Translate

domingo, 1 de julho de 2012

História de Casamento II


"Eu gosto dela há muito tempo.."(Cena do filme...E o vento levou)
Eis outra história de casamento, tal como me contou uma amiga, muito chistosa. Contou-me com muita graça. O caso aconteceu numa fazenda, no interior da Bahia. Gente muito rica. Fazendeiro de cacau, no tempo em que o produto era uma mina de ouro. Seria o primeiro casamento a realizar-se na família. Seria no domingo, para facilitar a presença dos fazendeiros vizinhos. Os de perto e os mais distantes. Estes saíam de casa bem antes para descansar da jornada. Assim, lá pela quarta e quinta-feira a Casa Grande regurgitava. Gente por todos os lados. Todos os quartos ocupados. Era um matar de boi, porco, galinha, sem fim. Os empregados não paravam, era uma correria interminável.
Na véspera começaram os preparativos. Mais bois, porcos, galinhas e até patos foram sacrificados. Tudo posto em vinha-d’alho para o dia seguinte. Doces de vários tipos, que frutas não faltavam na fazenda.
No domingo pela manhã foram ornamentar a Capela do casarão. Uma pequena jóia da arquitetura barroca. Flores colhidas no jardim e outras trazidas pelos vizinhos. Presentes aos montes. Um esplendor!... Aproximava-se a hora do casório e nada do noivo. Finalmente, um dos irmãos da noiva tomou a iniciativa de ir à casa do noivo verificar o que acontecera. Foi informado de que o noivo iria partir no trem. O jovem estafou o cavalo e chegou à estação. O trem já havia partido. Alugou outro cavalo e voltou a toda brida. Foi um Deus nos acuda... a noiva, a mãe, os irmãos, as amigas chorando, se descabelando. Os homens da família jurando matar o dito cujo, o sem caráter.
O padre tomou a palavra aconselhando calma, prudência, dizendo que a noiva e a família deviam dar graças a Deus por tê-las livrado de pessoa tão irresponsável. Mal o padre terminara de falar um jovem convidado pediu a palavra e assim se expressou: “Se for do gosto da noiva, se for do gosto dos pais da noiva, vai haver casamento. Eu quero casar-me com ela”. Espanto geral!... O padre consultou a noiva, consultou os pais da noiva. Conversa vai, conversa vem, e a proposta foi aceita.
E a minha amiga completou com muito humor: “A noiva foi enxugando as lágrimas, a mãe e as irmãs também. Os irmãos desfizeram as carrancas, as nuvens negras se dissiparam, o sol brilhou novamente para todos. E o padre voltou a falar: “Vamos comemorar, vamos dar graças a Deus hoje. Faça-se a festa agora. O casamento só poderá realizar-se daqui a oito dias. Tenho que percorrer os trâmites legais. Tenho de fazer os “proclamas”. E perguntou ao pretendente: “Você está certo de querer mesmo casar-se com ela? Não é um gesto momentâneo?” – “Não senhor, eu gosto dela há muito tempo. Desde que a conheço”.

Maria Lígia Madureira Pina - do livro 'A Relíquia, Contos e Crônicas".