marieta: pobres, doentes, sofredores de todos os matizes, os pobres de Deus – a todos considera seus amigos, a todos sempre leva a palavra de conforto e o apoio material.
Acervo Lígia Pina

E a poetisa Marieta? Sua poesia se caracteriza por temas religiosos e humanistas e também a poesia para as crianças, como podemos observar nesta pequena amostragem que recolhi do seu acervo.

VIDA

Tudo no mundo tem vida
e para a vida nos convida
a viver dentro da vida
a nossa própria vida.

E assim se passa a vida
seja bem ou mal vivida,
no desconforto desta vida
esperamos doce vida.

Visando a Eterna Glória
que nova vida nos dará,
façamos na vida d’agora
pela outra vida alcançar.

VARIEDADE UNIVERSAL

No conjunto universal
todo ser tem sua função;
se para o bem ou para o mal
depende só da ocasião.

Os animais domesticados
para o nosso próprio uso,
ao nosso meio adaptado
raras vezes cometem abuso.

No dia a dia rotineiro,
nos atalhos dos caminhos
não sabemos se primeiro
colhemos rosas ou espinhos.

Tudo tem a sua meta
na base da complexidade
da Mãe Natura, direta,
em extensão e variedade.

ÓDIOS E VINGANÇAS

O ser humano se agita
em constante confusão:
Se este fala alto ou grita,
aquele, dispara um canhão.

As injustiças ocorrem
em quase todos os meios;
felizes os que não morrem
tentando fugir dos bloqueios.

Os injustos terroristas
com seus ódios e vinganças
desrespeitam em suas pistas
homens... mulheres... e crianças.

Faltando-lhes fé e amor
em Deus Pai Onipotente
eles praticam o terror
e sacrificam muita gente.

PREDESTINAÇÃO

O homem se diz instruído,
tudo ele sabe fazer...
Com a mulher no sentido
muito lhe falta aprender.

Ele é “chic”, vaidoso,
O Criador lhe fez então
o mais perfeito e formoso
entre os seres da criação.

Coitado dele!... coitado!...
ostentava sua beleza
bem triste e acabrunhado
em meio a tanta grandeza!

As delícias do Paraíso
não lhe causavam alegria...
O homem, com o dom do “juízo”
sentiu sua vida vazia

O Justo Pai Onipotente,
do homem se compadeceu
e para torná-lo contente
uma companheira lhe deu.

PENA DE MORTE

Comete um erro profundo
quem rouba a vida ao irmão
porque ninguém neste mundo
tem direito a tal decisão.

Somos criaturas de Deus,
seres por Ele criados
Segundo os ditames Seus,
somos todos irmanados.

A vida humana é sagrada
pertence a Deus desde o nascer
até a hora consumada,
a outra que iremos ter.

Somente Deus tem o direito
de nos levar, na ocasião
para habitarmos no Perfeito
com o Seu Amor e Perdão.

A SAUDADE

Se a Saudade tivesse
asas como os passarinhos
talvez, muita gente pudesse
suavizá-la devagarinho...

Se a Saudade corresse
como corre uma cachoeira
em busca do nosso interesse
– ela iria bem ligeira!

Se a Saudade por um instante
fosse humana e compassiva
certo não iria adiante
em sua marcha agressiva.

Se a Saudade pressentisse
o mal que sempre nos faz
talvez jamais permitisse
que nós olhássemos para trás.

Mas a Saudade persistente
em sua profunda missão
se infiltra em toda gente
forçando a barra, no coração.

QUANDO PARTIRES

Quando partires, não me digas adeus.
Não quero te ver numa despedida
que deixará a luz dos olhos teus
talvez na dos meus, comprometida.

Quando partires... eu não quero ouvir
o som da tua voz harmoniosa
que na certa me fará sentir
a falta do amor que não se goza.

Quando partires... em silêncio vás;
a tua voz não desprendas não!
Pois eu suponho que será demais
da ressonância a recordação.

Quando partires... adivinharei...
Sem que me digas que te vais embora,
a Saudade – bem certa estarei –
me dirá o dia e talvez a hora!...

DEUS

Deus é “Amor”, é “Caridade”
fonte de luz e é grandeza
a espalhar por toda humanidade
os tesoiros reais da Sua Realeza.

Deus é a nossa Fé, é Crença
onde firmamos todo o nosso bem
e d’Ele esperamos a sentença
que nos aguarda o mundo do Além.

Deus é a nossa Esperança
e alegria maior da nossa vida,
escrínio sagrado, confiança,
que nos atrai à Pátria Prometida.

NEM SEMPRE A VEZ É DO MAIS FORTE

Com muito custo e medo
viceja ao pé de um carvalho
e aproveita do arvoredo
a boa sombra e agasalho.

Frágil plantinha, rasteira
mui tenra, franzina, sem viço,
da robusta árvore à beira
se protegia – pobre caniço!...

Um vendaval tempestuoso
varreu toda a região...
Até o “carvalho” frondoso
caiu... rolou pelo chão!

A árvore mui bela e forte
não se curvou ao temporal
que lhe dera a própria morte,
levando-o pelos ares, afinal.

E o pobre caniço, assustado
ante a fúria desabrida
curvou-se; ao chão deitado,
após a tormenta, escapou com vida.

APROVEITEMOS O TEMPO

O tempo passa... e passa
na sua marcha imperceptível...
Por mais que se queira ou faça,
para detê-lo é impossível.

Mal surge o dia no arrebol
a Terra logo se ilumina
com a luz doirada do sol
que pouco a pouco se declina!

São as leis da Natureza
que nos impõem a meditar
com toda a madureza
neste constante variar.

Aproveitemos, pois o Tempo
enquanto ligeiro se vai.
Por nosso bom exemplo
Devemos dar graças ao Pai.

Do livro “A Mulher na História” de Maria Lígia Madureira Pina.
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Nota: Maria Marieta Teles de Meneses faleceu na cidade do Rio de Janeiro, no dia 30 de julho de 1999.