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sábado, 13 de novembro de 2021

De Ana Beatriz para sua mãe

Este texto muito bonito escrito por Ana Beatriz Braz foi enviado pelo zap para os grupos de amigos da professora e acadêmica Josefina Cardoso Braz após seu falecimento. Tomei a ousadia de publicá-lo por achar que fatos nobres devem ser valorizados.

Eu e mamãe

Era uma vez, numa cidade chamada Aracaju, pequenina e interessante, ribeirinha e praieira, que habitava uma linda mulher guerreira e impetuosa, que conduzia de maneira magistral uma família de pequeninos seres que, éramos 5, inseridos no contexto, não mesuravam a dimensão da grandeza daquela rotina familiar.

Para essa mulher, o limite de defesa do seu território, ultrapassava qualquer demarcação que porventura viesse ameaçá-la. Não permitia mexer com os seus entes. Nunca.

Munida da força da palavra e do argumento, vencia batalhas e fortalecia seu batalhão. Buscava força na leitura, e se debruçava no universo imaginativo de um lugar tão sonhado que, lindamente, ela caracterizava como sendo aquele que no dia a dia ela frequentava. Isso a fazia continuar. Firme, Forte, Aguerrida, Determinada. Focada no objetivo de tornar aquele ( ou aqueles) que a estava circundando, capaz e empoderado para dar seguimento para a estrada traçada chamada Vida. Foi exitosa. Se orgulhava. Quem teve a oportunidade de acompanhar, teve também a sorte de poder vê como a força do feminino pode ser enorme, sem necessitar para isso alardear, ter um gestual impactante, nem ser conflituoso com o oposto. Simplesmente ser. Empoderada. Grandiosa. Respeitada. 

Fez da leitura e da vivência o lastro para sua escrita. Foi a linha de base e o sustentáculo de muitos. Só ficava feliz quando enxergava que o objetivo havia sido alcançado e tinha dado a oportunidade para os muitos darem continuidade ao caminho. Era um prazer. A elegância foi sua marca. E não precisava de muito para isso... É nato. Fina. Educada. Por demais incomodada com aqueles de postura não condizente com o que estava tão entranhado na sua essência. Não foi ensinado. Era naturalmente dela.

Essa é Josefina Cardoso Braz, simplesmente Zifa. Que tenho orgulho de chamar de Mãe. Que dividimos muitas horas de risos, rusgas, alegrias, tristezas, ensinamentos. Rodamos o mundo juntas. Nosso convívio foi muito intenso. Tive a felicidade de concretizar o sonho recorrente de infância. Nas noites solitárias e tristes com saudade da mãe que ficou somente no primeiro ano de vida, na pequenina Santo Amaro, onde, da janela de tábua corrida da casa na esquina da rua principal, via materializado em sua cabecinha, a neve caindo e enchendo os pinheiros verdes e robustos. Leu nos livros. E viu sim!!! Viu!!! Emocionadíssima em uma janela francesa, junto com várias pessoas queridas e brindando com um vinho o sonho realizado. Que alegria!!! Fechamos o ciclo juntas. Foi sereno, leve, lânguido. Partiu como merecia. Está com certeza em um lugar especial. Cercada por tantos bons que já havia ido algum tempo.

Quando eu ouvir boa música, tomar bons vinhos, ler bons livros, assistir bons filmes e documentários e acima de tudo ver a neve “branquinha” como ela dizia, você estará ao meu lado Josefina Perna Fina (assim que eu chamava ela). Hummm!!! ( era o que ela me dizia o dia todo). 

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