Maria Lígia M. Pina
...E os algozes, com feras algemas O ataram...
aos socos e empurrões O levaram a Anás
que depois de O interrogar à noite inteira,
de manhã O enviou ao sacerdote Caifás.
De Caifás a Pilatos Ele foi mandado...
que nenhum crime no Rabi tendo encontrado,
como presente de grego, O mandou ao rei Herodes.
Este, O vendo pobre, indefeso, humilhado,
ao Proconsul o devolveu de imediato.
Temendo julgar réu de morte um inocente,
Pilatos organizou um júri popular,
logo interrogando àquele rude gente:
-Solto Barrabás ou a Jesus devo soltar?
-Barrabás - dizia o povo pelos sacerdotes
incitado. É o Cristo desfigurado, pálido
a morrer no torpe lenho é condenado.
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O SENTIDO DA PÁSCOA
Segundo o Aurélio, a Páscoa tem origem nas comemorações da primavera pelos pastores nômades, antes da era do mosaísmo. Mas, a Páscoa comemorada até hoje pelos judeus lembra a libertação do povo hebreu do cativeiro egípcio. E nos é contado com detalhes na Bíblia, nos livros Gêneses e no de Exôdo. Aqui registro a história: em a época da grande seca que assolou a maior parte do Oriente Próximo, José, o filho querido de Jacó que fora vendido pelos irmãos, já era governador do Egito. Nessa época, Jacó, os filhos e suas famílias emigraram para o Egito e foram viver em Gessem, a melhor terra egípcia. Nesse tempo, o Egito era dominado pelos hicsos, povo de origem semita, portanto da mesma origem dos judeus. Muitos anos depois, os hicsos foram expulsos e os hebreus passaram de privilegiados a escravos.
A Bíblia diz: ”e levantou-se no Egito, um rei que não conhecia José e escravizou o povo hebreu”. Escravidão que durou quatrocentos anos. Por este tempo, surge Moisés – o salvo das águas-, adotado pela filha do Faraó. E é Moisés quem vai conduzir o seu povo de volta a Eretz Israel. O processo é longo e doloroso, desde o início.
Todo mundo sabe a história: o endurecimento do Faraó e as dez pragas que assolaram o Egito, culminando com a morte dos primogênitos egípcios, inclusive o filho do Faraó. Começa então a história da Páscoa: segundo ordem de Javé, os hebreus deveriam imolar um cordeiro ou um cabrito de um ano, sem nenhum defeito e o guardaria até o décimo quarto dia deste mês (abib-março-abril). Então, ao fim da tarde, toda a Assembléia os imolará. Tomarão cada um o sangue do animal e marcarão com ele as ombreiras das portas e também as vergas. À noite comerão o animal assado, com as vísceras. Comerão a carne com pães ázimos e ervas amargas. E comerão de pé, às pressas, com o cajado na mão, como prontos para a partida. Ex.12.
No dia seguinte, o Egito acordou de luto. Estavam mortos todos os seus primogênitos humanos e animais. Foi um clamor!...
Vencido, arrasado, o Faraó permitiu a saída dos hebreus.
É o EXÔDO. Segue aquele mundo de gente, levando o que era seu e o que lhes deram os egípcios. Atravessaram milagrosamente o Mar Vermelho e erraram quarenta anos pelo deserto. Sem dúvida, andando em círculos, sofrendo, passando fome e sede, vacilando na fé, mas sempre socorridos pela providência de Iavé.
E a Páscoa Cristã?
Observemos que a paixão e morte de Jesus aconteceram na véspera da Páscoa judaica. Os apóstolos assimilaram o sentido da passagem: agora, da escravidão do pecado para a liberdade da graça de filhos de Deus, alcançada com o sacrifício do sangue de Jesus. Ele, o Cordeiro Imaculado que se deixou imolar pela redenção da humanidade. Mas... que pecado? É aquela velha história do pecado original: o fruto proibido da árvore da vida, saboreado por Adão e Eva e legado para toda humanidade. É a punição dos pais, nos filhos que Jesus aboliu na sua pregação de amor e misericórdia.
Voltando ao sentido da Páscoa: na última ceia com os apóstolos, Jesus serviu o pão e o vinho dizendo: “Tomai e comei, isto é o meu corpo. Tomai e bebei, isto é o meu sangue”. E acrescentou: “Fazei isto em minha memória”. Dali, partiu para o Jardim das Oliveiras e de lá para o martírio, o mais doloroso que a história registra. Mas, segundo ele mesmo predisse ressuscitou no 3º dia, o domingo. E este é o verdadeiro sentido da Páscoa, o alicerce da fé cristã, porque como afirma São Paulo se Cristo não ressuscitou a nossa fé é nula. No 3º dia, o domingo, Maria Madalena, Maria de Cléofas e Joana encontraram o sepulcro vazio. Fato confirmado depois por Pedro e João. E onde estava Maria, a Mãe? Em casa naturalmente. Porque aquela mulher simples, na sua fé inabalável sabia que a morte não podia reter no túmulo aquele que é a Fonte da Vida. E sem dúvida, ela recebeu, antes de todos, a visita do filho ressuscitado, como prova de amor e premio pela fé que vence todos os obstáculos.
Quando teria sido a Paixão de Jesus?
Os evangelistas não registram a data. Dizem apenas que aconteceu numa sexta-feira, véspera da Páscoa judaica. Difícil não? Quantas sextas-feiras teriam sido véspera de Páscoa?
Daniel Rops, judeu-francês, membro da Academia Francesa de Letras, autor do fascinante livro A Vida Cotidiana na Palestina no Tempo de Jesus, afirma que a condenação e morte de Jesus ocorrera no dia 7 de abril do ano 30, uma sexta-feira. Mas, tomando Lucas como guia vejamos: João Batista começou a sua pregação no ano 15 do reinado de Tibério. Pilatos era o Procurador de Roma, Herodes Antipas era o Tetrarca da Galiléia, Felipe, irmão de Herodes governava a Ituréia, Lisânias era o Tetrarca de Abilina e Anás e Caifás eram sumo-sacerdotes. Tibério começou a governar, no ano 14, quando morreu Augusto.
30 do reinado de Augusto - nasceu Jesus; 30-14=16. Jesus teria 16 anos.
15 do reinado de Tibério - início da missão de Jesus; 14+16=30. Jesus teria 30 anos.
18 do reinado de Tibério - crucificação de Jesus; 18-15=03, assim, 30+3=33. Jesus teria 33 anos.
Daniel Rops nos apresenta um quadro cronológico com os seguintes dados:
Ano 06 a.C - nascimento de Jesus.
Ano 0 - início da era cristã.
Ano 06 d.C. - Jesus entre os doutores.
Ano 06 +06=12. - Jesus teria 12 anos.
Ano 14 - morre Augusto.
Ano 14 - início do reinado de Tibério.
Ano 14-06=08+12=20. Jesus teria 20 anos.
Ano 27 início da missão de Jesus
27-14=13+20=33. Jesus teria 33 anos.
Ano 30 processo e morte de Jesus.
33+03=36. Jesus teria 36 anos.
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SIMBOLOGIA DA PÁSCOA
São símbolos da Páscoa:
Paramentos roxos: nas missas, os celebrantes usam paramentos roxos durante toda a quaresma (da 4ª feira de cinzas à 4ª das trevas quando se inicia a Semana Santa). O roxo representa o luto da Igreja diante do sofrimento de Jesus e de toda a humanidade, por quem ele deu a própria vida, naquela longínqua Páscoa judaica, há 1968 anos.
Ovo: simboliza o túmulo, mas dentro dele, está a vida. Representa a ressurreição de Jesus.
Ramos: representam a entrada de Jesus em Jerusalém. Antigamente, costumava-se espalhar na casa galhos de uma planta do manguezal, chamado camarão e também, com um ramo espantar as moscas dizendo: “Xô, moscas, vão para casa de quem come e não reza”.
Abstenção de carne: Serve para renovar o espírito de solidariedade cristã em favor das pessoas que não têm alimento. A Igreja nos ensina que o melhor jejum é a partilha.
Coelho: símbolo da fecundidade, logo, a perpetuação da vida.
Judas: representa a traição, a entrega de Jesus ao Sinédrio. Antigamente, e não vai muito longe, fazia-se a queima do Judas, no sábado da Aleluia. Nessa noite o povo reunido á frente das casas onde havia o boneco de pano, ouvia a leitura do testamento do Judas que era hilariante, provocando gargalhadas nos participantes. No fim queimava-se o Judas.
Ceia: relembra a última refeição de Jesus com os apóstolos quando anunciou que seria traído por um deles. Nessa ocasião deu-lhes o exemplo de humildade lavando-lhes os pés. A ceia nos lembra também, de modo especial, a instituição da Eucaristia.
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