Translate

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Até manhã, Professora


Ângela Margarida Torres de Araujo


Amanhã virei ver você,
quando termine a escola
quando passem os anos
e você volte a minha
lembrança.

Amanhã virei ver você
como todos os dias
com um ramalhete de flores,
gratidão e alegria.


Virei para lhe falar que você
gravou na minha vida sua
palavra e seu exemplo,
querida professora,

É assim que escolhi conversar. Porque estou aqui, professora, ainda discípulo fiel e saudoso, menina de saia azul e blusa branca, meias chamadas demi-bas e lustrosos sapatos colegial.
Resolvi não crescer, a despeito das formas desenvolvidas, das transformações físicas... mulher. Resolvi inquestionavelmente não crescer, conservar-me aquela menina sonhadora e contemplativa, porque, como se expressou Ashley Wilkes, personagem de “E o Vento Levou”: “vivo na obsessão da saudade dos dias passados e de um mundo que desapareceu”. Alimentando a esperança de retornarem aqueles dias. Para eu não sofrer, pois custa-me adaptar-me a estes.
Sentada à porta do tempo, ávida, em meio à turba confusa que observo passar, construindo tolamente a sua história, eu procuro a minha rua, os meus brinquedos, os meus costumes, a minha escola, o meu momento.
Cansada dessa busca, retorno ao meu sonho lindo e, como se ontem fosse, aqui estou, pondo-me de pé à presença do meu lente, de pasta na mão, saia azul e blusa branca, demi-bas e lustrosos sapatos colegial. Na minha sala de aula.

Com todo meu carinho, às minhas mestras, L ígia Pina, Conceição Ouro, Cléa Brandão, Yvone Mendonça, Hermínia Caldas, e aos cabelos brancos de Leyda Regis.

Lida na reunião da ALV em 30.12. 1995.