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8-Carlota Salles de Campos

  (1884-1971)  
Professora e poetisa. Aluna brilhante da Escola Normal “Rui Barbosa”, terminado o curso foi nomeada professora do Povoado Calumbi, município de Socorro. Daí, fez uma verdadeira tournée, levando a luz da instrução a diversos municípios: Telha, Barra dos Coqueiros, Itaporanga. Em 1922, pediu disponibilidade e viajou para Recife, onde foi ensinar no Colégio Americano Batista. Aí permaneceu por dois anos, mudando-se para Jaguaraquara, na Bahia, onde lecionou no Colégio Brasileiro Egydio. Voltando para Sergipe, fundou o seu próprio colégio, na avenida João Ribeiro, no Bairro Santo Antônio. Do Colégio Frei José Santa Cecília eu mesma posso dar testemunho porque fui sua aluna. Por D. Carlota fui alfabetizada pelo método de orações, hoje considerado moderno. D. Carlota não se limitava a ensinar as lições trazidas nos livros. Além de explorar os textos livrescos ela nos ensinava hinos patrióticos e levava a público peças dramáticas e comédias com grande sucesso. Participei do drama A Madrasta, levado à cena no Teatro Rio Branco, que mereceu o elogio da crítica da época.
Deixei o Colégio Frei José Santa Cecília no segundo ano primário, por motivo de mudança. Muitos anos mais tarde, já moça, fui reencontrá-la em Santo Amaro das Brotas, novamente professora pública, incentivando o gosto pela literatura, transformando garotas do interior em artistas dramá­ticas e cômicas nos salões do Grupo Escolar “Dr. Esperidião Monteiro”. Aposentada voltou para Aracaju e por duas vezes fomos quase vizinhas. Visitei-a sempre, na sua casa da Rua Laranjeiras, onde lecionava piano e, posteriormente, na Rua Arauá. (Cofre de lembranças da pesquisadora).
D. Carlota publicou um livro sob o título de Colmeia de Rosas. Da sua autoria transcrevo o soneto 

PAISAGEM

A tarde vai morrendo. O sol fulgente
Num rosicler divino, vai findando.
Grata paisagem se descortinando
Vinha enlear um vale viridente.

O mar, lindo, beijava docemente
A nívia praia num murmúrio brando.
Ao longe, em bando, as aves revoando,
Regressavam num gorjear dolente.

À flor de um lago um barco deslizava.
Remando, um novel pescador cantava
Canções saudosas, cheias de magia.

E enquanto o véu da noite ia descendo,
Da ermida o sino lento ia tangendo
Pela extrema do vale – Ave Maria.

(Armindo Guaraná – Dicionário Biobibliográfico Sergipano)

ORAÇÃO

Excelso Deus, Senhor Onipotente
Deste universo, poderoso e forte,
Eu te suplico fervorosamente,
Compadece-te, ó pai, da minha sorte!

Faze, Senhor, que eu possa, até a morte
Obedecer-te sempre fielmente;
Encaminha-me, pois, pelo teu norte,
Ó, Tu que és meu refúgio permanente!

Tu bem sabes quão fraca é a humanidade
E já que és o Caminho e és a Verdade,
Dá-me a graça da tua proteção.

Desvia-me do mal e do perigo;
Sê neste mundo o meu maior amigo,
Durante a minha peregrinação.

(Do álbum da pesquisadora, cópia do original oferecido pela autora em 1957.)
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Do livro “A Mulher na História” de Maria Lígia Madureira Pina.