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domingo, 16 de fevereiro de 2020

Mulher Sergipana na Literatura:

 FLORA VIVEU SEU TEMPO


Sandra Natividade

    Flora do Prado Maia nasceu no município de Laranjeiras/SE, a reconhecida intelectual sergipana viveu não além do seu tempo, mas o seu tempo deixando um legado impressionante, pois tinha convicção e determinação em tudo o que fez; uma mulher considerada imbatível enfrentou galhardamente o mundo literário da época se destacando como a primeira sergipana a publicar em 1957 o romance “Cenários de Uma Vida”, balizando-se na história de uma mulher contada por ela mesma. Apesar da crítica literária daquela década considerar sua obra como de ficção. Estávamos vivendo no período denominado Pós - Guerra (1945-1973) do maior conflito do século XX e Sergipe, isto bem pouco lembrado, foi o principal afetado pela Segunda Guerra Mundial, levando-se em consideração o naufrágio de três navios mercantes torpedeados na costa sergipana. 
    Em 1942, a escritora tinha seus prováveis 40 anos, as noites de Aracaju ficavam sem energia, ruas completamente às escuras e desertas, os blecautes eram programados e o toque de recolher acontecia; todos em seus lares, por se considerar o risco de luzes acessas, pois isto tornaria a cidade de cinquenta mil habitantes, alvo fácil para possíveis bombardeios. A população passou por esse vexame, todos sem exceção receosos, esse foi o tempo em que Flora viveu e, quinze anos depois, produziu literatura em Aracaju.  O fato de Flora escrever e publicar na década de 1950 foi identificado como ruptura aos moldes da intelectualidade sergipana porque até, então, as publicações no caso específico romances, eram da lavra masculina; quebrou a destemida escritora uma tradição hegemônica. A festejada romancista, cronista e poetisa herdou a escrita do pai, o intelectual Prado Sampaio, portanto filha do bacharel Joaquim do Prado de Sampaio e Esther Silva Rego do Prado Sampaio, nasceu em 1902 na bucólica Laranjeiras, cognominada a “Athenas Sergipana”, berço de ilustres sergipanos a exemplo de João Ribeiro, Horácio Hora, Zizinha Guimarães, Augusto do Prado Franco, o humanista e imortal da Academia Sergipana de Letras, o médico Francisco Guimarães Rollemberg, ícone que por sua lisura e honradez é respeitado e admirado nacionalmente, representou Sergipe na Câmara dos Deputados e Senado Federal por reiteradas legislaturas, entre outros.
    O casal Joaquim e Esther residia na Fazenda Bela Vista, três filhos completavam essa bela família laranjeirense, além de Flora do Prado Sampaio, o bacharel Maviael do Prado Sampaio e Lysis do Prado Sampaio. Flora ali passou sua infância e adolescência estudou o curso primário em casa. Vinha a capital sempre na companhia de seu genitor hospedando-se nos hotéis Sul Americano ou então no Marozzi. Ao concluir o primário, entenderam os pais matricularem Flora, no Colégio Nossa Senhora de Lourdes em Aracaju, ao término de todo o curso, inclusive formatura, voltou para a Fazenda. O matrimônio com Geminiano de Brito Maia lhe fez assinar a partir dali, como Flora do Prado Maia, mesmo com personalidade forte, o enlace pode ter acontecido nos moldes da época noiva prometida, bem aceita, motivo para casal perfeito. A jovem prendada ficou viúva do primeiro marido, mas continuou com o firme propósito de escrever, um hobby que lhe dava prazer, assim colaborou com Revistas e Jornais sergipanos, entre os quais a Revista Síntese, da Associação Sergipana de Imprensa. O gosto pela escrita lhe faz parecer com seu genitor o intelectual Prado Sampaio autor do ensaio “Sergipe Artístico, Literário e Científico”.
    A publicação de “Cenários de Uma Vida”, editado pelo Curso de Tipografia e Encadernação da Escola Industrial de Aracaju, aconteceu em 1957. Flora dedicou sua obra à mulher sergipana, fazendo menção nessa página reservada menção ao governador engenheiro Leandro Maynard Maciel e a esposa Marina Albuquerque Maciel, externando gratidão ao prefeito de Aracaju, Dr. Roosevelt Cardoso Menezes, a cordialidade do Secretário de Justiça Dr. Eribaldo Dantas Vieira como também dedica à memória do esposo. O prefaciador da obra professor José Amado do Nascimento membro da Academia Sergipana de Letras não poupou elogios a obra dessa sergipana citando no prefácio Tristão de Athayde que dizia “antes de 1922 não era frequente a atividade de mulher na literatura brasileira, especialmente na literatura de ficção”. Só depois figuraram nomes nada a dever a literatura masculina entre esses uma parcial com Raquel de Queiroz, Carolina Nabuco, Lúcia Miguel Pereira, Dinah Silveira de Queiroz, Maria Eugênia Celso, Clarice Lispector, Alina Paim, mulheres que entraram na literatura brasileira com romances.
    Flora do Prado Maia escreveu, publicou e marcou sua história sendo estímulo para tantas outras intelectuais que seguiram seu exemplo despontando timidamente, e assim, aos poucos tantas outras escrevem e publicam. Faleceu em 1964, mas, deixou um legado sensível de altruísmo e determinação. Os pósteros viram, aplaudiram, seguiram. Foi imortalizada, Patrona da cadeira número 12 da Segunda (1992) Academia fundada neste Estado, a Academia Literária de Vida, fundada pela professora e escritora Maria Lígia Madureira Pina. O poder público municipal reconheceu a performance destemida e produtiva da mulher que escreveu o primeiro romance em Sergipe, dando o nome de Flora do Prado Maia a Travessa de CEP 49097-250 no Bairro Ponto Novo em Aracaju. Sergipe continua escrevendo a história de valores literários natos desta terra, a posteridade verá o feito, certamente como positivo e exemplar na educação, cultura, nas artes e ciências. 

*Sandra Natividade
Membro da Academia Literária de Vida- ALV - Cadeira º 12
e da Academia de Letras de Aracaju- ALA - Cadeira nº 19.