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segunda-feira, 21 de maio de 2012

A Lei Áurea e suas consequências

Tela de J. Rugendas

A decretação da Lei Áurea, a 13 de maio de 1888, libertou uma raça da humilhação e indignidade da escravatura. Li­vrou o Brasil dessa mancha que entristecia os corações de ilustres brasileiros, mas trouxe consequências que modificaram muito a vida econômica do País. Vejamos:
O Decreto da abolição assinado com pena de ouro pela Prince­sa Regente D. Isabel, dizia:
Artigo 1º. Fica extinta a escravidão no Brasil.
Artigo 2º. Revogam-se as disposições em contrário.
Daí se conclui que não se pensou nos problemas econômicos que adviriam para a Nação, como analisaremos a seguir:
a) os fazendeiros não foram indenizados da perda dos escra­vos, em cuja compra empregaram o seu capital.
Naquela época não havia transações bancárias como atual­mente, não existiam indústrias (exceto a açucareira), sendo toda economia baseada na agricultura escravocrata. Logo, os fazendeiros empregavam na compra de “peças” todo o capital.
Princesa Izabel
b) Também não foi olhado o problema dos ex-escravos que, passada a euforia da libertação, ficaram como aves soltas das gaiolas, sem saber como usar a liberdade.
c) Logo após a abolição o País sofreu um desastre econômico, ficando as messes no campo, sem ter quem as colhesse.
d) Outra consequência econômica foi o deslocamento da agricultura do nordeste para o sul do País. Até então, Per­nambuco era o maior centro agricultor e Sergipe também possuía muitos engenhos e fazendas. Com a abolição, a li­derança passou para São Paulo que começou a receber imi­grantes para cuidar de um novo produto que iria assumir a liderança da economia nacional até os nossos dias: o café.
Além dessas consequências de ordem econômica a abolição da escravatura trouxe também influências de ordem política.
Na época em que foi decretada a extinção do cativeiro, a úni­ca classe social que ainda apoiava a Monarquia era a dos fazendei­ros. Com a Questão Religiosa contra os bispos de Olinda e do Pará por causa da Maçonaria, o clero se tornou francamente republicano. Com a Questão Militar o Império perdeu o apoio do Exército. Após a Abolição, muitos senhores de engenho se puseram contra a Monar­quia. Alguns não. O escritor Luís Barbosa Rollemberg Madureira, por exemplo, era abolicionista, apesar de senhor de engenho. Prova­velmente fazia parte do grupo de Laranjeiras, pois escreveu em jornal da época, Um brado aos proprietários de escravos, em homenagem a José do Patrocínio.
Finalmente, analisemos as conseqüências de ordem social.
Com o deslocamento do centro agrícola do nordeste para o sul, São Paulo e posteriormente outros estados sulinos passaram a receber imigrantes. Primeiro os italianos que se dedicaram à cultura cafeeira, em São Paulo. Depois os alemães se estabeleceram em Santa Catari­na, onde criaram cidades, dedicando-se à indústria. Levas de italianos fixaram-se no Rio Grande do Sul onde plantaram vinhedos e se dedi­caram à indústria vinícola.
Estes estrangeiros influenciaram não só na vida econômica como também na sócio-cultural do Brasil.
Surgiu no sul um tipo brasileiro branco, completamente dife­renciado dos mestiços do norte e nordeste.
Novos vocábulos e pratos da culinária estrangeira foram intro­duzidos em nosso idioma e em nossa cozinha.
Do exposto concluímos que foram muitas e extraordinárias as consequências da abolição, e as econômicas, desfavoráveis ao desen­volvimento do País, naquela época. Mesmo assim, vale sentir como a Princesa Isabel: “melhor perder o trono que conservá-lo à custa do sangue de uma raça, arrancada à força, do solo da sua pátria”.
Deus te abençoe, querida Princesa Isabel, pela nobreza da tua ação, muitas vezes esquecida até mesmo pelos descendentes daqueles que por ti foram libertados.

Maria Lígia  Madureira Pina - do livro “A Relíquia – contos e crônicas”