Entre Quatro Paredes se passa muita coisa... Talvez
Ana Alice e Graça tenham buscado neste espaço imaginário reunir suas lembranças
e emoções vividas, e juntas, encheram estas páginas de experiências, e por que
não dizer? Saudade. Ambas têm saudades, têm prazer de relembrar lugares, fatos
e pessoas que também, se reúnem em volta disso tudo.
É bom ter um pai que deixou boas recordações, bons
ensinamentos e exemplos. Uma mãe dedicada que ainda hoje é uma fortaleza em
torno dos filhos... Acho que daí veio a têmpera, a boa índole dessas irmãs.
Tiveram uma estrutura familiar espetacular. E com a vida que levaram entre a
Praça da Matriz, sobrado, fazenda, agência do Banco do Brasil, festa da
cabacinha, circo, carrossel do Tobias – não poderia ser diferente!
Os atropelos da vida, os Encontros e Desencontros
são ultrapassados com otimismo e fé. O gosto pela poesia, a leitura e a música
nasceram no convívio da família. Daí, a publicação de livros em conjunto, mais
uma demonstração de união, fazendo com que o brilho de uma, seja refletido na
outra. Quem brilha mais? Nenhuma. São duas escritoras de brilho e estilo
próprios; emotivas, francas, sem rebuscamentos, até certo ponto, ingênuas. Pois
é. Escrevem como se estivessem sentadas numa varanda, como fazia seu pai, ou
contando um conto de fadas, como sua tia. Aprendem com as boas leituras que já
fizeram, por isso as citações entre os seus textos. Trazem-nas como se fossem
coadjuvantes das suas verdades. Parecem lembrar seu pai: ”- Antigamente meu avô
dizia que era assim... ou sua tia: “- era uma vez...”. E elas vão falando,
falando, ou melhor, escrevendo, escrevendo...
Leiam, amigos. Compreendam a idéia da Ana e da Graça.
Elas querem ensinar que, a união da família ajuda-nos a enfrentar os baques da
vida. Que o amor ainda é a melhor fonte de prazer, de solidariedade, de
fraternidade. Que a família é o tronco que sustenta, dá apoio e abrigo. Sem
dúvida, para mim, de Ana Alice o capítulo A Primavera é o mais bonito,
interessante, emotivo. O Verão já nos coloca ante a crua realidade, a
verdade da vida já se faz sentir para ela e trazendo com os acontecimentos mais
importantes para o casal, a maturidade. O Outono talvez seja o de maior
experiência, tanto positiva quanto negativa. Mas, é no Inverno, quando
se consolida o aprendizado que só o passar dos anos nos dá, que vêm as palavras
de incentivo, de ajuda, de aconselhamento.
Não é o frio que nos abate neste Inverno, a caminho da
velhice – é sim a impossibilidade – de desfazer o mal que nos circunda; as
pessoas de má índole que nos cercam sem ter compaixão; a falta de amor pela
verdade ou qualquer virtude.
Quanto Ana lamenta tudo isso! O que sofreu
injustamente, pela incompreensão ou falta de boa-vontade das pessoas, em
acompanhar seu drama junto ao marido! Foram mais de onze anos de muita luta, ao
lado de um homem inerte numa cama, o mesmo que ela conheceu bonito, perfeito,
vigoroso. Contudo, durante o tempo que passou na cama teve o cuidado
diuturnamente – dela. Ao lado dos médicos e das enfermeiras ela regia a sua
própria esperança. Só isso, já nos mostra o quanto foi preciso de fé, paciência
e acima de tudo de amor, da Ana Alice. Mas ela está feliz, pois tem dentro da
própria família a luz que precisa, o companheirismo que honra e o carinho que dá
muita felicidade. - Você tem realmente um Colar Precioso, uma Tríade magnífica.
Bem aventurada seja você, Ana Alice.
De Graça, uma romântica, singular até nos títulos de
suas crônicas, a gente sente e pode dizer que ela tem uma alma muito sensível,
fraterna, caridosa. Tem como a irmã sua auto-estima fortalecida, sabe que não
adianta se entregar às intempéries. Jamais. Assim vai reconhecendo os Anjos
na Terra, escalando as Torres do Silêncio, comemorando cada Renascer...
Traz consigo a certeza dos erros e acertos, como todo ser humano. Sabe como
glorificar o que Deus lhe proporcionou e jamais cedeu ante o impossível, contra
os princípios de sua religião. Soube dar o basta em muita coisa. Restam ainda
histórias para contar... E certamente elas virão... ou ficarão guardadas para a
filha e netos contarem? “Retratos da
Vida” diz Graça das suas lembranças. Talvez queira neste “álbum” expor seu
passado, presente... mas, não conseguiu de todo. Tem receio de magoar. De tocar
em feridas que deixaram marcas profundas. A metáfora é um refúgio digno. E isso
ela usa de forma magnífica!
De parabéns estão as duas irmãs – escritoras – poetas.
Que sirvam de exemplo para outras pessoas que têm uma história de vida,
trazendo luzes para a nossa memória cultural. – Quanta gente que fez parte da
história do Estado que aqui foi citada e que ninguém sabia dos fatos relatados?
Assim, vamos montando os “retratos da vida” para o futuro. Eu li a pedido de Ana
Alice o livro antes da impressão. Pediu-me opinião, queria ter certeza de que estava
a altura para uma publicação e lançamento antes do Natal. Li o livro com
“sede”, admirei seu conteúdo e não encontrei nada que o deixasse aquém de
muitos outros bons livros que já li. Daí os três membros da Academia Sergipana
de Letras comprovando com opiniões.
Boa leitura.
Shirley Maria Santana Rocha
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Publicado na abertura do livro “Quatro Paredes –
uma lição de vida”, de Ana Alice Mendonça Curvêllo e Graça Mendonça Conrado.