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quarta-feira, 17 de setembro de 2025

A Professora Maria Lígia

 

Dia 08.09.2025

TEMA: A PROFESSORA MARIA LÍGIA
DEBATEDOR: DOMINGOS PASCOAL
       JANE NASCIMENTO
CLÉA BRANDÃO
           SANDRA NATIVIDADE




Escrito por Sandra Natividade para o dia 8 de setembro de 2025, no salão da Academia Sergipana de Letras, em comemoração ao Centenário de Maria Lígia Madureira Pina.


MARIA LIGIA MADUREIRA PINA, A PROFESSORA

        Foi assim que vi Lígia e, sem muito custo fiz uma perspectiva sobre sua vida docente. Aproveitei como exemplo uma conversa coloquial trocada com Lúcia Marques que fraternalmente a denomino de Lúcia “Baronesa de Maruim” em razão do amor extremado que nutre por sua terra natal, não porque tenha exercido o mandato de vereadora daquela cidade, mas por amar de verdade o chão onde viveu boa arte de sua vida.

A amiga Lúcia escreveu vários livros, mas quero realçar neste texto apenas dois, seu primeiro em 1994 sob o título Inventário Cultural de Maruim e no ano 2000 Rosário do Catete. Contou-me a ilustre amiga ter ciceroneado Lígia Pina e suas confreiras da Academia Literária de Vida - ALV, numa visita guiada ao tão bem cuidado Gabinete de Leitura de Maruim; Usina Pedras e o local do antigo Engenho Unha de Gato pertencente ao famoso Barão de Maruim. Eis o fato: Lúcia é bióloga, pesquisadora, professora com Mestrado em Educação pela UFS e, sua dissertação no mestrado enfocou: Revista Literária do gabinete de leitura de Maruim: subsídios para a história dos impressos em Sergipe. Foi aluna do saudoso professor dr. Antônio Garcia Filho ex-presidente e o patrono do MAC da Academia Sergipana de Letras - ASL.

Lígia, convidou Lúcia para apresentar sua dissertação numa sessão da ASL. Lúcia, não foi aluna de Ligia, mas, alguém que a admirava não só como professora de gerações, mas como profissional compromissada com a educação e com os saberes. LÚCIA, sempre bem decidida, chegou na Academia e, ficou aguardando numa sala antes do recinto onde estavam os intelectuais, até ser naturalmente convidada e apresentada ao presidente Antônio Garcia Filho - para surpresa da convidada -  o presidente era justamente seu ex-professor do Curso de Biologia/UFS que segundo Lúcia, o professor ao iniciar suas aulas abria os braços dizendo: “Venham oh gentis pardais, matar a sede da minha tumba” frase atribuída a Fiódor Dostoiévski, o mesmo filósofo da notória frase “ Deus não consiste na força, mas na verdade”. A aluna espirituosa, feliz da vida, cumprimentou o professor informando: “eu sou um dos pardais que o senhor arrebanhava nas aulas de ciências biológicas”, visivelmente movido pela emoção Antônio Garcia levantou-se e disse do prazer em recebê-la como um dos “seus pardais”, bastou isto para o grande professor improvisar um rápido discurso. Para melhor identificação Lúcia é presidente da Academia de Letras e Artes de Maruim - AMLA, e testemunha do quanto Lígia valorizava a educação e a preservação da memória, o livro A Mulher na História escrito por Lígia, atesta isto.

 Tenho também o testemunho de uma ex-aluna de Ligia, a confreira Mônica Ouro Reis, colhi no grupo da ALV o que segue: “A inesquecível professora Ligia Pina! Foi um privilégio aprender com ela e passear nas suas exposições brilhantes, pelos fatos históricos! Era um deleite suas aulas. Ela está presentificada na bagagem cultural de muitos alunos! Saudades Eternas!”

Assim, a saudosa Lígia, cumpriu sua caminhada como professora, é a ela que homenageamos.

LÍGIA A EDUCADORA DE VANGUARDA

Foi Lígia Pina (-30set1925 +14082014), Filha de Affonso e Alexandrina (cronista, contista, romancista e teatróloga) reconhecida artífice na compromissada missão de ensinar usando na Escola pública, à época, recursos didáticos modestos e as vezes incipientes, na escola particular a situação era bem diferente. Entretanto, os obstáculos enfrentados no percurso, não arrefeceram seu idealismo de ver nos discentes a chama esplendorosa do saber irradiando na prática. Lígia, inculcava no alunado conteúdos que preparasse cada um para a vida cheia de concorrência, aquela competitiva aonde vence o melhor. 

Sua formação acadêmica aconteceu na Faculdade Católica de Filosofia/SE curso com ênfase em história e geografia. Era amiga fraterna e sem distância, temos na ALV testemunhos de suas diletas amigas e confreiras Yonne Mendonça e Cléa Brandão que lhe atestam ações como firmeza nas decisões e lhaneza. Trabalhou nas instituições: Atheneu Sergipense, Jackson de Figueiredo, Colégio de Aplicação/UFS, Escola Normal o IERB, Colégio Arquidiocesano S. Coração de Jesus, Colégio N. Sra. Lourdes, Colégio Tiradentes - professor fundador.  Lígia, deixou marcas de verdadeiro agente multiplicador nas escolas, no meio intelectual, nas instituições onde com brilhantismo laborou.

Observei que na época vivenciada por Lígia os educadores ministravam com arte, parecendo aula-show, um recurso utilizado com sucesso por exemplo pelo saudoso Ariano Suassuna em suas palestras; tipo que combina texto com elementos da cultura popular ou outros, recurso lúdico que ajudava na compreensão do conteúdo ministrado. Em sala de aula, ela utilizava peça de teatro com os alunos de cada unidade, o assunto, era basicamente sobre o conteúdo fornecido, assim, conhecimento programático e arte viviam juntos e, não parava por aí, para deixar o assunto mais claro utilizava as conhecidas: mata charadas e palavras cruzadas. Fora da sala de aula, na rua onde morava por exemplo, Lígia realizava no final do ano a encenação do Auto de Natal.

Seus escritos foram iniciados aos 11 anos, mas há quem informe aos 10, compondo poesias. A boa professora, no cenário da educação encenou peças teatrais de caráter histórico com objetivos didáticos: 1975 - O viajante do tempo, Os Caminhos da Filosofia, Patrícios contra Plebeus, A Reportagem Espacial e outros com alunos do Colégio de aplicação-UFS, em 1979 - O Ponto Ômega envolvendo alunos e professores do Colégio Atheneu Sergipense. Ah, como gostava de escrever, e publicar seus livros:  Flagrando a Vida/1983, Satélite Espião/1998. A MULHER NA HISTÓRIA/1994 este prefaciado pela educadora Yvone Mendonça de Sousa que em um dos brilhantes parágrafos escreveu: “Seu estilo primoroso de narradora eximia, associado à verdade histórica, passando a limpo o papel da mulher, as vésperas do segundo milênio, faz desta obra sui generis em termos de pesquisa, uma forma de resgatar a memória cultural do nosso Estado. A ilustre pesquisadora traz ao conhecimento de todos, a história de mulheres sergipanas que saem do injusto ostracismo, a fim de que galguem o lugar de destaque que merecem no panorama intelectual de Sergipe.” O livro foi dedicado pela autora a: “Shirley Maria, Benedita, Maria Sirlene (Nena), Maria Helena (Leninha) e Maria da Conceição pelo afeto filial que me dedicam”.  Depois desta obra houve a publicação de seu último livro A Relíquia/2008, obra que reúne contos e crônicas.

Voltando um pouco no tempo Lígia Pina foi uma atuante presidente do Sindicato dos Professores da Rede Particular de Ensino do Estado de Sergipe - Sinpro, fundado no Dia do Professor de 1957 à época denominada, Associação Profissional dos Professores do Ensino Primário, Secundário, Superior e Comercial do Estado de Sergipe.  Seu amigo, o bem articulado professor José Carlos de Souza, fundador e primeiro presidente daquele Sindicato, cumpriu os mandatos 1960/62, 1974/77. Faço esta menção ao dr. José Carlos de Souza, por seus méritos, por ter sido amigo fraterno de Ligia e, meu estimado e bom colega de repartição pública.  

A história de Lígia, a professora, é fascinante, na presidência do Sinpro período 1965/1971, seu enfoque conciliador a fez permanecer no cargo por três governos de Sergipe: drs. Sebastião Celso de Carvalho, Lourival Batista e consequentemente dr. João Garcez. Ligia juntamente a um grupo de docentes fundou a APL - Associação dos Professores Licenciados de Sergipe; o Sinpro por seus gestores se posicionou como referência, daí outros sindicatos foram organizados no Estado.   

Lígia, a mulher de aparente estrutura frágil, era uma gigante nas ações, tornou-se imortal, do primeiro Sodalício das Letras Sergipanas, Casa do jurista, professor e filósofo Tobias Barreto de Menezes; a posse ocorreu em 1998, no auditório Gov. José Rollemberg Leite do TJSE, passando a ocupar a cadeira 27 tendo como patrono o professor Manoel Luiz, a saudação de recepção coube ao intelectual o acadêmico José Anderson Nascimento.

Criou a irrequieta professora em 20dez1992, juntamente com amigas fraternas a ALV- segunda Academia de Letras fundada no Estado. Em vida Ligia recebeu honras diversas: Medalhas, diplomas, troféus. O magistério foi seu caminho maior, a educação seu chão e os títulos honraram sua vida:   recebeu a maior expressão   sociocultural e intelectual - Mulher do Século XX, Troféu Educador do Ano (pelo Sindicato dos Professores da Rede Particular de Ensino do Estado de Sergipe), professora emérita da UFS, como também o título de Escritora do Ano.

Participações de Lígia a professora: Seminário de Sistemas Educacionais realizado em Tel Aviv a capital econômica e tecnológica de Israel, como também do Colóquio de Educação comparada Brasil-Israel, 1989/RJ. Os passos pequenos e certeiros fizeram Lígia andar sem pressa, construiu, deixando seu legado inapagável. Contribuiu de forma participativa com a antiga Associação dos Geógrafos do Brasil secção de SE na qualidade de secretária, do Centro de Pesquisa Histórica da UFS, presidente do Sindicato dos Professores da Rede Particular de Ensino do Estado de Sergipe presidindo-o por 5 anos, vice-presidente do Conselho Estadual de Cultura, vice-presidente da ASL, presidente da ALV e membro do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe como também da Associação Sergipana de Imprensa. Colaborou com jornais e revistas: A Tarde, Jornal da Cidade, O Popular, Folha da Manhã, El Sergipense, Letras Sergipanas e Jornal da ALV.

Sigamos estimados confrades e amigos nossa caminhada, observando o passado com reconhecimento e o futuro com esperança sempre renovada. 

 Sandra Natividade  Aju/SE, 08set2025