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sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Até amanhã, professora

Ângela Margarida Torres de Araujo

Detalhe da tela de  Konstantin M. Maksimov


Amanhã virei ver você,
quando termine a escola
quando passem os anos
e você volte a minha
lembrança.

Amanhã virei ver você
como todos os dias
com um ramalhete de flores,
gratidão e alegria.

Virei para lhe falar que você
gravou na minha vida sua
palavra e seu exemplo,
querida professora

É assim que escolhi conversar. Porque estou aqui, professora, ainda discípulo fiel e saudoso, menina de saia azul e blusa branca, meias chamadas demi-bas e lustrosos sapatos colegial.
Resolvi não crescer, e a despeito das formas desenvolvidas, das transformações físicas,,,mulher. Resolvi inquestionavelmente não crescer, conservar-me aquela menina sonhadora e contemplativa, porque, como se expressou Ashley Wilkes, personagem de '...E o Vento Levou", "vivo na obsessão da saudade dos dias passados e de um mundo que desapareceu". Alimentando a esperança de retornarem aqueles dias. Para eu não sofrer, pois custa-me adaptar-me a estes,
Sentada à porta do tempo, ávida, em meio à turba confusa que observo passar, construindo tolamente a sua história, eu procuro a minha rua, os meus brinquedos, os meus costumes, a minha escola, o meu momento.
Cansada dessa busca, retorno ao meu sonho lindo e, como se ontem fosse, aqui estou, pondo-me de pé à presença do meu lente, de pasta na mão, saia azul e blusa branca, demi-bas e lustrosos sapatos colegial. Na minha sala de aula.

Com o meu carinho,
às minhas mestras, Lígia Pina, Conceição Ouro, Cléa Brandão, Yvone Mendonça, Hermínia Caldas e aos cabelos brancos de dona Leyda Regis. (Aju, 1997).