Yvone Mendonça de Souza
Livro de rara beleza, A História de Fernão Capelo Gaivota, de Richard Bach da Editora Nórdica foi considerada pela crítica, “um hino à liberdade”.
Escritor e piloto, autor de diversas obras e centenas de artigos escritos em revistas de avaliação, o autor numa linguagem metafórica nos leva a altitudes e penhascos, oceanos e mares, viajando com Fernão Capelo, uma gaivota especial que, ao desgarrar-se do seu bando, donde é expulsa, vítima de uma injustiça, conhece o segredo de uma liberdade que não tem limite. E, na sua peregrinação cumpre a nobre missão de ensinar e filosofar através de diálogos com outras gaivotas. Sim, filosofar, porque transmite com a palavra e com a vida, sobretudo, lições de sabedoria profunda que o homem necessita aprender e vivê-las.
O livro é dividido em três partes:
Na primeira parte conhecemos Fernão Capelo Gaivota que pertence a um bando de gaivotas que habitam em mares e penhascos em busca da sobrevivência. Fernão Capelo é uma gaivota invulgar, especial, destemida e altaneira, que não se contenta com vôos rasantes, acanhados e sem grandeza. Representa no plano humano toda pessoa que tem um projeto arrojado de vida e que se dispõe a ir à luta ainda que enfrente os mais difíceis obstáculos e percalços no caminho.
Enquanto seus companheiros de bando faziam vôos rasantes apenas em busca de peixes e mariscos, outros para a sobrevivência, Fernão Capelo, contrariando a preocupação dos pais que o queriam perto de si, avança no seu propósito, desgarra-se do bando e procura exercitar vôos mais altos, sofrendo peripécias, quebrando as asas, porém decidido a ultrapassar os limites para aprender mais e mais.
O lema de sua vida eram a velocidade e o desejo de voar cada vez mais alto até atingir a perfeição.
Na sua difícil caminhada, de tanto sofrer e encontrar obstáculos, um dia lembrou-se dos pais e achou que deveria voltar ao bando. “O meu pai tem razão. Devo regressar ao seio do bando e contentar-me com o que sou, uma pobre e limitada gaivota”.
É incrível notar como o ser humano capitula diante de obstáculos, isto é, deseja esmorecer na luta. A pertinácia se esvai diante das dificuldades. E, tal comportamento, denota fragilidade. É bom frisar que os grandes vencedores da humanidade passaram pelo crivo da luta, do sofrimento, porém essencialmente da perseverança. Contudo, Fernão Capelo teve no mínimo, um laivo de fraqueza. Repentinamente venceu o abatimento e foi à luta, até que, treinando e treinando, ultrapassou o limite permitido pelo bando. Realizou um vôo magnífico e, ao retornar, foi alvo de insultos pelo bando que o expulsou por desobedecer às normas estabelecidas.
Ora, ao invés de receber elogios e louvores por ultrapassar os limites da velocidade e altura, através do exercício duro e constante tão necessário à aprendizagem, ele foi repreendido e banido de forma hostil e injusta. Não sei se por essa razão posso considerá-lo mesmo um insubordinado ou um “superdotado” que merece atendimento pedagógico especial ou se mereceria apenas e por justiça o incentivo e beneplácito do orientador e instrutor. Pois, o que observaremos em toda a história, é uma relação profunda e agradável entre quem ensina e quem aprende. É uma relação - instrutor versus aprendiz. O certo é que ele foi expulso do bando, enxotado, humilhado e ofendido. Mas ele não perdeu a razão de viver, de continuar e recomeçar. Sim, porque recomeçar é um desafio de ir sozinho ao aprendizado. É a vontade de crescer porque ele acreditava nos seus objetivos. É uma das muitas lições que Fernão Capelo Gaivota nos passa.
Quando Capelo, feliz e realizado conquistou velocidade e altura consideráveis foi convidado a comparecer ao Conselho das Gaivotas. Comparecer ao Conselho somente ocorria para receber triunfos ou repreensão. E, nas suas conjecturas, ele estabeleceu um solilóquio quando dizia: Será que viram o meu triunfo? Não quero nem devo receber honrarias. Não quero ser chefe. Só quero mostrar os horizontes que estão a nossa frente. “Doce e ledo” engano de Fernão Capelo. Ao ser chamado para o Centro, foi por vergonha “pela sua desastrosa irresponsabilidade, quebrando a tradição da família das gaivotas”.
Às vezes, pela tradição muitos vôos não são alçados, muitas importantes decisões não são tomadas, ainda que em prejuízo. Até que ponto pode a tradição ou a norma ser literalmente respeitada mesmo causando danos? Será que vale a pena? Só que Capelo foi vítima da injustiça, do trauma, do desrespeito, da sua livre opção de voar, do seu livre arbítrio. E, assim como foi com Capelo, também o é com as minorias abafadas e corajosas.
“Irresponsável!” Com coragem, respondeu: - “Quem é mais irresponsável do que uma gaivota que descobre e desenvolve um significado, um propósito mais elevado na vida?”
E Fernão Capelo ficou só, abandonado, alijado, na solidão, mas convicto dos ideais. Foi como um cristão entre muçulmanos. Ninguém compreendeu a sua linguagem e a sua leitura de mundo. Um filósofo entre ignotos. Um injustiçado. Pagou um alto preço. Obteve o sucesso, aprendeu a voar alto na imensidão, descobriu horizontes novos e, em troca, foi instado à solidão.
O livro é dividido em três partes:
Na primeira parte conhecemos Fernão Capelo Gaivota que pertence a um bando de gaivotas que habitam em mares e penhascos em busca da sobrevivência. Fernão Capelo é uma gaivota invulgar, especial, destemida e altaneira, que não se contenta com vôos rasantes, acanhados e sem grandeza. Representa no plano humano toda pessoa que tem um projeto arrojado de vida e que se dispõe a ir à luta ainda que enfrente os mais difíceis obstáculos e percalços no caminho.
Enquanto seus companheiros de bando faziam vôos rasantes apenas em busca de peixes e mariscos, outros para a sobrevivência, Fernão Capelo, contrariando a preocupação dos pais que o queriam perto de si, avança no seu propósito, desgarra-se do bando e procura exercitar vôos mais altos, sofrendo peripécias, quebrando as asas, porém decidido a ultrapassar os limites para aprender mais e mais.
O lema de sua vida eram a velocidade e o desejo de voar cada vez mais alto até atingir a perfeição.
Na sua difícil caminhada, de tanto sofrer e encontrar obstáculos, um dia lembrou-se dos pais e achou que deveria voltar ao bando. “O meu pai tem razão. Devo regressar ao seio do bando e contentar-me com o que sou, uma pobre e limitada gaivota”.
É incrível notar como o ser humano capitula diante de obstáculos, isto é, deseja esmorecer na luta. A pertinácia se esvai diante das dificuldades. E, tal comportamento, denota fragilidade. É bom frisar que os grandes vencedores da humanidade passaram pelo crivo da luta, do sofrimento, porém essencialmente da perseverança. Contudo, Fernão Capelo teve no mínimo, um laivo de fraqueza. Repentinamente venceu o abatimento e foi à luta, até que, treinando e treinando, ultrapassou o limite permitido pelo bando. Realizou um vôo magnífico e, ao retornar, foi alvo de insultos pelo bando que o expulsou por desobedecer às normas estabelecidas.
Ora, ao invés de receber elogios e louvores por ultrapassar os limites da velocidade e altura, através do exercício duro e constante tão necessário à aprendizagem, ele foi repreendido e banido de forma hostil e injusta. Não sei se por essa razão posso considerá-lo mesmo um insubordinado ou um “superdotado” que merece atendimento pedagógico especial ou se mereceria apenas e por justiça o incentivo e beneplácito do orientador e instrutor. Pois, o que observaremos em toda a história, é uma relação profunda e agradável entre quem ensina e quem aprende. É uma relação - instrutor versus aprendiz. O certo é que ele foi expulso do bando, enxotado, humilhado e ofendido. Mas ele não perdeu a razão de viver, de continuar e recomeçar. Sim, porque recomeçar é um desafio de ir sozinho ao aprendizado. É a vontade de crescer porque ele acreditava nos seus objetivos. É uma das muitas lições que Fernão Capelo Gaivota nos passa.
Quando Capelo, feliz e realizado conquistou velocidade e altura consideráveis foi convidado a comparecer ao Conselho das Gaivotas. Comparecer ao Conselho somente ocorria para receber triunfos ou repreensão. E, nas suas conjecturas, ele estabeleceu um solilóquio quando dizia: Será que viram o meu triunfo? Não quero nem devo receber honrarias. Não quero ser chefe. Só quero mostrar os horizontes que estão a nossa frente. “Doce e ledo” engano de Fernão Capelo. Ao ser chamado para o Centro, foi por vergonha “pela sua desastrosa irresponsabilidade, quebrando a tradição da família das gaivotas”.
Às vezes, pela tradição muitos vôos não são alçados, muitas importantes decisões não são tomadas, ainda que em prejuízo. Até que ponto pode a tradição ou a norma ser literalmente respeitada mesmo causando danos? Será que vale a pena? Só que Capelo foi vítima da injustiça, do trauma, do desrespeito, da sua livre opção de voar, do seu livre arbítrio. E, assim como foi com Capelo, também o é com as minorias abafadas e corajosas.
“Irresponsável!” Com coragem, respondeu: - “Quem é mais irresponsável do que uma gaivota que descobre e desenvolve um significado, um propósito mais elevado na vida?”
E Fernão Capelo ficou só, abandonado, alijado, na solidão, mas convicto dos ideais. Foi como um cristão entre muçulmanos. Ninguém compreendeu a sua linguagem e a sua leitura de mundo. Um filósofo entre ignotos. Um injustiçado. Pagou um alto preço. Obteve o sucesso, aprendeu a voar alto na imensidão, descobriu horizontes novos e, em troca, foi instado à solidão.
Lembro-me aqui da resposta do imortal Tobias Barreto quando criticado, certa vez ao dizer: “Com as pedras que me atiram, construirei um altar”.
Como os bons exemplos devem ser seguidos, duas gaivotas o acompanharam, fascinadas pelo testemunho da sua coragem quando “ele deslizava tranqüilamente, sozinho, no seu querido céu”.
Para Fernão Capelo “A velocidade era poder, e era alegria e beleza pura”. Daí ele ter exercitado vários tipos de vôos. Ele descobriu o looping, o tonneau e outras acrobacias do vôo.
O homem em sua caminhada não pode nem deve conformar-se com os pequenos vôos, os vôos rasantes que representam as diminutas conquistas. Ao contrário, tem que acreditar em si, no seu trabalho, na sua força e pensar alto. Fernão Capelo não estabeleceu limites para aprender e voar alto. Na verdade o homem precisa preparar-se para os desafios e percalços da vida. A família interfere como os pais de Fernão Capelo, os amigos, o grupo social como o bando ao qual pertencia Capelo. Mas, quando esse mesmo homem consegue por si só dar vôos altos, sente-se feliz e orgulhoso da vitória após derrotas e mais derrotas até atingir o alvo. Para tanto, deve ser incansável, possuir uma força indômita. Prosseguir como disse S. Paulo em sua epístola “prossigo para o alvo pelo plano da soberana vocação”.
Para Fernão Capelo “A velocidade era poder, e era alegria e beleza pura”. Daí ele ter exercitado vários tipos de vôos. Ele descobriu o looping, o tonneau e outras acrobacias do vôo.
O homem em sua caminhada não pode nem deve conformar-se com os pequenos vôos, os vôos rasantes que representam as diminutas conquistas. Ao contrário, tem que acreditar em si, no seu trabalho, na sua força e pensar alto. Fernão Capelo não estabeleceu limites para aprender e voar alto. Na verdade o homem precisa preparar-se para os desafios e percalços da vida. A família interfere como os pais de Fernão Capelo, os amigos, o grupo social como o bando ao qual pertencia Capelo. Mas, quando esse mesmo homem consegue por si só dar vôos altos, sente-se feliz e orgulhoso da vitória após derrotas e mais derrotas até atingir o alvo. Para tanto, deve ser incansável, possuir uma força indômita. Prosseguir como disse S. Paulo em sua epístola “prossigo para o alvo pelo plano da soberana vocação”.
Aproveito a oportunidade para, à propósito do texto, questionar até que ponto devemos obedecer aos limites que nos são impostos. Eis uma dúvida crucial nos meandros da educação, da profissão, da vida em geral. Suponho que nem todas as situações que se nos apresentam podem restringir os limites.
Por isso, Fernão Capelo, ao atingir o objetivo exclamou: “Como vale a pena viver!”
Quando lutamos por algo enquanto vivemos, vale a pena viver. Já disse o poeta Gonçalves Dias:
A vida é uma luta renhida
Que aos fracos abate
Aos fortes exalta
Viver é lutar!
Por isso, Fernão Capelo, ao atingir o objetivo exclamou: “Como vale a pena viver!”
Quando lutamos por algo enquanto vivemos, vale a pena viver. Já disse o poeta Gonçalves Dias:
A vida é uma luta renhida
Que aos fracos abate
Aos fortes exalta
Viver é lutar!
Fernão Capelo foi um forte. Saiu da rotina de pegar peixe para comer e deu altos vôos vitoriosos e pensou na alegria dos companheiros. Sim, porque quando vencemos, queremos partilhar com alguém, pois o homem é um ser gregário e o grupo é importante para solidarizar-se.
E a famosa gaivota exclamou: “Podemos ser livres. Podemos aprender a voar”
Eis ainda nas expressões de Fernão Capelo outra problemática da vida: - Ser livre, livre para voar. Será que realmente somos livres? Afinal o que é a liberdade? Já houve quem dissesse que “a liberdade é a faculdade de fazer tudo que é justo perante a Lei”. E entre o que é justo e o que é bom e necessário ao homem, há uma distância a percorrer. Essa questão daria uma boa discussão filosófica. Contudo, a liberdade sem limite foi a tônica de Fernão Capelo Gaivota em toda a sua jornada e, acredito, deve ser a de todos os homens, contanto que seja pautada na Lei.
Eis ainda nas expressões de Fernão Capelo outra problemática da vida: - Ser livre, livre para voar. Será que realmente somos livres? Afinal o que é a liberdade? Já houve quem dissesse que “a liberdade é a faculdade de fazer tudo que é justo perante a Lei”. E entre o que é justo e o que é bom e necessário ao homem, há uma distância a percorrer. Essa questão daria uma boa discussão filosófica. Contudo, a liberdade sem limite foi a tônica de Fernão Capelo Gaivota em toda a sua jornada e, acredito, deve ser a de todos os homens, contanto que seja pautada na Lei.
Ninguém pode viver bem sem o exercício da liberdade. É por essa razão que abomino os regimes totalitários que cerceiam a liberdade de ir e vir e a liberdade de pensar e dizer do cidadão.
DIREITO DE “IR E VIR”.
Abro um parêntese para refletir um pouco sobre a situação do povo cubano. Cuba é um país da América Central, uma ilha da região do Caribe, caliente, romântica, cercada de águas azuis, casario de rara beleza arquitetônica, lembrando o Barroco e o Rococó, sendo por essa razão, patrimônio da humanidade. Possui um dos mais invejáveis sistemas educacionais do continente americano e quiçá do mundo. Não há analfabetos. A saúde é também um direito de todos. Contudo, até o presente momento, não compreendi a razão pela qual o direito de “ir e vir” continuam cerceados. Não existe eleição para o cargo majoritário do país e os intelectuais têm uma situação social limitada. Não há direito de greve, e a prostituição campeia até entre mulheres formadas, isto é, com o curso superior. Que contradição é essa que se circunscreve entre o saber adquirido, a cultura e a conformação com a falta de liberdade? Se o saber é poder por que os que sabem ainda não promoveram a revolução em prol da liberdade? E não entendo também por que os admiradores do ditador daquela ilha de tantos encantos naturais e os partidários do socialismo não o instaram a uma social democracia?
Questiona-se muito e com certa razão a situação do Brasil, a injusta distribuição de renda o que é um fato realmente lamentável, mas uma coisa é governar um país de dimensões continentais na DEMOCRACIA com imprensa livre, eleição para todos os cargos e outra é governar uma ilha do tamanho de Pernambuco mais ou menos e numa DITADURA de mais de quarenta anos. Não é utopia, mas é realidade a evasão de centenas de cubanos que fogem em busca da liberdade e de outra condição de vida. Só a história que é a mestra da vida no dizer de Cícero, responderá.
“Voar alto é entrar no Paraíso”. Adquirindo o automatismo com o treino, sentia que dobraria a velocidade e a altitude. Segundo ele, no Paraíso não devia haver limites. A terra fora um lugar onde aprendera muito a lutar pela comida e ser banido.
Outras gaivotas tímidas e sem palavras foram ao encontro de Fernão Capelo. O exemplo vivo não só arrasta pessoas, mas corações. Foi assim com Jesus Cristo. Foi assim com Buda. O exemplo fala mais alto. É assim também com o mestre, aquele que não apenas ensina, orienta, mas transmite lições de vida.
Questiona-se muito e com certa razão a situação do Brasil, a injusta distribuição de renda o que é um fato realmente lamentável, mas uma coisa é governar um país de dimensões continentais na DEMOCRACIA com imprensa livre, eleição para todos os cargos e outra é governar uma ilha do tamanho de Pernambuco mais ou menos e numa DITADURA de mais de quarenta anos. Não é utopia, mas é realidade a evasão de centenas de cubanos que fogem em busca da liberdade e de outra condição de vida. Só a história que é a mestra da vida no dizer de Cícero, responderá.
“Voar alto é entrar no Paraíso”. Adquirindo o automatismo com o treino, sentia que dobraria a velocidade e a altitude. Segundo ele, no Paraíso não devia haver limites. A terra fora um lugar onde aprendera muito a lutar pela comida e ser banido.
Outras gaivotas tímidas e sem palavras foram ao encontro de Fernão Capelo. O exemplo vivo não só arrasta pessoas, mas corações. Foi assim com Jesus Cristo. Foi assim com Buda. O exemplo fala mais alto. É assim também com o mestre, aquele que não apenas ensina, orienta, mas transmite lições de vida.
Não se deve lutar apenas pela comida. As gaivotas aprenderam a lutar pela comida. A comida representa algo material. Não se vive apenas para a matéria e da matéria. Há uma dimensão de vida que transcende a luta pela sobrevivência. Lembro-me aqui da belíssima resposta de Jesus a Satanás quando foi tentado. “Nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus”.
Agora, com novos companheiros, Fernão Capelo descobrira mais uma vez que tinha muito a aprender. E seus companheiros de luta e de idéias “achavam que o mais importante na vida era olhar em frente e alcançar a perfeição que gostavam de fazer”.
Agora, com novos companheiros, Fernão Capelo descobrira mais uma vez que tinha muito a aprender. E seus companheiros de luta e de idéias “achavam que o mais importante na vida era olhar em frente e alcançar a perfeição que gostavam de fazer”.
Motivo de reflexão do livro em análise é a descoberta que se faz de forma lógica e objetiva: quando se abraça uma causa, uma profissão ou uma opção de vida, tem que haver um concomitante compromisso de constante aprendizagem e aperfeiçoamento, objetivando-se à perfeição. É sábia a máxima de Platão “O prazer no trabalho aperfeiçoa a obra”.
Enquanto se luta por um ideal e se descobre uma razão forte para viver, deixa-se para trás as frustrações e as injustiças.
Há pessoas que se traumatizam de tal forma com as injustiças, a inveja, a derrota, que passam a vida inteira reclamando e chorando tais injustiças e insucessos. Fernão Capelo ao contrário, esteve sempre determinado a conhecer novos horizontes, novas conquistas e prosseguir a caminhada em busca da perfeição e do Paraíso. Sim, buscar o Paraíso na concepção do personagem e do autor, pela fala do seu personagem.
Lutou contra a solidão. Acreditou no que fazia. Encorajado, automotivado, foi com seu testemunho vivo, atraindo outras gaivotas que o seguiam, com fome e sede de saber e aprender. Semeou a determinação de crescer pela aprendizagem permanente. Qual mestre humilde, resoluto, enfrentando os desafios de uma vida nas altitudes e da infinitude dos mares, com os companheiros, sempre ensinando, treinando e ensinando.
“Escolhemos o nosso próximo mundo através daquilo que aprendemos neste”. Com esta afirmação descobre-se que Fernão Capelo chega a pensar que não se deve viver por viver. Afinal, a vida é uma missão e é também uma mensagem. É mais ainda, ação. A cada passo, a cada gesto, estamos escrevendo e passando para os que nos cercam a história que pretendemos fazer aqui. Sim, fazer história. À medida que desempenhamos uma missão, exercitamos com dignidade o que realizamos, tentando crescer, voar cada vez mais alto, treinando e treinando para aprimorar o exercício da cidadania terrena.
Escolheremos com precisão nosso próximo mundo. Que próximo mundo? Será o céu? O paraíso celestial? Ou será a liberdade da nossa própria consciência? Poderá ser também a paz a que tanto aspiramos.
Podemos também fazer uma leitura reflexiva de que o paraíso ou o nosso PRÓXIMO MUNDO já inicia aqui na TERRA com a prática do exercício da justiça, humildade e generosidade. Esses foram os exemplos dados por Fernão Capelo Gaivota.
Momento apaixonante e de rara beleza é o encontro de Chiang, a Gaivota mais velha que, segundo diziam, devia em breve passar para o outro mundo. Estabelece-se assim, um rico diálogo entre Fernão Capelo e Chiang: - “Chiang, este mundo não é o Paraíso, pois não?
O mais velho sorriu ao luar: - Tu estás aprendendo outra vez, Fernão Gaivota.
- Bem, e o que acontece depois disto? Para onde vamos? Não há um lugar chamado Paraíso?”
Efetivamente com o excerto em epígrafe, mergulhamos na questão do alfa e do ômega que constitui uma das indagações filosóficas das mais importantes para o ser humano. E a questão etiológica e teleológica que sempre permeia o ser humano. E, nesse caso é imprescindível descobrir e saber o real papel que desempenhamos aqui neste planeta, não que queiramos atingir as galáxias, o imponderável, mas, para que, pisando firme na terra, saibamos que temos um papel aqui e lá. Portanto, a dimensão do viver se reveste a cada momento, de um eterno aprendizado enquanto vivemos. Sim, porque a vida em termos biológicos não é eterna, porém eterna na visão de passagem, de continuação.
Podemos também fazer uma leitura reflexiva de que o paraíso ou o nosso PRÓXIMO MUNDO já inicia aqui na TERRA com a prática do exercício da justiça, humildade e generosidade. Esses foram os exemplos dados por Fernão Capelo Gaivota.
Momento apaixonante e de rara beleza é o encontro de Chiang, a Gaivota mais velha que, segundo diziam, devia em breve passar para o outro mundo. Estabelece-se assim, um rico diálogo entre Fernão Capelo e Chiang: - “Chiang, este mundo não é o Paraíso, pois não?
O mais velho sorriu ao luar: - Tu estás aprendendo outra vez, Fernão Gaivota.
- Bem, e o que acontece depois disto? Para onde vamos? Não há um lugar chamado Paraíso?”
Efetivamente com o excerto em epígrafe, mergulhamos na questão do alfa e do ômega que constitui uma das indagações filosóficas das mais importantes para o ser humano. E a questão etiológica e teleológica que sempre permeia o ser humano. E, nesse caso é imprescindível descobrir e saber o real papel que desempenhamos aqui neste planeta, não que queiramos atingir as galáxias, o imponderável, mas, para que, pisando firme na terra, saibamos que temos um papel aqui e lá. Portanto, a dimensão do viver se reveste a cada momento, de um eterno aprendizado enquanto vivemos. Sim, porque a vida em termos biológicos não é eterna, porém eterna na visão de passagem, de continuação.
Se o imortal cantor dos índios, Gonçalves Dias num rasgo de precisão disse que “a vida é uma luta renhida que os fracos abate, aos fortes exalta e viver é lutar” ele nos mostra que ser forte é vencer a indolência, a injustiça, é voar alto, acima da pequenez dos falsos juízes. Foi assim que voou Fernão Capelo Gaivota. Sim, voar em busca do PARAÍSO.
- Mas afinal, o que é o PARAÍSO?
Richard Bach através de Chiang a Velha Gaivota, disse que “o Paraíso é ser perfeito”. Contudo, há muitos que pensam que é um lugar de delícias, onde não existe fome, nem guerras, nem pranto, nem dor e desigualdades. E sabe-se que existem várias formas de conceber as idéias de PARAÍSO.
A filosofia de vida que o texto nos passa pode até parecer utópica. É, todavia, nobre e grandiloqüente. Perpassa pela luta, renúncia, humildade, determinação, aprendizado constante, nascimento permanente (nascer de novo) que na concepção bíblica apresentou um Nicodemos imaturo, atrapalhado, pensando que teria de voltar ao ventre materno, quando não o era, mas nascer do espírito. Enfim, é a construção de um homem dinâmico que extrapola os limites da mesquinhez e chega aos paramos da sabedoria, suprema beleza. Sim, porque ele jamais se contentará com o que sabe, com o que aprendeu. Pressupõe-se aquela máxima filosófica de que o “verdadeiro sábio é aquele que sabe que nada sabe”. Assim, o desejo de aperfeiçoar-se será uma tônica em sua vida.
Oxalá todos os homens adotem essa filosofia, a filosofia de Fernão Capelo Gaivota.
Ainda Chiang, dialogando com Fernão Capelo, transmite um dos mais expressivos ensinamentos: “Se quiseres, podemos começar a trabalhar com tempo - disse-lhe Chiang - até poderes voar o passado e o futuro. E então estarás preparado para começar com o mais difícil, o mais potente e o mais divertido de tudo. Estarás preparado para voar além e conhecer o significado das palavras Bondade e Amor.
Chiang desaparece finalmente”.
A filosofia dos diálogos nos traz mais um momento sublime quando Chiang pede que se prepare para começar o mais difícil e mais potente de tudo: buscar o conhecimento do significado das palavras Bondade e Amor.
Quando se estabelece nesse momento a indução da busca do significado de tais vocábulos - Bondade e Amor, não é unicamente um mero exercício semântico, mas o exercício pleno da vivência, pois toda a dialética do livro se fundamenta no treinamento e na perene busca da perfeição. Realmente, quando alguém se propõe não apenas à busca, mas à prática da bondade e do amor, permite-se ficar em estado de graça.
E o treinamento da Bondade e do Amor consiste na busca do PARAÍSO (Ser perfeito).
Assim, Fernão Capelo, em sua jornada, atrai muitas outras gaivotas que o seguem e bebem no seu exemplo, as lições necessárias aos que se deixam levar pelo medo, preguiça, covardia, indecisão e aprendem as lições de que:
A filosofia de vida que o texto nos passa pode até parecer utópica. É, todavia, nobre e grandiloqüente. Perpassa pela luta, renúncia, humildade, determinação, aprendizado constante, nascimento permanente (nascer de novo) que na concepção bíblica apresentou um Nicodemos imaturo, atrapalhado, pensando que teria de voltar ao ventre materno, quando não o era, mas nascer do espírito. Enfim, é a construção de um homem dinâmico que extrapola os limites da mesquinhez e chega aos paramos da sabedoria, suprema beleza. Sim, porque ele jamais se contentará com o que sabe, com o que aprendeu. Pressupõe-se aquela máxima filosófica de que o “verdadeiro sábio é aquele que sabe que nada sabe”. Assim, o desejo de aperfeiçoar-se será uma tônica em sua vida.
Oxalá todos os homens adotem essa filosofia, a filosofia de Fernão Capelo Gaivota.
Ainda Chiang, dialogando com Fernão Capelo, transmite um dos mais expressivos ensinamentos: “Se quiseres, podemos começar a trabalhar com tempo - disse-lhe Chiang - até poderes voar o passado e o futuro. E então estarás preparado para começar com o mais difícil, o mais potente e o mais divertido de tudo. Estarás preparado para voar além e conhecer o significado das palavras Bondade e Amor.
Chiang desaparece finalmente”.
A filosofia dos diálogos nos traz mais um momento sublime quando Chiang pede que se prepare para começar o mais difícil e mais potente de tudo: buscar o conhecimento do significado das palavras Bondade e Amor.
Quando se estabelece nesse momento a indução da busca do significado de tais vocábulos - Bondade e Amor, não é unicamente um mero exercício semântico, mas o exercício pleno da vivência, pois toda a dialética do livro se fundamenta no treinamento e na perene busca da perfeição. Realmente, quando alguém se propõe não apenas à busca, mas à prática da bondade e do amor, permite-se ficar em estado de graça.
E o treinamento da Bondade e do Amor consiste na busca do PARAÍSO (Ser perfeito).
Assim, Fernão Capelo, em sua jornada, atrai muitas outras gaivotas que o seguem e bebem no seu exemplo, as lições necessárias aos que se deixam levar pelo medo, preguiça, covardia, indecisão e aprendem as lições de que:
A idéia perfeita de liberdade e vôo, nada consegue limitar;
Cego é aquele que não quer ver, não percebe a glória de aprender;
Perdoar é ajudar a compreender o mal que recebemos;
“Quem bem fizer pra si é.”
Cego é aquele que não quer ver, não percebe a glória de aprender;
Perdoar é ajudar a compreender o mal que recebemos;
“Quem bem fizer pra si é.”
O sentimento de vingança é um sentimento pequeno e, vez por outra se acasala no espírito humano. E a demonstração de vingança, ressentimento, apoderou-se de Francisco Gaivota uma das que acompanhou Fernão Capelo em sua caminhada.
“Não compreendo como consegues amar um punhado de pássaros que acabam de tentar matar-te”.
- “Oh! Chico! Não é isso que amas! Tu não amas o ódio e o inferno, é claro. Tens de treinar até veres a verdadeira gaivota, o que há de bom em cada uma delas e ajudá-las a ver isso nelas próprias. Para mim, o amor é isso. Quando o conseguimos compreender e pôr em prática, até acharás divertido”.
O diálogo em epígrafe mostra claramente que ao ódio, ao desamor e à vingança, responde-se com amor. E, nesse episódio, descobrir o seu lado bom é também outra forma de amor.
“Não compreendo como consegues amar um punhado de pássaros que acabam de tentar matar-te”.
- “Oh! Chico! Não é isso que amas! Tu não amas o ódio e o inferno, é claro. Tens de treinar até veres a verdadeira gaivota, o que há de bom em cada uma delas e ajudá-las a ver isso nelas próprias. Para mim, o amor é isso. Quando o conseguimos compreender e pôr em prática, até acharás divertido”.
O diálogo em epígrafe mostra claramente que ao ódio, ao desamor e à vingança, responde-se com amor. E, nesse episódio, descobrir o seu lado bom é também outra forma de amor.
Com um projeto gráfico dos mais encantadores, Richard Bach além do texto nos transplanta ao firmamento e aos páramos de um infinito céu azul esbranquiçado palmilhado por um bando de gaivotas, alçando vôos ora rasantes, ora altos, vagando na imensidão dos mares e a espelhar-se no cristal de suas águas.
Russel Munson foi o artífice desse projeto ilustrativo com sua habilidade. Ele é professor de fotografia e também o autor de numerosos anúncios de revistas, tendo iniciado sua atividade profissional com fotografias de aviões. Assim, reúne-se o escritor e piloto Richard Bach com o fotógrafo de aviões numa simbiose que faz da presente obra um convite à reflexão.
Russel Munson foi o artífice desse projeto ilustrativo com sua habilidade. Ele é professor de fotografia e também o autor de numerosos anúncios de revistas, tendo iniciado sua atividade profissional com fotografias de aviões. Assim, reúne-se o escritor e piloto Richard Bach com o fotógrafo de aviões numa simbiose que faz da presente obra um convite à reflexão.
E na terceira parte ele depura o ofício de instrutor conforme observamos no texto que segue: “Tens de treinar até veres a verdadeira gaivota, o que há de bom em cada uma delas e ajudá-las a ver isso nelas próprias. Para mim o amor é isso”.
Quanto mais rebelde e insolente é o aprendiz, maior motivo se tem para o instrutor estender os cuidados e sobretudo o amor. Descobrir o lado positivo do ser humano é um exercício de amor e até de salvação, pois o amor salva.
Vê-se muitas vezes o lado mal das pessoas, quando um gesto de amor pode despertá-las para o bem e para a fraternidade.
Ensinar a voar foi o excelente pretexto de Richard Bach, objetivando passar lições grandiosas cuja filosofia desperta para uma série de conceitos de vida que se deve reformular para que se viva melhor e mais intensamente a vida.
O erro e o insucesso são até formas eloqüentes de fazer qualquer ser recomeçar e, essencialmente, o ser humano. E recomeçar com a liberdade de voar sempre e cada vez mais alto.
O exercício de ensinar é grandioso porque o instrutor cresce pessoalmente na medida em que faz o outro crescer e praticar com consciência o exercício da liberdade.
E depois que toda sua missão foi cumprida plenamente, Fernão Capelo começou a estremecer no ar, ficar brilhante e a tornar-se transparente, até que o brilho extinguiu-se e ele desapareceu no próprio ar. E assim são todos quando se passam à eternidade ao concluir sua missão neste planeta.
Quanto mais rebelde e insolente é o aprendiz, maior motivo se tem para o instrutor estender os cuidados e sobretudo o amor. Descobrir o lado positivo do ser humano é um exercício de amor e até de salvação, pois o amor salva.
Vê-se muitas vezes o lado mal das pessoas, quando um gesto de amor pode despertá-las para o bem e para a fraternidade.
Ensinar a voar foi o excelente pretexto de Richard Bach, objetivando passar lições grandiosas cuja filosofia desperta para uma série de conceitos de vida que se deve reformular para que se viva melhor e mais intensamente a vida.
O erro e o insucesso são até formas eloqüentes de fazer qualquer ser recomeçar e, essencialmente, o ser humano. E recomeçar com a liberdade de voar sempre e cada vez mais alto.
O exercício de ensinar é grandioso porque o instrutor cresce pessoalmente na medida em que faz o outro crescer e praticar com consciência o exercício da liberdade.
E depois que toda sua missão foi cumprida plenamente, Fernão Capelo começou a estremecer no ar, ficar brilhante e a tornar-se transparente, até que o brilho extinguiu-se e ele desapareceu no próprio ar. E assim são todos quando se passam à eternidade ao concluir sua missão neste planeta.
Yvone Mendonça de Souza, do livro “Trajetória de uma Vida”.