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quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Oscar Wilde – uma interessante biografia sob a ótica de Daniel Salvatore Shiffer – L&PM-Pocket 2009

Cléa Maria Brandão de Santana
Oscar Wilde
 
Como se introduz na obra “De Profundis”, o escritor irlandês Oscar Wilde “tratou a arte como a suprema realidade e a vida como uma mera ficção. Despertou a imaginação do século em que viveu para que se criasse em torno de sua pessoa um misto e uma lenda”. E conseguiu.
Oscar Wilde nascido em 16 de outubro de 1854 em Duplin, de pais pertencentes à antiga nobreza irlandesa, protestantes e fervorosos nacionalistas. Tanto que afirmava escudado na matriz patriótica de suas origens: ”Sou celta, não inglês” e alfinetava “dentre os povos do mundo, são os ingleses os que possuem o menor sentido da beleza da literatura”, frase esta que Wilde colocou na boca de Lorde Henry em Retrato de Dorian Gray, indubitavelmente sua obra prima que encontra nos gostos literários mais apurados grande aceitação. Ainda, segundo ele, o público inglês “não perdoa nunca em um artista: a juventude, o talento e o entusiasmo. Dissera isso, aos 28 anos, quando pronunciava conferência para americanos. É claro que partindo de um “dândi” foram palavras insultantes para o estabilisment britânico. Essa conferência que tinha como título “O Renascimento inglês da Arte”, fora pronunciada em Nova Iorque no dia 09 de janeiro de 1882.

Em 1890, Oscar Wilde, lança a sua obra mais conhecida –“O Retrato de Dorian Gray” e para se armar contra todas as críticas foi logo lançando aforismos, tipos: “ um livro não é, de modo algum, moral ou imoral. Os livros são bem ou mal escritos. E eis tudo”. “Vício e virtude são para o artista materiais para uma arte”. “Podemos perdoar a um homem por haver feito uma coisa útil, contanto que não a admire”. “A única desculpa de haver feito uma coisa inútil é admirá-la intensamente”. ‘A mais elevada, como a mais baixa das formas de crítica é uma espécie de autobiografia”.
Oscar Wilde gostava de ser comparado ao romano Petrônio, o “árbitro da elegância” e autor de Satiricon. Quanto ao Retrato de Dorian Gray, Wilde detalhou: “o artista está sempre buscando um modo de vida no qual a alma e o corpo sejam uma coisa só indivisível...”
 

-Será isso que ele confessaria na sua obra “De Profundis” que o Retrato de Dorian Gray havia exercido uma influência tão estranha sobre sua vida?
Quando estudante em Oxford, onde se especializou em artes, entre tantos escritores com que Oscar Wilde travou amizade destaca-se o grande historiador inglês, Thomas Carlyle. Para ele, a leitura de Goethe, de quem teve muita influência, constitui uma espécie de consolação diante das vicissitudes da vida.
Escreveu muito. Poesias, ensaios, peças de teatro, sendo a peça Salomé a mais famosa e a mais censurada pela Inglaterra Vitoriana. Conhecia o latim e grego clássico e francês.
Mas o que mais ressaltava em Oscar Wilde era o seu pendor homossexual, o que lhe custou muito caro. Embora houvesse casado com uma extraordinária jovem e tido dois filhos, optou por amar rapazes, desprezando sua família. Gostava de dizer “os deuses me concederam quase tudo: eu possuía o gênio, um nome, posição, agudez intelectual, talento. Fiz da arte uma filosofia e da filosofia uma arte”.
 
Oscar e Douglas

A sua ligação com Alfred Douglas o levou em 1895 a condenação a dois anos de trabalho forçado por corrupção de menor. É difícil imaginar o “dândi” sem suas roupas exuberantes e seus cabelos cheios e bem cuidados, tivera sua cabeça raspada, usava roupas listradas e passou a ser um número. O que vivenciou naquele lugar atroz, ele retratou nas obras “Balada do Cárcere de Reading’  e de “De Profundis”.
Para Oscar Wilde o “dândismo” era uma forma de distinguir e como expressou; ”como uma espécie de religião”. E “amar a si mesmo é o começo de um idílio que dura a vida inteira”. Dele diziam: ”Wilde era muito mais do que um simples libertino a multiplicar suas conquistas masculinas e enganar sua mulher”.
Quando condenado a reclusão por “atentado violento ao pudor”, processo movido pelo pai do seu jovem amante, o Marques de Queensberry, havia cinco anos que ele havia publicado “O Retrato de Dorian Gray”. Um crítico, Jean Gattgno assim concluiu: “O Retrato de Dorian Gray é o retrato da vida que Oscar Wilde e Alfred Douglas, preparavam-se para levar, ou melhor, que Oscar Wilde esperava poder levar como um Dorian Gray ainda não encarnado. É aí que se encontra a verdadeira fatalidade, a qual marcou a consciência que Wilde tinha da sua propria vida e da que o retrato de Dorian Gray oferece uma imagem repetida ad infinitum”.
Em 30 de novembro de 1900 faleceu Oscar Wilde. Indigente. E em sua sepultura, seus amigos Ross e Dupovirier colocaram a inscrição do capítulo 29, versículo 22 do livro de Jó: “havendo eu falado, não replicavam; as minhas palavras caíram sobre eles como orvalho”.
Certa vez ele dissera que: ”deveríamos viver como se a morte não existisse e morrer como se nunca tivéssemos vivido”.
Enfim, citamos o douto Jorge Luiz Borges, quando disse: ”Wilde é um desses seres afortunados que não precisam ser aprovados pela crítica nem mesmo às vezes pelo leitor: “O prazer que suas obras nos fornecem é irresistível e constante”.
Ler a biografia de Oscar Wilde é no mínimo instigante.

03 de agosto de 2012