Encantou-me o livro Sementear, do poeta, contista e artista José Sergival da Silva, membro do Movimento de Apoio da Academia Sergipana de Letras – MAC. Encantou-me pela simplicidade e sentimento com que sabe observar e apreciar a vida em seus variados aspectos. Encantou-me a sua maneira de ver, de falar sobre coisas da terra que ele ama, as lembranças vívidas da sua infância, as paisagens, o amor explodindo em tudo quanto escreve. Sergival, melhor contista ou melhor poeta? Sergival está entre os dois como um fiel de balança. Na poesia Mendigos retrata a dor da fome, da miséria que infelizmente assola o nosso povo: “Nas quitandas do mercado/ Nas noites de frio ou calor/ Dormem velhos e crianças/ Na Ponte do Imperador,/ onde reina a fome e a dor”.
Em Notícias do Nordeste canta o nosso cálido sertão, desde o Maranhão, Piauí, Ceará até as caatingas das Alagoas, Sergipe e Bahia, chamando atenção para as particularidades da terra, concitando os brasileiros a conhecê-la, antes de ir ao estrangeiro: “Por isso digo ao povo brasileiro / Antes de ir pro estrangeiro / Visitar outra nação / Venha pra cá conhecer o tal Nordeste / Companheiro se avexe / Valorize o nosso chão”.
E a delicadeza de lírios no poema Lâminas?Vejam como a brisa corta os galhos
Sinfonia de folhas
Mansidão
O fruto, a flor, o inseto,
De todo o verde alfabeto
Respiro, inspiro, inspiração
Vejam como a ave corta os ares
Bate asas de mansinho
Corta nuvens, rumo ao ninho
Traz no bico uma canção.
Ou enaltecendo a Mulher:
Tu és a luz dos sonhos...
És brisa que suave acaricia o rosto dos anjos...
E no final: banhada de suor
pelo trabalho de tuas mãos firmes
na conquista da liberdade
Dóceis – na conquista do homem amado.
E Atitude?
Hoje não quero passar embaixo das sombras
Nem tão pouco acreditar
que tudo está escrito.
Quero sim, expor meus olhos à luz
Para que ela reflita em meu espírito...
Em todas as poesias Sergival desenha imagens e joga com as cores da vida impregnando-nos de suas emoções. E os contos? Interessantes, plenos de vida, do sabor da terra, das árvores, da infância. Trovoada misto de prosa e poesia conta-nos o que significa para o sertanejo a trovoada... a chuva tamborilando no telhado, a fartura de água nos vasilhames, antes ressequidos.
Chuva no telhado
Ronco do trovão
E o vento açoitando
As folhagens do sertão.
Raio que corisca
Um som mais estridente
E a água escorrendo
No telhado reluzente.
Goteira na bacia
Que encanta a criançada
Transformando em sinfonia
Uma forte trovoada.
Em Contos de D. Umburana, Sergival dá voz às árvores que se encolhem apavoradas com a chegada do homem carregando seus apetrechos de destruição. Em Leitura Silenciosa, lá na colina de Santo Antônio ele conversa com seu amigo, o oitizeiro, dando-nos a impressão de estar falando com um colega. E lembrando, com saudade, a infância feliz em Nossa Senhora da Glória, fecha o livro com Viagem Lunar, sonhando com um grupo de colegas, transformando um velho carro abandonado em uma nave espacial rumo ao infinito.
Parabéns, Sergival por suas poesias e contos repletos de vida, de fantasia, de sonhos, de beleza e de amor. Simples, sem rebuscamento, capazes de serem entendidos até por quem não se liga em poesias.
Maria Lígia Madureira Pina