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segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

ENCANTOS DA POESIA


Alaíde de Souza


A poesia tem seus enlevos, deslumbra, provoca fascínio em um piscar de olhos, não importando a classificação de gênero se dramática, épica ou lírica. Como exemplo inicio usando o cordel que tem um lugar cativo no coração, aqui faço uma referência aos cordelistas Alaide de Souza e Zezé de Boquim, a criatividade e o imediatismo como é construído e, assim segue os gêneros embelezando com suas rimas o frescor da vida abundante que todos nós queremos e devemos ter. Tudo na poesia ou no poema que perfaz sua estrutura nos preenche, é poesia, é forma poética onde os versos como um todo se misturam com o real e o imaginário.

Zezé de Boquim

Ao ouvir uma declamação não me preocupo muito em divisar separadamente os elementos que a compõem: verso, métrica, estrofe, rima e ritmo porque eles vêm como se estivessem a acompanhar pássaros em seus voos rasantes, juntando a altura desejada e entrecortando o ar, a poesia me transporta assim. É lindo demais ouvir belos poemas e isto em qualquer tempo ou lugar. Parece que tudo para, o céu silente parece ouvir conosco. Deus escolheu os poetas para embelezar o mundo. Foi deste jeito sim, vejam os Salmos contidos na Bíblia há algo mais lindo que eles, reflitam por favor, quando  da leitura do Livro Santo. 

Ano passado, 2024, publiquei meu quinto livro de memórias, parece até encerramento de carreira, ali elenquei dois personagens, um deles renomado poeta cristão (bisneto do grande jurista e poeta sergipano Tobias Barreto de Menezes), bisneto conhecido como Mário Barreto França, e bem identificado pelos  amigos sob o codinome “principie dos poetas evangélicos,” o lirismo de  Mário ficou ecoando nos belo poemas impressos em seus vinte e cinco livros, dos quais 18 de conhecimento público, os demais esperando publicação pós morte, segue um de seus poemas: 


            

Mário Barreto França

(-14fev1909+09set1983)


TUA GRAÇA


Eu não sei, ninguém sabe, 

A que espécie de espinho, certo dia, 

Paulo, em preces, a Deus se referia, 

Rogando que do mesmo o libertasse;

O que sei, entretanto, 

É que Deus o atendeu de uma outra forma.

(Não lhe enxugando as lágrimas da face,

Nem lhe extinguindo a causa do seu pranto); 

Mas lhe traçando a norma

De conduta, na vida tão madrasta: 

– “Paulo, minha divina fortaleza

Se exalta e aperfeiçoa na fraqueza!

Minha graça te basta!”

Diante de uma lição tão convincente,

Paulo não insistiu;

Pois, esquecendo mágoa ou dor pungente,

Como um predestinado prosseguiu

Para o supremo alvo, 

Ensinando e vivendo o próprio exemplo

Das virtudes cristãs, 

Sentindo a paz beatífica de um salvo, 

Deixando para trás as cousas vãs, 

Pelo exemplo da eterna vocação, 

Que Cristo, nossa Estrela e nosso Templo,

Nossa Esperança e nossa Salvação.

É por isso, Senhor, que quando eu penso 

No grande Paulo – apóstolo do bem – 

Eu me esqueço do meu pesar imenso

E sinto que de mim a dor se afasta,

Porque, no que me anima e me convém,

Tua graça me basta! 


Icaraí, dezembro de 1957



        Quando me reporto ao Mário, poeta lírico pernambucano que resenhei em 2023, sou impulsionada a direcionar-me ao grande jurista e tribuno sergipano Tobias Barreto de Menezes, poeta romântico condoreiro, por ser seu bisavô materno, ali se percebe claramente uma descendência poética incontestável. Sem qualquer dúvida, uma família de excelentes poetas.


Tobias Barreto de Menezes, (-07.06.1839 +27.06.1889),

bisavô do poeta Mário Barreto França




O GÊNIO DA HUMANIDADE

 

Sou eu quem assiste as lutas

Que dentro d´alma se dão;

Quem sonda todas as grutas

Profundas do coração.

Quis ver dos céus o segredo:

Rebelde, sobre um rochedo

Cravado, fui Prometeu.

Tive sede do infinito:

Gênio feliz ou maldito,

A Humanidade sou eu.

 

Ergo o braço, aceno aos ares,

E o céu se azulando vai;

Estendo a mão sobre os mares,

E os mares, dizem: — Passai! ...”

Satisfazendo ao anelo

Do bom, do grande e do belo,

Todas as formas tomei:

Com Homero fui poeta;

Com Isaías, profeta;

Com Alexandre, fui rei.

 

Ouvi-me: venho de longe,

Sou guerreiro e sou pastor;

As minhas barbas de monge

Tem seis mil anos de dor.

Entrei por todas as portas

Das grandes cidades mortas,

Aos bafos do meu corcel.

E ainda sinto os ressaibos

Dos beijos que dei nos lábios

Da prostituta Babel.

 

E vi Pentápolis nua,

Que não corava de mim,

Dizendo ao sol: — “Eu sou tua,

Beija-me... queima-me assim!”

E dentro havia risadas

De cinco irmãs abraçadas

Em voluptuoso furor...

Ânsias de febre e loucura,

Chiando em polpas de alvura,

Lábios em brasas de amor!...

 

Travei-me em lutas imensas.

Por vezes, cansado e nu,

Gritei ao céu: — “Em que pensas?”

Ao mar: — “De que choras tu?”

Caminho... e tudo o que faço

Derramo sobre o regaço

Da história, que é minha irmã.

Chamam-me Byron ou Goethe,

Na fronte do meu ginete

Brilha a estrela da manhã.

 

E no meu canto solene

Vibra a ira do Senhor.

Na vida, nesse perene

Crepúsculo interior,

O ímpio diz: — “Anoitece!”

O justo diz: — “Amanhece!”

Vão ambos na sua fé...

E às tempestades que abalam

As crenças d´alma, que estalam,

Só eu resisto de pé!...

 

De Deus ao sutil ouvido

Eu sou como que um tropel,

E a natureza um ruído

Das abelhas com seu mel,

Das flores com seu orvalho,

Dos moços com seu trabalho

De santa e nobre ambição,

De pensamentos que voam,

De gritos d´alma que ecoam

No fundo do coração!...

 

De: Dias e Noites. Rio de Janeiro: Industrial — Editora, 1881



Quando o assunto é poesia deixem-me citar um dos nossos, recentemente ouvi uma lindeza de poesia autoral não é de alguém distante, mas aqui bem daqui dos nossos arraiais, quem quiser pode encontrá-lo ali na PIB de Aracaju de onde ele diácono, trata-se de Enock Almerindo, poeta lírico, cultor e conhecedor de estilo avançado quando o assunto é cultura geral. Gosta de peças teatrais clássicas, belas poesias de sua lavra também. Enfim, um estudioso que ganha horas inteirando-se do que é importante no Brasil e fora dele. Seus hobbies prediletos: ler muito, solista e cantar em corais, é um dos membros do Coral Masculino Marquivaldo Lima Leite da PIB de Aracaju, é excelente tenor; idiomas preferidos latim, espanhol e inglês. Segue uma das poesias de Enock Almerindo: 


                                                Enock Almerindo 


EU CONFESSOR?

                                                                                  

Meu Deus!

Misericórdia Senhor!

Eu pecador!

Fui procurado por uma alma aflita,

Carente, tão somente de amor!

Eu desejo ser apenas,

O Teu Ouvidor!

Porque naquele dia

Prá depois,

Muita coisa poderia acontecer!

“EFATÁ!”

É a Tua penetrante e

Doce voz dizendo:

Abre-te! Refazes a tua vida!

É necessário nascer de novo!

Ninguém te condena?

Vais e não peques mais!

Ouça-o!

Ele age “In Persona Christi!”

Obrigado Senhor!

Por Teu amor!

Tua graça!

EU CONFESSOR!!!

05nov2024




Coral Marquivaldo Lima Leite

 

Por Sandra Natividade – jornalista, membro da Igreja Batista, da Academia Literária de Vida, Academia Literária de Aracaju e da União Brasileira de Escritores-UBE/Núcleo AJU.