Jane Nascimento*
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Tela de Kazuhiko Sano |
Jogue fora tudo o que não lhe agrada
o ano velho se não foi novo em alegria,
o sorriso forçado que não foi verdadeiro
o amor pretendido, pura fantasia.
Jogue fora os trapos do coração
de um amor que não mereceu ser amado
jogue fora, lave sim bem a alma
com límpido pranto por ventura chorado.
Jogue fora até os sapatos
Por muito surrados, bactérias lhe trouxe.
Para fora, jogue o tempo perdido
o corpo cansado, um mal entendido
Jogue fora, não guarde pra si
pedaços de sonhos encardidos, entediados
guarde apenas os sonhos sonhados, vibrantes
carmins, brilhantes dourados.
Jogue fora as mágoas, tristezas
o que não lhe engrandeceu
a miséria, a doença, a incerteza,
o fruto ferido, cuja parte apodreceu.
Não deixe vingar a fúria lembrada,
a dor transpassada que lhe remoeu,
estirpe o espectro, trajado funesto
e ao lixo o atire, às sombras do adeus.
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