Aquela não era uma árvore qualquer, seus longos e
frondosos galhos acolhiam a todos com sua sombra,seu tronco, tatuado com
declarações de amor, coraçõezinhos entrelaçados espetados com flechas de cupido
“EU E VOCÊ” “AMOR ETERNO”,“LUIZ E MARIA PARA SEMPRE”, carregava diversas
mensagens amorosas.Testemunha de afagos, risos e lágrimas, tornara-se amiga e
confidente de quem solicitasse seu aconchego, apenas escutava, afinal era
somente uma árvore, o que mais poderia oferecer? De vez em quando pequeninas
flores coroavam quem se acomodasse embaixo dela..O caule, volumoso e liso, era
um convite a recostar-se nele e descansar.
Tal qual uma mãe a proteger seus filhos, abrigava“inquilinos“os
quais, sem pedir licença, fizeram morada em seus galhos mais altos. Eram bem-te-vis,
rolinhas que aos primeiros raios de sol, exercitavam seus voos matutinos à
procura de alimentos e ao retornarem à tardinha, eram recebidos com hospitalidade
não importando a barulheira que faziam.
Um dia ouviu-se um estalo, a árvore dava sinais de alguma
coisa não estar muito bem. Sentia-se cansada, suas raízes já não tinham mais o
vigor para fixa-la com solidez, a seiva, da qual se alimentava, já não corria
facilmente em seu lenho.
Aos poucos foi se despregando do chão, dando chance aos habitantes
de sua copa saírem sem se machucar. Ela tombou,esparramando-se naquele amado solo
o qual a sustentou e nutriu por longos e longos anos.
Chegaram alguns homens carregando machados, precisavam
desobstruir o caminho. A árvore conservava ainda em suas folhas a umidade do
orvalho da manhã e a cada golpe de machado, exalava um cheiro bom de mato
verde, lembrou uma outra árvore, o Sândalo o qual “perfuma o machado queo
fere”. Em pouco tempo, conseguiram reduzi-la em pequenas toras sendo em seguida
levadas embora.
Alguns anos depois surge, próximo ao lugar, uma outra árvore
muito parecida com a antiga.Perto dela, restavam vestígios de um tronco já
desgastado pelo tempo, nele continhao fragmento de uma frase com a seguinte
inscrição “PARA SEMPRE”.
Izabel Melo - engenheira agrônoma, poeta, cronista, contadora de história, membro da Academia Literária de Vida.