Título: 60 Anos de Prevenção
Páginas: 108
Aracaju, Infographics, 2024
O livro 60 Anos de Prevenção, da
escritora Vera Lúcia Alves Franca, me fez recordar nomes que a mente jamais
apagará. Vera é altamente reconhecida seja como professora universitária,
escritora, enfim, nas lides culturais em Sergipe, presenteando seus leitores
com suas publicações. Fez a experimentada profissional das letras, verdadeira
anamnese na estrutura da instituição da qual é legionária, para depois contar
com riqueza de detalhes o transcorrer de uma vida vitoriosa no assistir e
abrigar com denodo tantas pessoas no trajeto pesquisado pela ilustrada
professora doutora Vera Franca.
Professora doutora Vera Franca
O marco de fundação da Legião Feminina de Educação e Combate ao Câncer - LFECC aconteceu em 10 de novembro de 1964 e de sua primeira diretoria participaram: Bertilde Barreto de Carvalho - presidente de honra (esposa do político Sebastião Celso de Carvalho que governou Sergipe de 01abr1964 a 31jan1967). Cecinha Melo Costa - presidente; Marilda Peres Leite - diretora secretária; Bernadete Barbosa Diniz Gonçalves - diretora tesoureira e, d. Heloisa Brandão Marsilac - presidente Benemérita. Naquele ato de fundação foi aclamado o Conselho Técnico da instituição composto pelos médicos: Osvaldo Leite, Benjamim Carvalho, Gileno Lima, Antero Paes Carozo e Valdir Barreto de Andrade. Dali a instituição seguiu contando uma história que só a eternidade poderá revelar quantos ainda serão beneficiadas, por mulheres abnegadas que vestiram a camisa da legião, são as legionárias de primeira hora, na LFECC todos trabalham: legionárias, médicos e o fundamental apoio das profissionais de enfermagem que nunca mediram esforços para atender uma clientela que cresce a cada ano e, o fazem com denodada honra. Uma dessas no staff de apoio da enfermagem, divisei o nome de Leide Nunes Bezerra, uma de suas extraordinárias colaboradoras na área especifica. O labor da equipe médica em favor das assistidas foi e certamente continua algo que ultrapassa horários pré-determinados, são anjos a serviço da causa que abraçaram.
Os parceiros, benfeitores convênios e
subvenções mantem de pé a sexagenária e importante instituição que cuida da
saúde feminina no combate e prevenção de uma doença que lamentavelmente ainda
presente nestes dias. O livro 60 Anos de Prevenção cumpriu seu objetivo, ou
seja, resgatar mesmo de forma breve atividades e ações desenvolvidas ao longo destes
sessenta anos pela Legião Feminina de Educação e Combate ao Câncer.
Ler Vera Franca é sempre agradável e
fonte de informação, inspiração e aprendizado. Uma pesquisadora atenta aos
fatos sempre registrando e deixando seu legado para as gerações, foi assim que
escreveu em parceria com a pós-doutora Maria Helena Santana Cruz, 2011 este
primor, Educação Feminina - memória e trajetória de alunas do Colégio
Sagrado Coração de Jesus em Estância Sergipe (1950-1970). Tenho nas
fileiras de minha estante, o volume referido com o destaque que merece.
Mas voltando as memórias dos 60 Anos de Prevenção gostaria de referenciar a saudosa Maria da Conceição Melo Costa ou Cecinha Melo (- 26maio1904 + 16jul1970). Lendo a intelectual saudosa profa. Ligia Madureira Pina ex-aluna de Cecinha, na obra A Mulher na História, Segrase, 1994, p. 338,339, assim se reportou Lígia à mestra: “Foi uma benemérita da sociedade em que viveu: ela exerceu os seguintes cargos, não remunerados:
1ª Secretária da Associação Sergipana
dos Lázaros e Defesa conta Lepra.
Fundadora e 1ª Presidente da Legião
Feminina de Combate ao Câncer à qual dedicou-se de corpo e alma, garantindo com
festas, sorteios, quermesses e outras criatividades a subsistência da
Organização e os recursos necessários ao tratamento de indigentes, transporte
para os doentes pobres do interior, campanhas educativas, o que está comprovado
nos relatórios da Entidade, por ela redigidos e aprovados pelos membros da
Associação, como o de 1965, do qual retiro os seguintes informes: “Campanha do
Recibo de Luz, já pago, obrigação da Eletrobrás. Balaio de Primavera, no mês de
setembro. Bingo – Tarde da solidariedade. Bazar no Salão da Movelaria
Chaperman. Jantar dançante no Iate Clube. Campanha Educativa pelo rádio, em
horários da Câmara de Cultura, em convênio com o Condese. Palestras realizadas
por médicos como dr. Augusto Leite, Dr. José Augusto Barreto, dr. Hugo Gurgel.
Participação de Assistentes Sociais ligadas à Legião, em congressos nacionais,
como Maria de Lourdes Mota. Tudo isto e muito mais Cecinha Melo e sua
equipe (sua filha Laís, Hortência
Carvalho, Leyda Regis e todos os outros membros da Legião) fizeram, o que era
pouco, diante de suas necessidades como afirma no relatório de 1965:
“Vivemos intranquilas ante o muito que ainda devemos realizar. Desejamos dar assistência aos irrecuperáveis, responder-lhes aos gemidos com a presença do enfermeiro em seus pobres lares, para fazer-lhe os curativos, dar-lhes algum conforto, levando-lhes nossa mensagem de afeto, de calor humano, de amizade”. E, preocupada, lança a pergunta, entre angustiada e esperançosa: “Não seria possível organizar uma pequena enfermaria que pudesse abrigá-los, como a que existe no Asilo da Penha, no Rio de Janeiro? ” E dirigindo-se aos médicos: “Alertai-nos, orientai-nos que a Legião Feminina está pronta a cooperar convosco neste novo aspecto de trabalho”.
Cecinha Melo foi também:
Sócia fundadora da Sociedade
Artística de Sergipe – SCAS. Tesoureira da Sociedade Franco-brasileira: Aliança
Francesa. 1ª Secretária do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe,
permanecendo no cargo por duas décadas.
Pioneira do Esporte feminino em Sergipe, ao lado de Cezartina e Leyda Regis, Luisa Paes Guedes, Laudelina Teles e outras. Jogava basquete e vôlei, defendendo as cores álveo-azul do Cotinguiba. Cecinha era oradora eloquente, foi a oradora de sua turma de concludentes da Escola Normal, quando contava apenas dezesseis anos de idade, do qual reproduzo alguns períodos: “E por que vibra assim a alma popular? Por que tão numerosa assistência corre pressurosa ao belo templo da instrução? É que nada, meus senhores, interessa e agita mais o povo do que as glorias intelectuais da geração que desponta, os louros legitimamente colhidos nas gloriosas lides do estudo e do trabalho. E agora que vamos nos separar, empenhemos a nossa palavra de bem cumprir os nobres deveres do magistério, enobrecendo-os pela dedicação e pelo estudo e deixai-me poetizar com o pretexto deste juramento, a mágoa da separação:
Vamos, filhas do sol da
liberdade
Lançar a gota quente da
verdade
Nas almas das crianças
Se é preciso banhar em luz
a ideia,
De estrelas formulemos a
epopeia
De sois e de esperanças”.
...
![]() |
Professora Cecinha Melo - Do livro A MULHER NA HISTÓRIA |