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sábado, 18 de dezembro de 2021

Memórias de Hermínia Caldas

 




Shirley Rocha*

Li com satisfação a obra mais recente de Maria Hermínia Caldas, nossa confreira, uma das fundadoras da Academia Literária de Vida: o título “Colégio Nossa Senhora de Lourdes”- 126 páginas-Gráfica J. Andrade. Os registros sobre o Colégio estiveram guardados por muitos anos. Hermínia não deixou de anunciar nada, pois faz parte de suas memórias. Ali estudou, se formou e foi professora por muitos anos. O Colégio Nossa Senhora de Lourdes foi criado em 1904, em Aracaju por iniciativa de Monsenhor Raimundo de Melo e administrado pelas irmãs Sacramentinas, freiras vindas da França. Contudo várias delas já trabalhavam no Hospital Santa Izabel, no início do século XX como enfermeiras ou administradoras. Depois de ocupar prédios alugados, veio o prédio próprio da Rua José do Prado Franco, onde ficaram até a extinção. Havia o externato e internato, um gabinete odontológico que atendia as irmãs e funcionários do Colégio e a Escola do Bom Conselho, funcionando dentro do próprio Colégio, e que beneficiava as meninas pobres da redondeza.

Maria Hermínia inicia com a Patrona do Colégio, a Nossa Senhora de Lourdes, cuja imagem ornava uma gruta feita de pedras e flores ao lado da Capela, no pátio que tomava todo centro do prédio, ocupando quase uma quadra. Qual aluna que não tinha uma foto naquele local? Discorreu sobre o lançamento da pedra fundamental em 1923 até a sua extinção em 1973. Conta sobre a criação pelas religiosas Irmãs Sacramentinas, seus primeiros diretores, os capelães, o corpo docente (encontramos várias confreiras da Academia Literária de Vida, além de Hermínia, Maria Lígia Madureira Pina, Adelci Figueiredo Santos, Maria da Conceição Ouro Reis, Yvone Mendonça de Sousa e Cleá Maria Brandão). Eu fui aluna do Colégio na década de 60 e estudei Geografia Geral, com a professora Adelci. Tenho muitas lembranças boas. Lembro com orgulho dos desfiles de Sete de Setembro e Jogos da Primavera; as festas comemorativas de aniversário do Colégio; as quadrilhas de São João na quadra esportiva, com meninas vestidas com roupas masculinas para formar o casal na dança junina; as quermesses, quando o público podia entrar (e apareciam os jovens para alegria das internas!); o encerramento do ano letivo com entrega de medalhas... Tenho fotos de algumas dessas festas, inclusive uma realizada no Teatro Atheneu, em homenageando a França, idealizada pela exímia professora Gicélia de Araujo Torres, “ÇA... C’EST PARIS! - todo espetáculo recitado em francês, com cada participante representando uma região da França, exaltando suas riquezas naturais e sempre acompanhadas de músicas regionais. Pense no palco, um grupo de adolescentes bem vestidas, cada indumentária uma diferente da outra, rodopiando e falando em francês! Nós aprendíamos declamando, cantando e dançando!

E como eram lindas as fardas, tanto a diária quanto a de gala. Nas festas, nos desfiles, o chapéu era um mimo! No entanto, lembro da minha farda de ginástica (eu e outras alunas achávamos horrível, pois parecíamos barrigudas) – blusa branca normal, e um calção de listras fininhas, azul e branco, de cintura franzida e as bocas das pernas com elásticos, que deviam estar sempre, acima, só um pouquinho, do joelho! E por cima a saia normal, azul marinho de pregas; se tirava a saia na hora dos exercícios. Imagine! Só na Olívia Palito ficaria bem!

Voltemos para Hermínia:

 

 O acervo de Hermínia Caldas traz não só documentos como fotos, cartões e lembranças de diretores e alunas. Inclusive sua Caderneta Escolar- 8 série- ginasial, de sua formatura em 1951 no Curso Pedagógico, além das demais formandas (cita todas, com fotos). Hermínia percorre os corredores do prédio, a Capela ( linda obra de arte), salas de aulas, a cozinha, o refeitório que servia as freiras e alunas internas, livros usados em aulas, professoras e professores, festas e a fervor religioso na orientação das alunas. As freiras também ensinavam, além das matérias curriculares: costura, prendas domésticas, música (cantar hinos patrióticos e religiosos), tocar piano e bandolim. Ao final, ela lamenta a extinção do Colégio entre crônicas e poesias. Mas resta a alegria do encontro mensal entre ex-alunas e professoras “a fim de manter a memória daquele colégio que marcou época na educação sergipana e viver a grandiosidade do coleguismo ali mantido como resultado da benéfica convivência escolar e ensinamentos adquiridos” (M. Hermínia Caldas).

Exibidos nas páginas do livro, tudo isso, nos dá a dimensão do seu carinho por todas essas lembranças!  Aju, 12.02.2021.

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Explicando: Olívia Palito - para quem não sabe, trata-se de personagem de história em quadrinhos, a companheira do comedor de espinafre, o marinheiro Popeye.


Ilustração da web

*Shirley Rocha - jornalista, Cadeira n. 09-Patrona Núbia Marques.