Translate

domingo, 22 de março de 2020

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO “RUY BARBOSA” de Maria Hermínia Caldas


Por Shirley Rocha*


“... ser a mulher mais talhada que o homem para o magistério primário.”Dr. Manoel Luiz Azevedo d’ Araújo – Presidente da Província.


Terminei de ler o mais recente livro da professora Maria Hermínia Caldas, nossa confreira na Academia Literária de Vida - ALV, cadeira nº 3, que tem como patrona Leonor Telles de Menezes, também sergipana, ex-aluna e ex-professora da Escola Normal. Na Academia, Maria Hermínia realiza o trabalho de Diretora Financeira desde sua fundação. O livro “INSTITUTO DE EDUCAÇÃO “RUY BARBOSA”, edição 2019, tem 100 páginas e impressão da Gráfica Editora J. Andrade. O custo saiu de parte do que recebe pela aposentadoria, como professora da rede pública estadual, mas é uma realização pessoal feita com amor, deixada para gerações futuras.

Maria Hermínia faz um documentário do local do seu primeiro emprego, a Escola Normal, onde iniciou sua carreira no magistério, em 1956.  Suas fontes foram jornais, currículos, livros, fotografias e até convites e panfletos de eventos marcantes na vida escolar, distribuídos pelos vinte e nove subtítulos. A Escola Normal; Escola Normal Ruy Barbosa; Instituto de Educação Ruy Barbosa; Colégio Ruy Barbosa; Instituto de Educação Ruy Barbosa – encerrou suas atividades de habilitação de professores ao completar 142 anos do curso de Escola Normal e 121 de criação.  Em 2013, durante as comemorações de aniversário, a Secretária de Estado de Educação prometia oferecer dali em diante os cursos técnicos de Secretariado Escolar, Multimídia na Educação, Alimentação Escolar e infraestrutura Escolar.  Não sei se isso ainda ocorre.

O livro com conteúdo precioso explora desde a fundação, as personalidades mais importantes no seu comando, as dificuldades para se manter a Escola mediante a vontade dos governantes, sempre um sucessor divergindo do antecessor...

Eu digo, foram as mulheres que deram vida à escola. O governo precisava de professor nos municípios e os homens não aceitavam trabalhar longe de casa, sem nenhum conforto e baixa remuneração. As mulheres foram ocupar os grupos escolares construídos nos municípios e povoados distantes, com sala de aula de um lado, quarto e cozinha do outro. O sanitário lá fora, usado também pelos alunos.

Maria Hermínia cita os governos que realmente demonstraram cuidados com o ensino normal, todos seus diretores desde 1870 até 2012, seus alunos ilustres, as teses defendidas, biografias de diretores e professores, o uniforme das alunas, tudo ilustrado com fotos. O Coral da Escola foi criado na gestão da professora Maria das Graças Azevedo (patrona da cadeira nº 13 da ALV) e brilhava sob o comando do maestro Leozírio Guimarães. Os desfiles do Sete de Setembro tinham como destaque as alunas que chamavam a atenção pela disciplina e grandeza feminina colocadas em pelotões. Tem os discursos, festividades, os convites de formatura, os diplomas, os jornais mimeografados, até exemplares dos testes, das cadernetas de aulas...

Maria Hermínia resgata de seus arquivos, documentos que certamente os guardou por amor a profissão que exerceu por mais de quatro décadas. Ela deixa documentado para que gerações futuras conheçam as dificuldades que a mulher enfrentou para conseguir o nível escolar que era dado ao homem de bom grado, mas tão menosprezado se a mulher pleiteava.

*Shirley Rocha-jornalista, ocupa a cadeira nº 9 - Patrona Núbia Marques. Atual presidente da Academia Literária de Vida.