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terça-feira, 24 de abril de 2012

O ROSEIRAL DO MILAGRE



Maria Lígia Madureira Pina

Havia no coração da Judéia, na Cidade Santa, na Jerusalém dos profetas, uma mulher que plantara à frente da sua casa um belo jardim. Flores diversas, as mais lindas, nenhuma tão bela, porém, como a rosa branca, cujas hastes subiam pela fachada da casa, alcan­çando o teto. Rosas brancas, perfumadas tão lindas que Raquel as levou como primícias para o Templo do Senhor.
Aconteceu que, naquele dia, um recém-nascido, de oito dias, louro e lindo foi também levado ao Templo – o primogênito de Ma­ria e José – primícia do casal para Iavé.
Passaram-se os anos... exatamente trinta e três. Era uma manhã de sexta-feira. Abriam-se as primeiras flores ao sabor da primavera. As rosas de Raquel abriam-se, alvas, embalsamando o ambiente com o seu suave olor..
Raquel tirava as ervas daninhas do jardim. Súbito, ouve vozes, gritos, impropérios. Ergue-se, avista uma turbamulta acompanhando um homem que carrega sobre o ombro uma enorme madeira, peça de uma cruz. Raquel se espanta. De seus olhos descem lágrimas em fios cristalinos... Por Javé – exclama – Não é aquele o Jesus de Nazaré? O Rabi querido que andou pelos confins da Judéia, da Samaria e da Galiléia, curando os cegos, os coxos, os paralíticos, pregando amor e compreensão?...
Bem à frente da porta de Raquel a sinistra comitiva parou. Por que? – É que Jesus caiu sob o peso da cruz pela terceira vez. Raquel lançou-lhe um olhar de misericórdia e sem saber porque, apanhou uma rosa e atirou para Jesus: é tua, Rabi, para enfeitar a tua dor. Jesus olhou profundamente no olhar de Raquel e levou aos lábios a flor. Um fio de sangue descendo da fronte coroada de espinhos veio ro­lando, rolando e caiu respingando a rosa.
Passou-se um ano. Chegou novamente a estação das flores e vicejou novamente o roseiral de Raquel. Surpresa... Milagre... No meio das rosas brancas, imaculadas, uma floresceu respingada de vermelho, como a que foi borrifada com o sangue de Jesus. Desde então todos os viandantes que passavam por Jerusalém corriam a ver o roseiral de Raquel, conhecido já como o Roseiral do Milagre de Jesus.