Escrito por Sandra
Natividade para o dia 8 de setembro de 2025, no salão da Academia Sergipana de
Letras, em comemoração ao Centenário de Maria Lígia Madureira Pina.
MARIA LIGIA MADUREIRA
PINA, A PROFESSORA
Foi assim que vi Lígia e, sem muito custo fiz uma perspectiva sobre sua vida docente. Aproveitei como exemplo uma conversa coloquial trocada com Lúcia Marques que fraternalmente a denomino de Lúcia “Baronesa de Maruim” em razão do amor extremado que nutre por sua terra natal, não porque tenha exercido o mandato de vereadora daquela cidade, mas por amar de verdade o chão onde viveu boa arte de sua vida.
A amiga Lúcia escreveu
vários livros, mas quero realçar neste texto apenas dois, seu primeiro em 1994 sob
o título Inventário Cultural de Maruim e no ano 2000 Rosário do
Catete. Contou-me a ilustre amiga ter ciceroneado Lígia Pina e suas
confreiras da Academia Literária de Vida - ALV, numa visita guiada ao tão bem
cuidado Gabinete de Leitura de Maruim; Usina Pedras e o local do antigo Engenho
Unha de Gato pertencente ao famoso Barão de Maruim. Eis o fato: Lúcia é bióloga,
pesquisadora, professora com Mestrado em Educação pela UFS e, sua dissertação no
mestrado enfocou: Revista Literária do gabinete de leitura de Maruim: subsídios
para a história dos impressos em Sergipe. Foi aluna do saudoso professor
dr. Antônio Garcia Filho ex-presidente e o patrono do MAC da Academia Sergipana
de Letras - ASL.
Lígia, convidou Lúcia
para apresentar sua dissertação numa sessão da ASL. Lúcia, não foi aluna de
Ligia, mas, alguém que a admirava não só como professora de gerações, mas como
profissional compromissada com a educação e com os saberes. LÚCIA, sempre bem
decidida, chegou na Academia e, ficou aguardando numa sala antes do recinto
onde estavam os intelectuais, até ser naturalmente convidada e apresentada ao
presidente Antônio Garcia Filho - para surpresa da convidada - o presidente era justamente seu ex-professor do
Curso de Biologia/UFS que segundo Lúcia, o professor ao iniciar suas aulas abria
os braços dizendo: “Venham oh gentis pardais, matar a sede da minha tumba” frase
atribuída a Fiódor Dostoiévski, o mesmo filósofo da notória frase “ Deus não
consiste na força, mas na verdade”. A aluna espirituosa, feliz da vida,
cumprimentou o professor informando: “eu sou um dos pardais que o senhor
arrebanhava nas aulas de ciências biológicas”, visivelmente movido pela emoção Antônio
Garcia levantou-se e disse do prazer em recebê-la como um dos “seus pardais”, bastou
isto para o grande professor improvisar um rápido discurso. Para melhor
identificação Lúcia é presidente da Academia de Letras e Artes de Maruim -
AMLA, e testemunha do quanto Lígia valorizava a educação e a preservação da
memória, o livro A Mulher na História escrito por Lígia, atesta isto.
Tenho também o testemunho de uma ex-aluna de Ligia, a confreira Mônica Ouro Reis, colhi no grupo da ALV o que segue: “A inesquecível professora Ligia Pina! Foi um privilégio aprender com ela e passear nas suas exposições brilhantes, pelos fatos históricos! Era um deleite suas aulas. Ela está presentificada na bagagem cultural de muitos alunos! Saudades Eternas!”
Assim, a saudosa Lígia, cumpriu sua
caminhada como professora, é a ela que homenageamos.
LÍGIA A EDUCADORA DE VANGUARDA
Foi Lígia Pina (-30set1925 +14082014), Filha de Affonso e Alexandrina (cronista, contista, romancista e teatróloga) reconhecida artífice na compromissada missão de ensinar usando na Escola pública, à época, recursos didáticos modestos e as vezes incipientes, na escola particular a situação era bem diferente. Entretanto, os obstáculos enfrentados no percurso, não arrefeceram seu idealismo de ver nos discentes a chama esplendorosa do saber irradiando na prática. Lígia, inculcava no alunado conteúdos que preparasse cada um para a vida cheia de concorrência, aquela competitiva aonde vence o melhor.
Sua formação acadêmica
aconteceu na Faculdade Católica de Filosofia/SE curso com ênfase em história e
geografia. Era amiga fraterna e sem distância, temos na ALV testemunhos de suas
diletas amigas e confreiras Yonne Mendonça e Cléa Brandão que lhe atestam ações
como firmeza nas decisões e lhaneza. Trabalhou nas instituições: Atheneu
Sergipense, Jackson de Figueiredo, Colégio de Aplicação/UFS, Escola Normal o IERB,
Colégio Arquidiocesano S. Coração de Jesus, Colégio N. Sra. Lourdes, Colégio
Tiradentes - professor fundador. Lígia,
deixou marcas de verdadeiro agente multiplicador nas escolas, no meio
intelectual, nas instituições onde com brilhantismo laborou.
Observei que na
época vivenciada por Lígia os educadores ministravam com arte, parecendo aula-show,
um recurso utilizado com sucesso por exemplo pelo saudoso Ariano Suassuna em
suas palestras; tipo que combina texto com elementos da cultura popular ou
outros, recurso lúdico que ajudava na compreensão do conteúdo ministrado. Em
sala de aula, ela utilizava peça de teatro com os alunos de cada unidade, o
assunto, era basicamente sobre o conteúdo fornecido, assim, conhecimento
programático e arte viviam juntos e, não parava por aí, para deixar o assunto
mais claro utilizava as conhecidas: mata charadas e palavras cruzadas. Fora da
sala de aula, na rua onde morava por exemplo, Lígia realizava no final do ano a
encenação do Auto de Natal.
Seus escritos
foram iniciados aos 11 anos, mas há quem informe aos 10, compondo poesias. A
boa professora, no cenário da educação encenou peças teatrais de caráter
histórico com objetivos didáticos: 1975 - O viajante do tempo, Os Caminhos da
Filosofia, Patrícios contra Plebeus, A Reportagem Espacial e outros com alunos
do Colégio de aplicação-UFS, em 1979 - O Ponto Ômega envolvendo alunos e
professores do Colégio Atheneu Sergipense. Ah, como gostava de escrever, e
publicar seus livros: Flagrando a
Vida/1983, Satélite Espião/1998. A MULHER NA HISTÓRIA/1994 este prefaciado
pela educadora Yvone Mendonça de Sousa que em um dos brilhantes parágrafos
escreveu: “Seu estilo primoroso de narradora eximia, associado à verdade
histórica, passando a limpo o papel da mulher, as vésperas do segundo milênio,
faz desta obra sui generis em termos de pesquisa, uma forma de resgatar a
memória cultural do nosso Estado. A ilustre pesquisadora traz ao conhecimento
de todos, a história de mulheres sergipanas que saem do injusto ostracismo, a
fim de que galguem o lugar de destaque que merecem no panorama intelectual de
Sergipe.” O livro foi dedicado pela autora a: “Shirley Maria, Benedita, Maria
Sirlene (Nena), Maria Helena (Leninha) e Maria da Conceição pelo afeto filial
que me dedicam”. Depois desta obra houve
a publicação de seu último livro A Relíquia/2008, obra que reúne contos
e crônicas.
Voltando um pouco
no tempo Lígia Pina foi uma atuante presidente do Sindicato dos Professores da Rede
Particular de Ensino do Estado de Sergipe - Sinpro, fundado no Dia do Professor
de 1957 à época denominada, Associação Profissional dos Professores do Ensino
Primário, Secundário, Superior e Comercial do Estado de Sergipe. Seu amigo, o bem articulado professor José
Carlos de Souza, fundador e primeiro presidente daquele Sindicato, cumpriu os
mandatos 1960/62, 1974/77. Faço esta menção ao dr. José Carlos de Souza, por
seus méritos, por ter sido amigo fraterno de Ligia e, meu estimado e bom colega
de repartição pública.
A história de Lígia,
a professora, é fascinante, na presidência do Sinpro período 1965/1971, seu enfoque
conciliador a fez permanecer no cargo por três governos de Sergipe: drs. Sebastião
Celso de Carvalho, Lourival Batista e consequentemente dr. João Garcez. Ligia
juntamente a um grupo de docentes fundou a APL - Associação dos Professores
Licenciados de Sergipe; o Sinpro por seus gestores se posicionou como referência,
daí outros sindicatos foram organizados no Estado.
Lígia, a mulher de
aparente estrutura frágil, era uma gigante nas ações, tornou-se imortal, do primeiro
Sodalício das Letras Sergipanas, Casa do jurista, professor e filósofo Tobias
Barreto de Menezes; a posse ocorreu em 1998, no auditório Gov. José Rollemberg
Leite do TJSE, passando a ocupar a cadeira 27 tendo como patrono o professor
Manoel Luiz, a saudação de recepção coube ao intelectual o acadêmico José
Anderson Nascimento.
Criou a irrequieta
professora em 20dez1992, juntamente com amigas fraternas a ALV- segunda
Academia de Letras fundada no Estado. Em vida Ligia recebeu honras diversas:
Medalhas, diplomas, troféus. O magistério foi seu caminho maior, a educação seu
chão e os títulos honraram sua vida: recebeu a maior expressão sociocultural e intelectual - Mulher do
Século XX, Troféu Educador do Ano (pelo Sindicato dos Professores da Rede
Particular de Ensino do Estado de Sergipe), professora emérita da UFS, como
também o título de Escritora do Ano.
Participações de
Lígia a professora: Seminário de Sistemas Educacionais realizado em Tel Aviv a
capital econômica e tecnológica de Israel, como também do Colóquio de Educação
comparada Brasil-Israel, 1989/RJ. Os passos pequenos e certeiros fizeram Lígia andar
sem pressa, construiu, deixando seu legado inapagável. Contribuiu de forma
participativa com a antiga Associação dos Geógrafos do Brasil secção de SE na
qualidade de secretária, do Centro de Pesquisa Histórica da UFS, presidente do Sindicato
dos Professores da Rede Particular de Ensino do Estado de Sergipe presidindo-o
por 5 anos, vice-presidente do Conselho Estadual de Cultura, vice-presidente da
ASL, presidente da ALV e membro do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe como
também da Associação Sergipana de Imprensa. Colaborou com jornais e revistas: A
Tarde, Jornal da Cidade, O Popular, Folha da Manhã, El Sergipense, Letras
Sergipanas e Jornal da ALV.
Sigamos estimados confrades e amigos nossa caminhada, observando o passado com reconhecimento e o futuro com esperança sempre renovada.
Sandra Natividade Aju/SE, 08set2025
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