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sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

REFLEXÕES EM TEMPOS E PÓS PANDEMIA,

 

Yvone Mendonça de Sousa e Sandra Natividade


De Sandra Natividade

Valorizo o livro como apropriado instrumento de sabedoria forma inequívoca de conhecimento, quanto a leitura vejo como viajar e regar-se na fonte inesgotável do saber, caminho infinito da educação. Voltar a ler uma obra escrita por Yvone Mendonça de Sousa, mestra por excelência na arte de educar, é como se estivesse conversando pessoalmente com essa singular educadora sergipana que por si só transmite experiência de vida abundante, uma obstinada em tudo o que faz.

Acerca dessa profissional que dissemina o saber de forma singular, escreverei um pouco sobre sua performance no magistério, Yvone a educadora sergipana de bem com a vida sua presença irradia conhecimento é empática, distinta, faz amizade com facilidade, a conversa, o discurso, acontece de forma natural flui fácil em qualquer ocasião. O reconhecimento pelos seus muitos méritos não lhe oportuniza ares de superioridade, o diálogo sempre ocorre não faz acepção de pessoas, assim obedecendo muito bem o que diz a Bíblia no livro de Tg. 2.9. Detentora de oratória imbatível deixava os alunos impactados, Yvone era considerada a musa da Escola Normal, desenvolvida, afável, respeitada e querida por todos. Seu currículo é conhecido nas lides educacionais pela desenvoltura e acolhimento destinados ao alunado, entre as disciplinas que lecionou destaque-se: português, literatura e francês. O Colégio Jackson de Figueiredo foi seu pioneiro no ingresso ao magistério, depois vieram outros estabelecimentos a exemplo do Tobias Barreto, Colégio Estadual Atheneu Sergipense, Instituto de Educação Rui Barbosa (de onde foi aluna, professora e diretora), Colégio Arquidiocesano Sagrado Coração de Jesus, Colégio Pio Décimo, Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Sergipe, Colégio Nossa Senhora de Lourdes e Colégio Patrocínio de São José daí, incursionou sempre  na docência na Universidade Tiradentes e Faculdade Pio Décimo.  Até chegar em seu livro atual a obstinada mestra de gerações escreveu: Louvando a vida, O Neologismo na linguagem jornalística, Trajetória de uma vida, Sindicato dos Professores e perfil dos presidentes, Reminiscências e outros escritos, Momentos uma ponte entre o passado e o presente. Entre tantas homenagens recebidas ao longo de sua preciosa vida, a mais recente aconteceu em dezembro de 2023 tendo seu nome aposto no Espaço litero cultural do Escritor sergipano, professora Yvone Mendonça de Souza, na Biblioteca do Campus da Faculdade Pio Décimo.  Tenho professora Yvone Mendonça como a maior e melhor declamadora e interprete do poeta abolicionista Antônio Frederico de Castro Alves, conhecido como “o Poeta dos escravos”, nunca ouvi nem vi alguém declamar Navio Negreiro com tanta perfeição.

Recebi da autora, convite para prefaciar seu sétimo livro, sob o título REFLEXÕES EM TEMPOS E PÓS PANDEMIA, este para deleite dos leitores brevemente, juntar-se-á aos já publicados. Conhecedora da sua importância para a educação em Sergipe, acolhi, para mim misto de responsabilidade e privilégio. Li em primeira mão bebendo com os olhos que corriam velozes na infinidade dos caracteres apresentando histórias vividas pela autora em “tempos e pós pandemia” da Covid 19. Anotei os mínimos detalhes de sua proverbial, clara, objetiva e concisa escrita, Yvone, professora por vocação é uma idealista tripudia os obstáculos do percurso chegando a mais uma obra de notável valor. Inicia lembrando o leitor sobre um acontecimento que flagelou a humanidade, era apenas um embrião detectado no final de 2019, mas o vírus maldito se alastrou colocando o mundo no seu bojo; ao se referir a melancólica passagem do terrível fato a reconhecida educadora lamenta a retirada de uma das mais agradáveis demonstrações de afetividade entre os seres humanos - o abraço e o aperto de mão - terminantemente proibidos enquanto durou a epidemia. Lendo Yvone, não consigo esquecer a também escritora Cora Coralina, goiana de nascimento, quando escreveu: “ É que tem mais chão nos meus olhos do que cansaço nas minhas pernas, mais esperança nos meus passos do quer tristeza nos meus ombros, mais estrada no meu coração do que medo na minha cabeça”. As duas escritoras demonstram ser imbatíveis, tristeza pelas perdas no trajeto de suas existências houveram sim, no caso específico da escritora sergipana as tristezas estão em parte superadas pelo reconhecimento, carinho e valorização que recebe dos que lhe cercam ao longo de sua bem-sucedida jornada.

Da pena ilustrada da educadora de gerações em Sergipe, as reflexões se sucedem como uma revoada de pássaros que acontece sobre uma cidade no mesmo horário todos os dias, as reflexões elencadas nesta obra, mostram situações que a humanidade não esquecerá a curto prazo. Yvone, faz paralelo entre o Coronavírus e a tão temida hanseníase do passado; ao escrever minudentemente sobre cidades vazias detém-se nos conflitos bélicos Síria x Palestina mostrando uma realidade que pessoalmente não queria ver. Sua escrita acerca dessas cidades, faz a autora lembrar as belas paisagens que conheceu de perto em suas inúmeras viagens internacionais. A Covid 19 fes isto também, silenciosamente a guerra virológica foi grassando significativa parte da população, as cidades apresentaram um quadro que lembrava urbes desabitadas na acepção da palavra. Entretanto, a autora viu no caos instalado no mundo pandêmico surgir uma rede de solidariedade criando um sentimento fraterno, envolvendo a população que passou a se doar mais ao próximo. O ato fraterno me reporta a Miqueis 6.8 quando exorta a: “(...) prática da justiça, da benignidade e andar humildemente com o teu Deus”, a rede de fraternidade se concretizou. A autora de Reflexões em tempos e pós pandêmicos é responsável pela formação profissional e intelectual de muitos educadores e comunicadores, sua vivência com alunos da área de comunicação, hoje profissionais, a fez escrever - O Neologismo na Linguagem Jornalística - livro específico para aqueles profissionais, portanto, ensinar e escrever com maestria está no seu DNA, na verdade é dom dessa mestra de gerações que nos brinda com tão salutar obra. O saudoso jornalista Ibrahim Sued, crítico e colunista social, em seu livro 20 Anos de Caviar, se reportando aos neologismos na língua portuguesa, assim se expressou: “(...) criei novas palavras e expressões que se incorporaram ao vocabulário popular”, e citava alguns amplamente conhecidos (SUED, 1972). Já Mário Erbolato em seu livro Jornalismo Especializado, sobre o assunto diz: “(...) na divulgação dos assuntos científicos o jornalista restringe-se a realidade, fugindo à fantasia” (ERBOLATO, 1981). Todavia, o assunto não se exaure nas redações nem tão pouco nas publicações de livros, portanto, Yvone sempre esteve na vanguarda fazendo do binômio ensinar/escrever, seu padrão de vida ajudando a muitos.

Nos anos de pandemia a autora teria escrito compêndios, mas se conteve para nos presentear com estas que são também nossas reflexões a partir do lançamento de Reflexões em tempos e pós pandemia, porque a pandemia da Covid 19 marcou o planeta para não mais ser esquecida, o tempo do confinamento familiar, de segregação, medo, incerteza, serviu para um fato novo; repensar valores tornando as pessoas mais compreensivas, próximas umas das outras vendo sob nova ótica os mais necessitados, em especial aqueles que fazem da rua sua morada nos fazendo lembrar que o Deus que cuida dos pássaros embeleza os lírios do campo.  Estou a caminhar nas Reflexões contidas nessa obra de importância real que celebra e exalta a vida em suas multifacetadas nuances nos fazendo ver os terríveis momentos passados bem recentemente. Voltando o olhar ao passado a visão enturva só de pensar que nossos antepassados peregrinaram por situações semelhantes com epidemias a exemplo do cólera, gripe espanhola, febre amarela; até então, imaginávamos a extensão da calamidade, depois da Covid 19, a sensação é de devastação, a ética e a moral foram peremptoriamente colocadas em segundo plano, o jargão do confinamento “fique em casa” ressoou, pintando um quadro surreal pautado por violência urbana, feminicídios, estupros a vulneráveis e desemprego, sentiu-se na pele atrocidades inimagináveis.  Mas nem tudo foi caótico no período pandêmico e, a autora descreve fatos mostrados pela mídia, dignos de grandeza no âmbito da educação, quando cita recortes altruístas de professoras de três estados distintos: Mato Grosso, Ceará e Pará casos de verdadeiro devotamento em favor dos discentes, essas professoras percorriam muitos quilômetros para levar atividades curriculares a seus alunos porque as escolas estavam fechadas, mas, para os alunos não se atrasarem no cumprimento da grade curricular, elas despendiam esforços hercúleos para serem uteis ao presente e futuro deste país, os alunos; Martin Luther King Jr, ferrenho defensor dos princípios de liberdade e igualdade, e dos direitos civis na América, certa vez, disse: “A inteligência e o caráter são os objetivos da verdadeira educação”.  As professoras fizeram a diferença pela inteligência aguçada e o caráter exemplar.  

A clausura pandêmica da autora lhe fez refletir e registrar muitos assuntos, reservando os proeminentes neste volume, como exemplo me prendeu a leitura do título - De passagem por Jericó e um milagre em Jerusalém -  onde a escriba se desnuda mostrando fato de fé relevante no Cristo vivo,  Yvone, criada em lar cristão evangélico, conta ter se sentido injustiçada pelo órgão de Seguridade Social da época, no tocante a sua aposentadoria passando estranhamente a receber mensalmente a  menor, tentou resolver a situação argumentando, concomitante com consulta advocatícia, porém, sem sucesso. Houve a oportunidade de excursionar a Israel, no muito percorrer próprio das excursões, chegou de passagem a Jericó, ali empregou sua fé inabalável fazendo um pedido que tanto lhe afligia, que fosse sanada a injustiça em sua aposentadoria, assim, com os dedos cravados no muro das Lamentações o fez. O milagre aconteceu ainda em Jerusalém, pois, chegando a sua terra natal, a graça solicitada foi plenamente alcançada, o inadmissível equívoco ocorrido se desfez, passando a receber seus proventos de forma integral, com inclusão do tempo atrasado. Yvone relata o fato como um rasgo de fé n’Aquele que pode todas as coisas. A súplica perpetrada em Jericó mostra fé na Palavra e Hb. 11.1 explica “ Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se não veem”. Fé e esperança andam juntas, Deus é justo e não desampara os seus.

Conflitos sociais, virológicos, bélicos, tragédias sociais da contemporaneidade com e sem anúncios formais são regiamente abordados na obra, a autora não se detém em abordar conflitos bélicos a exemplo de Síria x Palestina, Rússia x Ucrânia, mas assuntos corriqueiros de ampla importância fazem parte dos bons arrazoados da perspicaz escritora. Os conflitos sociais vão desde aqueles conhecidos a partir do lar com a comovente história de Zezinho o filho da colaboradora doméstica de seus pais, ao universo existente nas ruas, no trabalho, na escola. Abordagens e conflitos vivenciais que todos nós temos, conhecemos ou já passamos por qualquer deles nesta caminhada denominada vida. Tudo isto e muito mais você leitor, encontrará em Reflexões em tempos e pós pandemia. Imperativo não observar nas Reflexões em tempo e pós pandemia, homenagens prestadas pela educadora a escritores que militam no cenário cultual de Alagoas, Bahia e Sergipe, senti como se Yvone, quisesse dizer “quem honra, merece honra”.  E, Reflexões, segue com a transcrição de homenagens escritas por alguns dos seus muitos ex-alunos e ex-colegas em épocas distintas. A farta iconografia encerra as Reflexões dessa que honra e se constitui legado de décadas na educação do aprazível estado de Sergipe. Recomendo e desejo a todos boa leitura.

  

 Sandra Natividade

Membro da Associação Sergipana de Imprensa,

Academia Literária de Vida,

Academia de Letras de Aracaju,

Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe,

União Brasileira de Escritores/Aracaju