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Maria Lígia M. Pina |
Prefácio para o
livro A Mulher na História de Maria Lígia M. Pina
*Por Yvone Mendonça
de Sousa
Já houve quem afirmasse que quando
alguém nasce, cresce, planta uma árvore e escreve um livro, sente-se
plenificado e realizado. Isto não bastou para Lígia Pina que, além de publicar
um belíssimo livro de poemas – Flagrando a Vida – laureado pela crítica, mergulhou de forma obstinada na
pesquisa e nos anais da História, haurindo os subsídios que traçaram a
trajetória daquela que tem sido a razão maior da luta contra os preconceitos e
as discriminações: a mulher. Sim.
Ela que escreveu com coragem, renúncia, competência e lucidez, grandes
capítulos de mutações desde que caminha a humanidade. E assim surgiu esta
grande obra. A Mulher na História.
A Mulher na História é
um livro escrito por quem possui uma forte inquietação sobre tudo que diz
respeito ao poder da mulher. A autora penetra a alma da mulher, do seu
silêncio, abandono, da sua grandeza e libertação. Com seu espírito de
observação, encontra sempre um significado diferente para todas as coisas que a
mulher pôde e pode realizar no contexto da vida. E, através de uma mensagem
comunicativa, ela nos induz a pensar e refletir. Assim, esta obra não é apenas
o repositório de informações preciosas sobre a via crucis da mulher desde os tempos primevos da História, partindo
da filosofia opressora que enfrentou em épocas pretéritas; é um desafio no
presente e o será no porvir. Observa-se que, em quase todas as situações,
apesar dos percalços, a mulher sempre vislumbrou o sabor da vitória. A vitória
foi sempre a tônica das mulheres fortes e da plêiade de mulheres que desfilam
neste livro, transmitindo sempre lições de grandeza e heroísmo.
Numa prosa poética
que apaixona o leitor, Lígia Pina elenca não somente a vida, mas o importante
papel da mulher em todas as épocas, traçando o perfil de heroínas que marcaram
presença no momento histórico em que viveram.
O aspecto mais
singular desta obra admirável é a oportunidade régia que a autora oferece a
esta importante elite de mulheres as quais fizeram e fazem História. Cede, num
gesto grandiloquente, a palavra, para que elas falem a Sergipe, ao Brasil e ao mundo, o que já
sentiram e disseram através de seus poemas
e criações nos diversos ramos do saber. A autora ainda, num rasgo de luz,
permite que os gritos que ficaram parados no ar, sufocados nos alfarrábios do
tempo, cheguem até nós, trazendo uma mensagem que transcende o momento
histórico e justifica a nobreza de ser mulher.
Provocando a sanha de
preconceitos da velha Grécia, celeiro da intelectualidade do mundo antigo,
destaca a coragem de Aspázia e Safo, as quais quebraram os grilhões do silêncio
imposto à mulher, legando à História a luta em prol do direito de dizer, sentir
e criar. Foram mulheres fortes que venceram as amarras do sistema
preconceituoso dominante.
A Idade Média com seus avanços culturais
através das primeiras universidades propiciou à mulher um clima mais acessível
à sua caminhada em busca de sua identidade sócio-cultural. E eis que surge a
donzela de Orleans, Joana d’Arc, a impávida camponesa da doce Terra da França
quando não era sequer uma nação unificada.
Decorreram cinco
séculos desde que Joana morreu na fogueira, em Rouen. Ainda continua relembrada
com admiração, porque Joana d’Arc representa hoje, como no seu tempo, a luta
constante entre o bem e o mal, a coragem e a covardia. “Vencedora das forças do
mal que a destruíram, ela é venerada como santa imortal, símbolo da verdade e
da coragem por todos que conhecem sua história e sua vida”.
Com o advento dos
tempos modernos este livro apresenta um cenário propedêutico ao surgimento de
um grupo de mulheres que de direito e de fato transformaram a face do mundo,
contribuindo em todos os ramos da ciência e do saber. Dentre tantas enumeradas pela
autora, causa profunda emoção o papel de Hellen Keller. Em sua estrada
palmilhada de supremo esforço, há uma auréola de admiração que a assombrosa
história de sua vida bem justifica. Cega, surda e muda desde os primeiros anos
de infância, conseguiu superar esta terrível inferioridade e tornar-se uma das
mais famosas personalidades do mundo contemporâneo. Sua vida constitui um
estímulo extraordinário não só para os cegos, mas também para toda a
humanidade. O seu domínio da palavra é considerado “a maior vitória individual
da história da educação”.
Ao apresentar a
mulher no Brasil, demonstra que o heroísmo de Joana Angélica e a samaritana
generosidade de Irmã Dulce catalisam o poder e a glória que emanam do coração
da mulher.
Perlongando caminhos
com a segurança de quem sabe onde encontrar cada mulher exercendo uma função de
relevo, alça um altíssimo voo através das Américas, proporcionando um encontro
com uma mulher de extraordinária força literária: Harriet Becker Stowe. Vivendo
numa época de ebulição decorrente dos movimentos libertários e do descrédito do
absolutismo, sua obra de fundo abolicionista, A Cabana do Pai Tomás, emociona a América e o mundo. O
Presidente Abraão Lincoln não tergiversou em afirmar que sua obra valeu mais
que um regimento para a abolição da escravatura nos Estados Unidos.
Enfim, pesquisa,
estuda e exalta as mulheres sergipanas: Maria da Conceição Melo Costa, grande
educadora e escritora, Cezartina Regis, a primeira farmacêutica do Estado, D.
Bebé, figura carismática e humana que fez de sua vida um poema de abnegação às
crianças de nossa terra marcadas pela orfandade.
“A mulher representa a grande energia, pois
ela é o lar, quer dizer, o caráter, a escola, o espírito de toda a humanidade.”
A. Austragésilo
Se a mulher é toda
essa fonte de energia, descobrimos em Lígia Pina, a cada momento que transmite com
excepcional beleza e senso crítico, biografias de mulheres notáveis em todas as
épocas, momentos e espaços com a poesia e o encanto de quem crê sem vacilar de
que a presença da mulher na História foi sempre um lampejo de luta,
solidariedade, inteligência, pertinácia e vitória.
Seu estilo primoroso
de narradora exímia, associado à verdade histórica, passando a limpo o papel da
mulher às vésperas do segundo milênio, faz desta obra sui generis em termos de
pesquisa, uma forma de resgatar a memória cultural do nosso Estado. A ilustre
pesquisadora traz ao conhecimento de todos a história de mulheres sergipanas
que saem do injusto ostracismo, a fim de que galguem o lugar de destaque que
merecem no panorama intelectual de Sergipe.
Thomas Carlyle afirmou com muita sabedoria:
“Nenhum grande homem vive em vão. A história
da humanidade não é mais que a biografia dos grandes homens.”
Tomo a deliberação de parafraseá-lo dizendo:
Nenhuma grande mulher vive em vão. A história
da humanidade não é mais que a biografia das grandes mulheres.
*Yvone Mendonça de
Sousa - Cadeira nº 07- Patrona Julia Telles
*J.G. de Araujo Jorge
Ao sol que a vem chamar no quarto ela desperta...
Revira lindamente a loura cabeleira
no fofo travesseiro, e os olhos entreabrindo,
lânguidamente no ar ergue os braços cansados...
Despreocupada e só, deixa fugir das rendas
da camisa, em decote, os seios palpitantes,
que um gesto natural oculta, sem querer...
Na quentura do leito, em suave desalinho
seu corpo se descobre... Ela, então, se levanta
e através da camisa etéreamente leve
entrevê-se o esplendor das formas arrogantes...
A luz beija-lhe os pés... as formas... toda... inteira
num delírio sensual... quando ao chão, molemente,
vai caindo a camisa, e esplende à luz do dia
o seu corpo, ainda morno, em completa nudez:
- a ereta rigidez do colo... a espádua nua...
o contorno do ventre... a penugem macia
que o cobre entre os marmóreos pedestais de estátua!...
..........................................................................................
E à luz do sol que espia através das cortinas
desenhou-se o perfil da carne e da mulher!...
*J.G. de Araujo Jorge , do livro “ Os mais belos poemas que o amor inspirou”.
DESPERTAR
*J.G. de Araujo Jorge
Ao sol que a vem chamar no quarto ela desperta...
Revira lindamente a loura cabeleira
no fofo travesseiro, e os olhos entreabrindo,
lânguidamente no ar ergue os braços cansados...
Despreocupada e só, deixa fugir das rendas
da camisa, em decote, os seios palpitantes,
que um gesto natural oculta, sem querer...
Na quentura do leito, em suave desalinho
seu corpo se descobre... Ela, então, se levanta
e através da camisa etéreamente leve
entrevê-se o esplendor das formas arrogantes...
A luz beija-lhe os pés... as formas... toda... inteira
num delírio sensual... quando ao chão, molemente,
vai caindo a camisa, e esplende à luz do dia
o seu corpo, ainda morno, em completa nudez:
- a ereta rigidez do colo... a espádua nua...
o contorno do ventre... a penugem macia
que o cobre entre os marmóreos pedestais de estátua!...
..........................................................................................
E à luz do sol que espia através das cortinas
desenhou-se o perfil da carne e da mulher!...
*J.G. de Araujo Jorge , do livro “ Os mais belos poemas que o amor inspirou”.