(1927/1999) |
"Foi ela a grande guerreira que venceu o tabu da Academia Sergipana de Letras" - Maria Lígia M. Pina.
Núbia nasceu em Aracaju, na Rua de Geru, no dia 21 de dezembro de 1927. Filha de Atílio Marques e Bernardina Rosa do Nascimento Marques. Dos cinco filhos era a mais velha. Seu primeiro contato com a escola foi no Jardim de Infância Augusto Maynard Gomes. Cursou o Primário no Educandário Menino Jesus, o Ginásio no Atheneu Sergipense e Contabilidade na Escola de Comércio Conselheiro Orlando.
Núbia nasceu em Aracaju, na Rua de Geru, no dia 21 de dezembro de 1927. Filha de Atílio Marques e Bernardina Rosa do Nascimento Marques. Dos cinco filhos era a mais velha. Seu primeiro contato com a escola foi no Jardim de Infância Augusto Maynard Gomes. Cursou o Primário no Educandário Menino Jesus, o Ginásio no Atheneu Sergipense e Contabilidade na Escola de Comércio Conselheiro Orlando.
Aos vinte anos foi morar no Rio de Janeiro onde fez curso de Belas Artes e trabalhou na Revista Seleções de Reader’s Digest. Ao voltar para Aracaju, na década de 50, já casada, ingressou no curso superior da Escola de Serviço Social. Aprovada em concurso do Estado, tornou-se professora de Literatura Portuguesa e Brasileira. Em função da família foi morar em Salvador e ali trabalhou como Assistente Social no SESC. Depois, lecionou na Escola de Serviço Social e posteriormente, com a fundação da Universidade Federal de Sergipe, passou a titular do Departamento de Serviço Social. Fez Mestrado na PUC de São Paulo. Dirigiu o Departamento de Cultura e Patrimônio Histórico, e assumiu por duas vezes a presidência da Fundação Estadual de Cultura. Foi a primeira mulher a pleitear uma vaga na Academia Sergipana de Letras e sendo eleita, em 1978, ocupou a cadeira de número 34, cujo patrono é Ladislau Aranha Dantas. Foi logo depois de Rachel de Queiroz, na Academia Brasileira de Letras, eleita em agosto de 1977. Maria Lígia Pina escreve no livro "A Mulher na História" que Núbia quebrou o tabu da ASL.
Desde os 14 anos ela fazia poesia e falava da influência de Graciliano Ramos, Augusto Frederico Shimidt e Clarice Lispector. Para ela poesia era como um vício “... uns bebem, outros jogam e a minha mania é a poesia...” Mas afirmava que achava sua poesia fraca, sem conteúdo, e uma viravolta foi dada quando perdeu seu primeiro filho. ”Fiquei tão amargurada que as dores que sentia passei para a poesia e ela ganhou um impulso muito grande... não sou aquele que diz que o poeta finge, eu não finjo nada, a dor em mim é uma coisa explícita e quando ela vem, vem com a palavra”.
Desde os 14 anos ela fazia poesia e falava da influência de Graciliano Ramos, Augusto Frederico Shimidt e Clarice Lispector. Para ela poesia era como um vício “... uns bebem, outros jogam e a minha mania é a poesia...” Mas afirmava que achava sua poesia fraca, sem conteúdo, e uma viravolta foi dada quando perdeu seu primeiro filho. ”Fiquei tão amargurada que as dores que sentia passei para a poesia e ela ganhou um impulso muito grande... não sou aquele que diz que o poeta finge, eu não finjo nada, a dor em mim é uma coisa explícita e quando ela vem, vem com a palavra”.
Desde cedo demonstrava sua rebeldia quando conta a discussão que teve com o pai, aos 17 anos após ter lido “Memórias do Cárcere” de Graciliano Ramos. O pai, getulista doente, não gostou da conversa e mandou que ela se retirasse da mesa. Ela obedeceu, mas percebeu que jamais seria uma mulher para aceitar tudo de modo silencioso como sua mãe. “- Uma vez, porque sou feminista, uma pessoa me questionou - “Se você que ser como homem porque não vai para o Exército, para a guerra? Respondi que para a guerra eu não iria nem sendo homem, porque não tem ninguém que me convença a pegar uma carabina para matar o ser humano e garantir os poderosos, se eu fosse homem seria um desertor”. Era feliz quando publicava um livro, os setenta anos comemorou lançando "Poemas Transatlânticos" no hall do Tribunal de Justiça, cuja noite foi animada por Daniela Faber.
Sempre que se falava de Núbia vinha à tona a sua rebeldia e irreverência. Depoimentos assim confirmam: “Moderna, espírito lutador, carregada de um sentimento enorme de angústia existencial, Núbia N. Marques já marcou seu lugar na história do pensamento social sergipano em prosa e verso” de Paulo Dantas; “Núbia Marques- mulher poeta, Núbia é viagem de ontem e hoje, por trilhos e brilhos de divergentes caminhos. Andou de mar contra ondas e ventos de oposição e limites. Seguiu por estradas apenas sonhadas que no seu grito se abriram em clareiras contínuas” da professora e escritora Carmelita Fontes. De José Lima Santana (advogado, membro da ASL) “Ela partiu. Mas os grandes não partem completamente. Algo deles permanece com os que ficam. Por isso, Núbia Marques continua entre nós. Digo, por fim. Núbia Marques, você foi grande. Você é grande”.
Ativista política no que dizia respeito à mulher, lutou em prol da dignidade feminina em vários segmentos sociais, pela anistia política em favor das mulheres e a favor das Diretas Já. Dizia: “- Os políticos vivem mais para resolver os problemas pessoais e a esquerda frágil... Saí da esquerda porque não vi nenhum programa de melhora”. Pintava nas horas vagas, tendo realizado várias exposições de suas telas. Pretendia escrever um livro fazendo um balanço “dessa sociedade caótica que fala na internet e odeia o vizinho, tenho que fazer isso, uma crítica muito séria a esse homem que está virando robô. Acho que nada substitui um aperto de mão, uma conversa, um amor, o contato físico”...
Núbia Marques faleceu no dia 26 de agosto de 1999, quando se preparava para lançar seu 21º livro “Do Campo à Metrópole”, dia 4 de setembro, no Rio de Janeiro. E já estava também marcado para 25 de setembro o lançamento em Aracaju. Núbia faleceu vitima de um infarto fulminante saindo de um banho.Núbia deixou quatro filhos, dez netos e três bisnetos.
Maria Lígia Madureira Pina foi indicada pelos colegas da Academia Sergipana de Letras (ASL) para escrever o necrológico à Núbia Marques.
Poesias: Um ponto e duas divergentes. Aracaju: Livraria Regina Ltda, 1959. Dimensões poéticas. Aracaju: Livraria Regina Ltda, 1961; Máquinas e Lírios. Aracaju: SESC, ETFS, 1971; Geometria do Abandono. São Paulo: Ed. Do Escritor; 1975. Todo Caminho é um Enigma. Recife: Belo Ed. E Artes, 1989. Poemas Transatlânticos. Lisboa: Edições Átrio de Lisboa, 1997. Com Gizelda Morais e Carmelita Fontes: Baladas do Inútil silêncio. Salvador: Artes Gráficas, 1965. Verdeoutuno. Aracaju: Gráfica Ed. J. Andrade, 1982.
Crônicas: Sinuosas em Carne e Osso. Aracaju: Livraria Regina Ltda, 1962. Escrevia para jornais e emissoras de rádio locais.
Contos: Dente na Pele. RJ: Achiamé, 1986. Também foi traduzido para o holandês.
Folclore: Pesquisa de Fatos Folclóricos I. Aracaju: SEC, 1972. Volume II – contos infantis, 1973. Aspectos do Folclore em Sergipe (coordenação e texto) Aracaju: ASL e PMA, 1996. O Luso, o Lúdico e o Perene (lançamento póstumo). RJ:IMAGO Ed., 1999.
Romances: Berço de Angústia. RJ: Achiamé, 1980. Gráfica Tietê, 1967. O Passo de Estefânia. RJ: Achiamé, 1980. 2ª edição em 1982 e 3ª edição em 1985. (Tem edição em alemão). Adotado no Dep. de Serviço Social da UFMG, no vestibular em 1986. O Sonho e a Sina. Manaus: Ed. Calderano, 1992.
Ensaios e estudos: João Ribeiro poeta (trabalho premiado). Aracaju: SESC, Caderno SE Cultura I. Mulheres x Cultura de Subsistência. Aracaju: Unigráfica, 1983. A Presença de Fernando Pessoa (Separata da Revista Hoje). Aracaju: Unigráfica, 1986. Hegemonia Cultural na Escola. Aracaju: SEC, 1987. João Ribeiro sempre. Aracaju: Editora da UFS, 1996. Caminhos e Atalhos (álbum histórico). Aracaju: Segrase, 1997. Do Campo à Metrópole – grupo G. Barbosa (póstumo). Aracaju: Gráfica Ed. J. Andrade, 1999.
Verbetes: Dicionário Bibliográfico de Escritores Brasileiros Contemporâneos - Adrião Neto. Teresina: Edições Gerações, 1998. Dicionário de Mulheres - Hilda A. Hubner Flores. Porto Alegre:Nova Dimensão, 1999. Dicionário Crítico de Escritoras Brasileiras, Nelly Novaes Coelho.SP:Escrituras Ed.,2001. E participações em várias Antologias.
Necrose
Morri tantas vezes em ti
que nem me apercebi da necrose
os túmulos de flores insepultas
eram risos da infância dilacerada
trêmulos risos girassóis outonais.
Morri tantas vezes em ti
que nem percebi a necrose
a noite que sempre precede ao nada
tinhas as calcinhas expressões do desamparo
e a única árvore abrigo
era a despedida árvore inatingível
Morri tantas vezes em ti
que nem percebi a necrose
os ventos que embalavam os cemitérios
nem tinham o balanço de brisas silenciosas
nem eram a ventania alucinada
mas os ventos lentos que ninam a morte.
Morri tantas vezes em ti
que nem percebi a necrose
e a desvairada busca do amor
era o réquiem eterno do desencontro.
Fé no Ofício
não sou poeta
do parecer do carimbo
da hora certa
do relógio de ponto
dos trâmites legais
dos acordos
dos aceros
das mornas convivências
poeta oficial
Poeta tem que ser
o passo avesso
o grito o protesto
o pulso o murro
o monte o traste
a palavra maldita
o desacerto na próxima tocais
Sou poeta que faço
do laço o traço
do cuspe o rastro
do passo o arregaço
do sobejo o farelo
do travo o trevo
do amargo viver
d cada instante
sou poeta
mais nada.
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Por Shirley Maria Santana Rocha.
Por Shirley Maria Santana Rocha.
Referências bibliográficas:
Jornal da Cidade, 30.08.97, pag 11.
Folha da Praia, edição, 670, setembro, 1999, pag 07
Jornal da Cidade, 28 de 09.2009, pag B-9
Baladas, Palavras, e Outonos. Carmelita Fontes, Gizelda Morais, Núbia Marques. Ed. Diário Oficial, 2009.