“Nem menina nem mulher”
Marielle Santos Freitas*
Aos meus quase doze anos de muitos sonhos, ainda me lembro de um poema simples de Cecília Meirelles que, quando eu ainda era pequena, pedia para que lessem e relessem: “A moda da menina trombuda que muda de modos e dá medo”. Que mico, cara! A vida inteira acreditei que estava deitada eternamente em berço esplêndido e, de repente, descubro que não sou mais uma menina nem tampouco mulher; não existe mais varinha mágica, e sim um universo de perguntas sem respostas. Quanto encanto se transformou em pesadelo ao perceber que acabo de ingressar como protagonista nesta fábula moderna, com cenário e atores reais, chamada adolescência...
Atordoada e apreensiva debruço-me na janela deste ex-lindo Planeta Azul, atual reino das utopias, e o que é que enxergo? Um mundo em ruínas, com febre alta, onde a criminalidade, a corrupção e o aquecimento global provocam pânico em todos os habitantes. Claro... Só podia ser esse contraditório mundo dos adultos perversos e injuriosos que criam e desrespeitam todas as leis. Homens tenebrosos que manipulam informações e mentes e, em nome da fé, da paz, da justiça, da ordem, do desenvolvimento e de outras mentiras roubam, fabricam armas, bombas atômicas, vendem sentenças judiciais, financiam os tráficos, a polícia bandida, e ainda destroem o meio ambiente. E, como agravante, ainda existe o lixo produzido pela indústria do entretenimento que, em nome da cultura, vende ilusão, cerveja, violência e sexo, tornando-nos cada vez mais consumistas e pobres de valores.
Afinal, qual é mesmo o sinônimo de cidadania? Não importa! Preciso é de bons exemplos para acreditar que a vida é bela e que, para salvar o mundo, basta querer transformar pesadelos em sonhos e lágrimas em sorrisos. Pois já não admiro mais aquela menina trombuda, mas pretendo construir a história da adolescente pensante que muda de hábitos e dá certo!
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* MARIELLE S. FREITAS - Em dezembro de 2007 uma garota de doze anos ganhou entre 30 mil participantes de vários estados do Brasil, a terceira colocação num concurso de redação promovido pelo Instituto ECOFUTURO – 6ª edição, criado pela Suzano Papel e Celulose. O título foi “Nem menina nem mulher”. Marielle nascida no município de Tobias Barreto dizia ser fascinada pelos poemas de Cecília Meirelles e que seu pai, senhor Adilson, era seu maior incentivador, pois ele comprava o livro que ela pedisse e ressaltou seu orgulho em representar a cidade que tem o nome do grande escritor sergipano, Tobias Barreto. Tenho essa foto guardada nos meus arquivos, publicada numa edição do jornal CINFORM, seção Municípios – de boa lembrança. Ela ganhou um computador, livros clássicos e a viagem com os pais, para receber o prêmio em Mogi das Cruzes, São Paulo.
Hoje pergunto: - O que estará escrevendo Marielle após esses 13 anos? Se aos doze anos ela tinha aquela visão, sensibilidade, bom senso para uma opinião tão forte e verdadeira, e agora?...! Ainda hoje seu texto é atualíssimo! Pertence aos dias de 2020. Continuará escrevendo? Pertencerá a algum movimento literário? Seguiu que carreira? Quem dá notícias de Marielle Santos Freitas?
Por Shirley Rocha- jornalista, membro fundador e atual presidente da Academia Literária de Vida.