Yvone Mendonça de Sousa e Sandra Natividade
De Sandra Natividade
Valorizo
o livro como apropriado instrumento de sabedoria forma inequívoca de
conhecimento, quanto a leitura vejo como viajar e regar-se na fonte inesgotável
do saber, caminho infinito da educação. Voltar a ler uma obra escrita por Yvone
Mendonça de Sousa, mestra por excelência na arte de educar, é como se estivesse
conversando pessoalmente com essa singular educadora sergipana que por si só
transmite experiência de vida abundante, uma obstinada em tudo o que faz.
Acerca
dessa profissional que dissemina o saber de forma singular, escreverei um pouco
sobre sua performance no magistério, Yvone a educadora sergipana de bem com a
vida sua presença irradia conhecimento é empática, distinta, faz amizade com
facilidade, a conversa, o discurso, acontece de forma natural flui fácil em
qualquer ocasião. O reconhecimento pelos seus muitos méritos não lhe oportuniza
ares de superioridade, o diálogo sempre ocorre não faz acepção de pessoas,
assim obedecendo muito bem o que diz a Bíblia no livro de Tg. 2.9. Detentora de
oratória imbatível deixava os alunos impactados, Yvone era considerada a musa
da Escola Normal, desenvolvida, afável, respeitada e querida por todos. Seu
currículo é conhecido nas lides educacionais pela desenvoltura e acolhimento destinados
ao alunado, entre as disciplinas que lecionou destaque-se: português,
literatura e francês. O Colégio Jackson de Figueiredo foi seu pioneiro no
ingresso ao magistério, depois vieram outros estabelecimentos a exemplo do
Tobias Barreto, Colégio Estadual Atheneu Sergipense, Instituto de Educação Rui
Barbosa (de onde foi aluna, professora e diretora), Colégio Arquidiocesano
Sagrado Coração de Jesus, Colégio Pio Décimo, Colégio de Aplicação da
Universidade Federal de Sergipe, Colégio Nossa Senhora de Lourdes e Colégio
Patrocínio de São José daí, incursionou sempre
na docência na Universidade Tiradentes e Faculdade Pio Décimo. Até chegar em seu livro atual a obstinada
mestra de gerações escreveu: Louvando a vida, O Neologismo na linguagem
jornalística, Trajetória de uma vida, Sindicato dos Professores e perfil dos
presidentes, Reminiscências e outros escritos, Momentos uma ponte entre o
passado e o presente. Entre tantas homenagens recebidas ao longo de sua
preciosa vida, a mais recente aconteceu em dezembro de 2023 tendo seu nome aposto
no Espaço litero cultural do Escritor sergipano, professora Yvone Mendonça de
Souza, na Biblioteca do Campus da Faculdade Pio Décimo. Tenho professora Yvone Mendonça como a maior
e melhor declamadora e interprete do poeta abolicionista Antônio Frederico de
Castro Alves, conhecido como “o Poeta dos escravos”, nunca ouvi nem vi alguém
declamar Navio Negreiro com tanta perfeição.
Recebi
da autora, convite para prefaciar seu sétimo livro, sob o título REFLEXÕES EM
TEMPOS E PÓS PANDEMIA, este para deleite dos leitores brevemente, juntar-se-á
aos já publicados. Conhecedora da sua importância para a educação em Sergipe,
acolhi, para mim misto de responsabilidade e privilégio. Li em primeira mão
bebendo com os olhos que corriam velozes na infinidade dos caracteres
apresentando histórias vividas pela autora em “tempos e pós pandemia” da Covid
19. Anotei os mínimos detalhes de sua proverbial, clara, objetiva e concisa
escrita, Yvone, professora por vocação é uma idealista tripudia os obstáculos
do percurso chegando a mais uma obra de notável valor. Inicia lembrando o
leitor sobre um acontecimento que flagelou a humanidade, era apenas um embrião
detectado no final de 2019, mas o vírus maldito se alastrou colocando o mundo
no seu bojo; ao se referir a melancólica passagem do terrível fato a
reconhecida educadora lamenta a retirada de uma das mais agradáveis
demonstrações de afetividade entre os seres humanos - o abraço e o aperto de
mão - terminantemente proibidos enquanto durou a epidemia. Lendo Yvone, não
consigo esquecer a também escritora Cora Coralina, goiana de nascimento, quando
escreveu: “ É que tem mais chão nos meus olhos do que cansaço nas minhas
pernas, mais esperança nos meus passos do quer tristeza nos meus ombros, mais
estrada no meu coração do que medo na minha cabeça”. As duas escritoras
demonstram ser imbatíveis, tristeza pelas perdas no trajeto de suas existências
houveram sim, no caso específico da escritora sergipana as tristezas estão em
parte superadas pelo reconhecimento, carinho e valorização que recebe dos que lhe
cercam ao longo de sua bem-sucedida jornada.
Da
pena ilustrada da educadora de gerações em Sergipe, as reflexões se sucedem como
uma revoada de pássaros que acontece sobre uma cidade no mesmo horário todos os
dias, as reflexões elencadas nesta obra, mostram situações que a humanidade não
esquecerá a curto prazo. Yvone, faz paralelo entre o Coronavírus e a tão temida
hanseníase do passado; ao escrever minudentemente sobre cidades vazias detém-se
nos conflitos bélicos Síria x Palestina mostrando uma realidade que
pessoalmente não queria ver. Sua escrita acerca dessas cidades, faz a autora
lembrar as belas paisagens que conheceu de perto em suas inúmeras viagens
internacionais. A Covid 19 fes isto também, silenciosamente a guerra virológica
foi grassando significativa parte da população, as cidades apresentaram um
quadro que lembrava urbes desabitadas na acepção da palavra. Entretanto, a
autora viu no caos instalado no mundo pandêmico surgir uma rede de solidariedade
criando um sentimento fraterno, envolvendo a população que passou a se doar
mais ao próximo. O ato fraterno me reporta a Miqueis 6.8 quando exorta a: “(...)
prática da justiça, da benignidade e andar humildemente com o teu Deus”, a rede
de fraternidade se concretizou. A autora de Reflexões em tempos e pós
pandêmicos é responsável pela formação profissional e intelectual de muitos educadores
e comunicadores, sua vivência com alunos da área de comunicação, hoje profissionais,
a fez escrever - O Neologismo na Linguagem Jornalística - livro específico para
aqueles profissionais, portanto, ensinar e escrever com maestria está no seu
DNA, na verdade é dom dessa mestra de gerações que nos brinda com tão salutar
obra. O saudoso jornalista Ibrahim Sued, crítico e colunista social, em seu
livro 20 Anos de Caviar, se reportando aos neologismos na língua portuguesa,
assim se expressou: “(...) criei novas palavras e expressões que se
incorporaram ao vocabulário popular”, e citava alguns amplamente conhecidos
(SUED, 1972). Já Mário Erbolato em seu livro Jornalismo Especializado, sobre o
assunto diz: “(...) na divulgação dos assuntos científicos o jornalista
restringe-se a realidade, fugindo à fantasia” (ERBOLATO, 1981). Todavia, o assunto
não se exaure nas redações nem tão pouco nas publicações de livros, portanto,
Yvone sempre esteve na vanguarda fazendo do binômio ensinar/escrever, seu
padrão de vida ajudando a muitos.
Nos
anos de pandemia a autora teria escrito compêndios, mas se conteve para nos presentear
com estas que são também nossas reflexões a partir do lançamento de Reflexões
em tempos e pós pandemia, porque a pandemia da Covid 19 marcou o planeta para
não mais ser esquecida, o tempo do confinamento familiar, de segregação, medo, incerteza,
serviu para um fato novo; repensar valores tornando as pessoas mais compreensivas,
próximas umas das outras vendo sob nova ótica os mais necessitados, em especial
aqueles que fazem da rua sua morada nos fazendo lembrar que o Deus que cuida
dos pássaros embeleza os lírios do campo. Estou a caminhar nas Reflexões contidas nessa
obra de importância real que celebra e exalta a vida em suas multifacetadas
nuances nos fazendo ver os terríveis momentos passados bem recentemente. Voltando
o olhar ao passado a visão enturva só de pensar que nossos antepassados peregrinaram
por situações semelhantes com epidemias a exemplo do cólera, gripe espanhola,
febre amarela; até então, imaginávamos a extensão da calamidade, depois da
Covid 19, a sensação é de devastação, a ética e a moral foram peremptoriamente
colocadas em segundo plano, o jargão do confinamento “fique em casa” ressoou, pintando
um quadro surreal pautado por violência urbana, feminicídios, estupros a
vulneráveis e desemprego, sentiu-se na pele atrocidades inimagináveis. Mas nem tudo foi caótico no período pandêmico
e, a autora descreve fatos mostrados pela mídia, dignos de grandeza no âmbito
da educação, quando cita recortes altruístas de professoras de três estados
distintos: Mato Grosso, Ceará e Pará casos de verdadeiro devotamento em favor
dos discentes, essas professoras percorriam muitos quilômetros para levar
atividades curriculares a seus alunos porque as escolas estavam fechadas, mas,
para os alunos não se atrasarem no cumprimento da grade curricular, elas
despendiam esforços hercúleos para serem uteis ao presente e futuro deste país,
os alunos; Martin Luther King Jr, ferrenho defensor dos princípios de liberdade
e igualdade, e dos direitos civis na América, certa vez, disse: “A inteligência
e o caráter são os objetivos da verdadeira educação”. As professoras fizeram a diferença pela
inteligência aguçada e o caráter exemplar.
A
clausura pandêmica da autora lhe fez refletir e registrar muitos assuntos,
reservando os proeminentes neste volume, como exemplo me prendeu a leitura do
título - De passagem por Jericó e um milagre em Jerusalém - onde a escriba se desnuda mostrando fato de
fé relevante no Cristo vivo, Yvone,
criada em lar cristão evangélico, conta ter se sentido injustiçada pelo órgão
de Seguridade Social da época, no tocante a sua aposentadoria passando estranhamente
a receber mensalmente a menor, tentou
resolver a situação argumentando, concomitante com consulta advocatícia, porém,
sem sucesso. Houve a oportunidade de excursionar a Israel, no muito percorrer
próprio das excursões, chegou de passagem a Jericó, ali empregou sua fé inabalável
fazendo um pedido que tanto lhe afligia, que fosse sanada a injustiça em sua
aposentadoria, assim, com os dedos cravados no muro das Lamentações o fez. O
milagre aconteceu ainda em Jerusalém, pois, chegando a sua terra natal, a graça
solicitada foi plenamente alcançada, o inadmissível equívoco ocorrido se desfez,
passando a receber seus proventos de forma integral, com inclusão do tempo
atrasado. Yvone relata o fato como um rasgo de fé n’Aquele que pode todas as
coisas. A súplica perpetrada em Jericó mostra fé na Palavra e Hb. 11.1 explica
“ Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se não veem”. Fé e esperança
andam juntas, Deus é justo e não desampara os seus.
Conflitos
sociais, virológicos, bélicos, tragédias sociais da contemporaneidade com e sem
anúncios formais são regiamente abordados na obra, a autora não se detém em abordar
conflitos bélicos a exemplo de Síria x Palestina, Rússia x Ucrânia, mas
assuntos corriqueiros de ampla importância fazem parte dos bons arrazoados da
perspicaz escritora. Os conflitos sociais vão desde aqueles conhecidos a partir
do lar com a comovente história de Zezinho o filho da colaboradora doméstica de
seus pais, ao universo existente nas ruas, no trabalho, na escola. Abordagens e
conflitos vivenciais que todos nós temos, conhecemos ou já passamos por
qualquer deles nesta caminhada denominada vida. Tudo isto e muito mais você
leitor, encontrará em Reflexões em tempos e pós pandemia. Imperativo não
observar nas Reflexões em tempo e pós pandemia, homenagens prestadas pela
educadora a escritores que militam no cenário cultual de Alagoas, Bahia e
Sergipe, senti como se Yvone, quisesse dizer “quem honra, merece honra”. E, Reflexões, segue com a transcrição de
homenagens escritas por alguns dos seus muitos ex-alunos e ex-colegas em épocas
distintas. A farta iconografia encerra as Reflexões dessa que honra e se
constitui legado de décadas na educação do aprazível estado de Sergipe. Recomendo
e desejo a todos boa leitura.
Sandra
Natividade
Membro da Associação Sergipana de Imprensa,
Academia Literária de Vida,
Academia de Letras de Aracaju,
Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe,
União Brasileira de Escritores/Aracaju