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sábado, 13 de novembro de 2021

Homenagem : Acadêmica Josefina C. Braz


Josefina C. Braz-Foto acervo da família 

Dia 06 de novembro de 2021 faleceu nossa confreira Josefina Cardoso Braz, aos 95 anos de idade, na casa de sua filha Ana Beatriz, na cidade de Natal/Rio Grande do Norte, a qual nos deu a triste notícia.  O corpo veio na madrugada para Aracaju e foi sepultado dia 7, no Cemitério Santa Izabel.

Professora Josefina como normalmente a chamávamos ocupou a Cadeira n. 6, cuja Patrona é a professora sergipana, Etelvina Amália de Siqueira, e também pertencia ao Movimento Cultural Antonio Garcia Filho, movimento de apoio a Academia Sergipana de Letras, ocupando a cadeira n. 19 - Patrono Epifânio da Fonseca Dória. Ambas, ela e eu (cadeira 11) chegamos ao MAC no dia 27 de novembro de 2001. Posteriormente apenas ela ficou. Mulher vaidosa, elegante, postura altiva, de opinião firme e objetiva, estava sempre presente, atuante  nas reuniões e eventos promovidos pela Academia. Sua escrita era especialmente dedicada às crianças e com irreverência à velhice, que ela muito criticava. Dizia ser descrente de Deus, embora em seus textos, por inúmeras vezes cantasse um Deus, sempre enaltecendo a Mãe Natureza. Tentava abrir espaços para entender o Deus que louvávamos. Lígia bem que tentou, mas não sei se conseguiu. Seus fortes argumentos continuaram a nos deixar na espera... Era uma pessoa alegre, com estórias que nos fazia rir. Apreciadora das artes, sensibilidade à flor da pele, se realizava nas viagens com os filhos pela Europa e Ásia, algumas já registradas em nossas revistas.
Maria Hermínia, Josefina, eu e Maria Lígia na noite
 da nossa posse no MAC-27.11.2001. Nessa mesma noite tomou
 posse o escritor Marcelo Ribeiro na ASL.

Casada com Pedro Alcântara Braz, famoso professor e ex- diretor da Escola Técnica Federal de Sergipe. Josefina sofreu por muitos anos cuidando do marido, devido uma doença que o manteve imobilizado numa cama. Viúva, ela criou seus cinco filhos, (aos quais não cansava de elogiar, como uma verdadeira mãe coruja!) Eugênio Rubens, Pedro Filho, Eduardo Ruy, Ana Beatriz e Gustavo José, todos formados, casados e que lhe deram 14 netos. Recentemente, tinha sofrido pela doença que acometeu seu filho Pedro durante alguns anos. Chegando aos 90 anos, vivendo sozinha e devido aos cuidados necessários, sua filha Ana Beatriz a levou para Natal, onde reside com esposo e filhos. 

Esperando a procissão passar: Coronel Gerson,
 (blusa verde, não sei o nome) Judite, Josefina, Lígia,
 Graziela e mais ao fundo Daí, a anfitriã.
 Janeiro de 2010.Foto SR

Josefina Cardoso Braz - nasceu dia 28 de abril de 1926, na cidade de Santo Amaro das Brotas/Sergipe, e ainda hoje permanece com residencia, para onde viajava frequentemente. Era licenciada em Língua Portuguesa e Literatura pela Universidade Federal de Sergipe, com Pós - Graduação em Língua Portuguesa-Redação na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Cursou o Seminário de Sistemas Educacionais em Tel - Aviv/Israel, e  o curso de Língua Francesa no Centre de Langues a Louvain - la - Neuve/ Bélgica, também vários outros ligados à língua portuguesa. Lecionou no Colégio Jackson de Figueiredo e Escola Técnica Federal de Sergipe, (hoje Instituto Federal de Sergipe-IFS) até se aposentar.

Depois de aposentada, Josefina Cardoso Braz proferiu palestra sobre literatura infantil em vários colégios da nossa capital. Publicou os livros: ”As Formiguinhas Amigas”; “O Patinho Bonitinho”; “Cantiga de Ninar” e “Vamos fazer uma brincadeira engraçada?” Dedicava seus livros infantis “aos netinhos do mundo inteiro e a todos os que não tiveram a felicidade de ouvir as histórias dos seus avós”. Uma amizade marcou sua vida. Uma holandesa chamada Elizabeth Huidekoper que viveu com sua família no Brasil durante 15 anos, no período pós – Segunda guerra mundial manteve verdadeira amizade reunindo as famílias por mais de 40 anos. Esse é o tema do livro “As Formiguinhas Amigas” que serviu para a tese do universitário Aoron Sena Cerqueira Reis, cujo orientador foi o Prof. Dr. Antonio Lindvaldo Sousa. O trabalho apresentado ao Departamento de História da UFS como requisito para conclusão do Curso de Licenciatura Plena de História, recebeu o título de “História, Memória e Sentimentos na Trajetória de Josefina Cardoso Braz”.  Com o conto Apologia à Amizade participou do concurso Talento Maturidade do Banco Real.  Nas nossas reuniões dizia que preparava uma edição de crônicas escritas ao longo de sua vida: “Tenho alguns escritos, estão em alguma gaveta, vou publicar, breve...” Tem trabalhos publicados na Revista da Academia Literária de Vida e Academia Sergipana de Letras. Entre as várias homenagens que já recebeu destaco Troféu Falcão de Ouro, na III Bienal do Livro em Itabaiana-2013, quando nos deu apoio no stand durante a Bienal; e o título de Cidadã Aracajuana, em 12 de novembro de 2015, entregue na Câmara Municipal pelo vereador Emmanuel Nascimento, seu aluno quando criança, na Escola Técnica de Sergipe. Foi homenageada com Menção Honrosa pela Secretaria de Estado da Cultura (Secult) em 18 de maio de 2017, na ocasião representada pela confreira Sandra Natividade.


Saudades! Estácio Bahia,
 Maria Lígia e Josefina na Bienal
 Itabaiana/2013.Foto SR

Recebendo o título m 2015 na Câmara Municipal

Vou concluir com uma poesia e parte de uma crônica escritas por Josefina Cardoso Braz:


              Divagando

Josefina Cardoso Braz


Caminhando, tropeçando,

olhar às vezes diluído no nada

busco essa esperança que sustenta a vida

e dá força para ir mais adiante


Que tenho feito eu na multidão

passante, alienada, convicta

de ser este o caminho

que a vida franqueia e comanda?


Em que era, em que espaço me colocaram

em relação ao infinito onde devo me procurar?

As coisas que mais amo se tornam aladas

e fico a contemplá-las de longe


Só, absolutamente só, no desejo puro

de fundir-me nelas e espalhar por toda parte

os anseios, os ecos vindos de qualquer

ponto do universo, dissipando as angústias existenciais.


Os milênios se digladiam,

os séculos se chocam

mas os segundos da minha vida


continuam apáticos, inertes,

aguardando a seiva

que permitirá o “toque de ser".

Parte da crônica:

“ Insisto buscando a ti, vida minha. Quero descobrir-me no adiante, achar-me, ver-me, mas só me encontro abrindo as janelas do passado. Tenho delírio de futuro!

 – Que futuro? Existe futuro para o ancião? - diz a voz do tempo carregando o fardo de sábios milênios.

- Contenta-te e bebe sofregamente o aqui e agora. Agarra cada bom momento, cada alegria, que são vírgulas separando perdas irreparáveis, vazio, incertezas. Abraça o raiar de cada manhã, aurora simbólica no limiar da intemporalidade e no desgastante mergulhar virtual “mar de rosas”, sorve o néctar adocicado do momento em contraposição ao amargo fel da realidade a te bafejar. O tempo vai te devorando e as únicas coisas que importam, agora, são as feitas de verdade e alegria. Encontrar-te-ás num outro tempo... num outro mundo... em existências vindouras... Então... Vou aguardar sem anseios ”. (Marcha-ré no Tempo - Josefina C. Braz, publicada na revista da Academia Literária de Vida,em comemoração aos 10 anos de fundação).

Fica registrada nossa saudade, admiração e honra em contar com sua amizade durante nossa caminhada.

Shirley Rocha

Presidente da Academia Literária de Vida

Aracaju, 13 de novembro de 2021.

                                     Sempre prestigiando as confraternizações de
                                          fim de ano promovidas pela Academia




Maria Lígia, presidente da ALV e Josefina Braz fazendo
a leitura, numa reunião na residência de
 Maria Lígia.Foto SR

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