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domingo, 7 de outubro de 2012

FRESTA, de Eduardo A. Conde Garcia


FRESTA... estreita abertura que permite a passagem de um foco de luz. Assim é FRESTA, de Eduardo Garcia: luminosidade que atravessa as páginas do seu livro e vai espargir a claridade, a nitidez dos seus poemas, na alma de quantos tenham sensibilidade para captar a beleza de suas mensagens, espelhadas nas águas do Atlântico ou no verde-jade do rio Sergipe:

Mergulhar por entre a fresta
quero.
Teto, prazer, fundo chão.
Redescobrir o mundo de água,
de ar,
de terra,
de fogo
e visitar todos os cantos do ser.

FRESTA... luz e musicalidade em todos os poemas de Eduardo Garcia, no seu jeito de ver e entender a natureza, a vida, nas águas do mar, no vôo dos pássaros e angustiar-se com o desequilíbrio econômico social que gera a miséria e transforma o ser humano em um farrapo, escória social, como lemos em Éolo, o vento que veio do vento e foi visitar Tupã nas areias brancas da barra de São Miguel, onde os dois debatem a injustiça social que assola tanto a África como o Brasil.
Também de cunho social é Verdade, poema minúsculo na quantidade de versos, porém grande na mensagem que transmite:
     
Oh! Grande maldade!
A lágrima
que desde menino
no faminto rosto escorre,
traz a limpidez da verdade.

Eduardo Garcia consegue a convivência harmoniosa do cientista e do poeta, dentro do seu Eu. E ele o consegue em grande estilo. E o que é mais raro e, portanto, mais notável: conserva o espírito de religiosidade, de fé, como demonstra em Descoberta:

No centro de tudo, de todas as viagens
de todos os passeios,
está Deus morando
e pacientemente esperando
que cansado de brincar com o Universo,
o homem recoste a cabeça no seu colo
e adormeça, suavemente.

Outros poemas em que externa o sentimento de fé cristã são: Espaço Solidão, Espaço Saudade, ao contemplar a Criação de Adão de Miguel Ângelo e Maria da Paixão, diante de La Pietà.

Fui passar uma tarde em companhia de outra fulgurante estrela da constelação de poetas sergipanos, levando Fresta; li para ela, todos os poemas. A professora Leyda Regis mostrou-se encantada, analisando e comentando cada um, quanto à criatividade, à beleza estrutural, e me disse com entusiasmo: “todos ótimos, nenhum se perde”. E no final da tarde, ao despedir-me, a erudita mestra assim se manifestou: “Muito obrigada, Lígia, muito obrigada por essa bela tarde eduardina”.

Continuarei lendo e relendo e compartilhando Fresta com os amigos amantes da poesia, esperando que dentro em breve Eduardo Garcia nos presenteie com outra série de poemas-luz, mensageiros de suavidade e beleza, como se vê em Vôo e até mesmo ao denunciar as angustiantes dores de parto que o mundo está vivendo.
Maria Lígia Madureira Pina
Julho de 1989


O AGRADECIMENTO: