A TRAJETÓRIA DA PROFESSORA
MARIA LÍGIA MADUREIRA PINA
COMO SINDICALISTA*
A trajetória da Professora Maria Lígia
Madureira Pina como intelectual, escritora e sindicalista é, na minha
concepção, uma das mais belas, ricas e inspiradoras. Comemorar e celebrar seu
Centenário de Nascimento é realmente uma efeméride e um gesto de justiça por
sua efetiva e inumerável contribuição aos Órgãos Culturais e especialmente à
Classe do Magistério os quais ela participou, sempre comprometida, com espírito
de renúncia, inteligência, filosofia de relacionamento e pioneirismo. Foi o Sindicato
dos Professores de Sergipe um dos primeiros fundados em Sergipe. Vários
outros surgiram depois entre os quais APL-SE (Associação dos Professores
Licenciados de Sergipe), APME-SE (Associação dos Profissionais do
Magistério de Sergipe), e posteriormente o SINTESE (Sindicato dos
Trabalhadores em Educação do Estado de Sergipe).
Começo afirmando que sua intrepidez e
destemor, remonta, por incrível que pareça, de sua adolescência quando teve que
enfrentar sua Professora de Português no antigo Curso Ginasial do Colégio Nossa
Senhora de Lourdes dirigido pelas irmãs Sacramentinas. Ao abrir os olhos da
alma e do seu coração de menina, ao escrever seus primeiros e lindos poemas
mostrou seu forte pendor para as letras ao se manifestar “a partir dos onze
anos quando escreveu suas primeiras produções literárias as quais foram
reconhecidas por sua Professora de Português. No entanto, ela as achou muito
bonitas para serem de sua autoria”. (Prof.ª. Hermínia Caldas em sua Agenda
Cultural). Foi assim que nasceu uma grande escritora. E é assim que se destrói
uma vocação para quem se desperta para trabalhar a palavra. A menina Lígia
não se abateu com a descrença de sua Professora ao duvidar da sua criatividade.
Confiante, seguiu em frente. Sim, porque foi sempre decidida e pertinaz além de
autoconfiante. Assim se conduziu em todos os momentos de sua vida, vencendo
todos os percalços do caminho.
Resolvi narrar este fato da
adolescência da nossa ilustre homenageada simplesmente como um preâmbulo para
posterior compreensão de sua jornada como sindicalista e defensora dos
Colegas do Magistério.
Era por natureza uma criatura
tratável. Por trás daquele semblante suave, sereno, daquele porte elegante e
altaneiro da Professora Lígia existia uma cabeça eivada de sonhos de uma
visionária com um alto e excelente poder de resolução em toda sua carreira e
máxime da carreira sindical.
Portanto, posso assegurar, tudo que
irei apresentar neste momento como testemunha ocular e de grande parte da
contemporaneidade sobre a fulgurante carreira sindical da Professora Lígia
Pina afirmando como se expressou o imortal poeta Gonçalves Dias no
seu poema “Juca Pirama”. No poema, um velho Timbira, narrando a história
de um velho guerreiro, utiliza a expressão: “Meninos eu vi”, portanto eu
faço minha esta expressão do grande vate maranhense – “Meninos eu vi”.
Realmente eu tive o privilégio de acompanhar, admirar e, sobretudo aprender com
Lígia Pina em sua carreira Sindical que não se pode tergiversar
diante das injustiças.
Peço vênia e máxima data vênia para apresentar
uma retrospectiva histórica do papel da Professora Lígia Pina como sindicalista
e das lições que ela legou para a posteridade. O período compreendido entre
1956 a 1960 pode ser considerado pelas historiadoras Elsa Nadoi e Joana
Neves como aquele em que a agitação política ocorreu de acordo com os
moldes democráticos. Instala-se novo período eleitoral de agosto de 1954 a
janeiro de 1956, uma fase praticamente tomada pela questão eleitoral. A chapa
da coligação PSD-PTB consegue eleger seus primeiros candidatos: o
mineiro Juscelino Kubitschek de Oliveira para Presidente e o gaúcho João
Goulart para Vice-Presidente. Esta coligação derrotou os candidatos Juarez
Távora da UDN, Ademar de Barros do PSP e o Nado fascista Plínio
Salgado.
É exatamente neste momento histórico do país
que acabava de viver o resultado cabal da democracia, com eleições livres
que um grupo de Professores e trabalhadores da Educação do Município de Aracaju
e do Estado de Sergipe, no Dia do Professor do ano de 1957 se reuniu
e firmou a Ata de Fundação da Associação Profissional dos Professores de
Sergipe para constituir uma Diretoria Provisória sendo escolhidos os nomes
dos Professores Durval Lima Santos, Severino Uchoa, José Silvério, João
Costa, Leão Magno Brasil. Para o Conselho Fiscal – José Carlos de Souza, José
Fonseca Gesteira e José de Andrade.
Essa reunião foi realizada na Sede da
Ação Católica Diocesana de Sergipe, Rua Propriá, nº 222, presidida pela
comissão organizadora composta pelos Professores Severino Uchoa, Presidente,
Walfrido M. de Andrade e Rosália Bispo, Vice-Presidentes.
Ao instalar-se o processo de filiação do novel
Sindicato, destacamos através do Primeiro Livro de Registro, os cinco primeiros
filiados entre os quais a professora Lígia Pina:
1- Professor José Carlos de Souza
2- Professor Thieres Gonçalves de
Santana
3- Professor José Silvério Leite Fontes
4- Professora Maria Lígia Madureira Pina
5- Professor Gileno Francisco de Jesus
Outros
mestres se uniram a esta relação, imbuídos de sonhos, espírito de luta e esperança
por uma classe que acreditava ser a Educação o caminho, a solução e a libertação
para os problemas de Sergipe e do Brasil.
Como todos tomam ciência, Lígia Pina esteve presente na vanguarda
da criação do Sindicato, uma verdadeira efeméride registrada nos anais da
história do sindicalismo em Sergipe. Prova do seu idealismo coragem e
intrepidez. Uma cidadã que jamais fugiu à luta inserindo-se na mensagem mais
uma vez do imortal Gonçalves Dias que afirma que:
“A vida é uma luta renhida
Que os fracos abate
Aos fortes exalta
Viver é lutar”.
A Professora Lígia Pina com o grupo que fundou o Sindicato dos Professores acabou com o preconceito que havia na APL-SE (Associação dos Professores Licenciados de Sergipe) ao acolher no Sindicato Mestres de notório saber nas disciplinas e destacada vocação pedagógica como Ofenísia Freire, Maria Augusta Lobão, Maria da Glória Portugal entre outros.
Por sua comprovada competência e visão social da classe foi Delegada da FITEE (Federação Nacional) por vários mandatos ao lado dos Professores José Silvério Leite Fontes e José Carlos de Sousa.
Na condição de Vice-Presidente do
Sindicato assumiu a Presidência quando o Professor Leão Magno Brasil se
afastou para fazer um curso em Pernambuco. E, ao irromper a Revolução de 1964
assumiu a Presidência num momento profundamente conturbado da nossa história.
Não foi fácil para a professora Lígia Pina dirigir o Sindicato num
período de tanta repressão e marcado pela guerrilha urbana e rural sempre
sufocada pelo Exército. Esse era o retrato do país. As inteligências castradas,
intelectuais exilados. O povo abafado. As Universidades vigiadas. O brasileiro
privado da sua maior riqueza: A Liberdade.
Com os Sindicatos praticamente
fechados, Lígia Pina realizou uma das mais importantes Negociações
Salariais no 28º Batalhão de Caçadores e, presidindo a Comissão, com sua sábia
argumentação conseguiu um excelente percentual para o salário dos professores.
Situação sui generis num momento tão difícil.
Lígia Pina está registrada nos anais da história
do Sindicalismo Sergipano com uma relevante página de serviços resultado do
farol da sua inteligência, pertinácia, altero centrismo e de sua capacidade de
sonhar. Não existe o impossível quando o sonho comanda a vida. É só acreditar e
lutar. Quem luta com ardor e amor sempre vence. Aplicou toda sua inteligência a
serviço da sua terra e das gerações que educou.
Ela merece ser lembrada naquele
mandamento cívico de Coelho Neto:
“Honra a terra em que nasceste e a
qual reverterás na morte. O que fizeres por ela, por ti mesmo farás que és
terra e a tua memória viverá na gratidão dos que te sucederem”.
Aracaju/SE, 01 de setembro
de 2025
Prof.ª. Yvone Mendonça de Sousa- Membro da Academia Literária de Vida.
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Elenice Reis, fundadora e presidente da Academia Literária de Vida de Propriá falou como surgiu por parte dela o interesse pela Academia Literária de Vida, fundada pela professora Maria Lígia Madureira Pina, e o que a encantou a primeira vista foi a palavra VIDA. A ALVP foi criada em 2017 por dez mulheres, seguindo o conceito da titular Também teceu considerações sobre a leitura do livro A MULHER NA HISTÓRIA, escrito por Maria Lígia, que é a Patrona de Honra da ALVP.
A professora, escritora e ex-presidente do Sinpro, Yvone Mendonça de Sousa falou sobre "A Trajetória da professora Maria Lígia Madureira Pina como Sindicalista"
Jane Alves Nascimento Moreira de Oliveira, professora, advogada, escritora, membro da Academia Sergipana de Letras, cadeira n. 11, relembrou sua juventude como vizinha da homenageada e depois colega da Academia Sergipana de Letras. Jane Nascimento também é membro da Academia Literária de Vida e ocupa a cadeira n. 01, da fundadora Maria Lígia.
Dr. Anselmo Oliveira, professor, magistrado, membro da Academia Sergipana de Letras, cadeira n. 21, lembrou da figura nobre da colega que normalmente sentada ao lado dele durante as reuniões, nas segundas-feiras, que sempre tinha algo a apresentar, com voz tranquila e com um sorriso no rosto.